educação

Governo dá desconto de até 92% na dívida do Fies

MICHELLE PORTELA GABRIELA CHABALGOITY*
postado em 11/02/2022 00:01
 (crédito: Alan Santos/PR)
(crédito: Alan Santos/PR)

Com 51% dos contratos inadimplentes e somando mais de R$ 9 bilhões em prestações não pagas, o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino (Fies) oferecerá 92% de desconto ao devedor que estiver inscrito no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico). A medida foi anunciada, ontem, pelo presidente Jair Bolsonaro e, pelos cálculos do governo, aproximadamente um milhão de estudantes endividados terão a possibilidade de serem beneficiados.

O Cadastro Único e o Auxílio Emergencial têm, somados, em torno de 850 mil devedores. O saldo remanescente daquele que renegociar a dívida poderá ser parcelado em até 10 vezes, com mensalidades de até R$ 200.

A renegociação poderá ser feita pela Caixa e pelo Banco do Brasil, credenciados junto ao Fies. A negociação e pagamento da dívida será feito por meio de um aplicativo exclusivo. Segundo o Ministério da Educação (MEC), o prazo para acertar o pagamento da dívida e obter o desconto será aberto em 7 de março e vai até 31 de agosto. O maior abatimento é exatamente para os beneficiários do CadÚnico.

Simulações

Pela Caixa, a simulação da dívida poderá ser feita por meio da páginas http://sifesweb.caixa.gov.br. Já o pagamento será feito pelo aplicativo Caixa Tem. No caso do Banco do Brasil, o app começa a funcionar a partir do próximo dia 19.

Para Elizabeth Guedes, presidente da Associação Nacional das Universidades Particulares (ANUP), as novas medidas permitirão o saneamento do programa e um planejamento racional para a execução. "A implementação do pagamento restrito à renda (do devedor) permitirá que haja justiça social e possibilidade real de retorno dos recursos aplicados", explicou.

Elizabeth defende que a flexibilização das regras deveria atender à realidade dos estudantes que eram, também, trabalhadores e foram prejudicados durante a pandemia. Isso porque muitos perderam os empregos e, por isso, tiveram redução de renda própria ou sofreram isso no âmbito da família.

"Como estudar é condição para o progresso social, um programa de financiamento público deve propiciar acesso ao ensino superior à população financeiramente vulnerável. É uma medida justa e necessária, para que essas pessoas não iniciem a vida profissional com dívidas", defendeu.

O perdão da dívida do Fies ajuda a resolver o problema da inadimplência, mas não ataca a questão central: garantir oportunidades para os jovens se inserirem e permanecerem no mercado de trabalho. A crítica é da especialista em políticas públicas e ativista pela educação Tamires Fakih.

"O perdão da dívida deveria atingir todos os estudantes inadimplentes, não só aqueles que aderiram ao financiamento até o segundo semestre de 2017. Hoje, muitos jovens não estudam nem trabalham — e isso é muito grave. Para que o país possa se desenvolver, é preciso garantir igualdade de oportunidades", declarou.

Ajuda necessária

Jaqueline Clarindo, que conseguiu se graduar com a ajuda do Fies, garantiu que o programa foi essencial para chegar ao final do curso universitário. "Não trabalhava e meu pai não tinha condições de pagar o valor total do curso porque já pagava escola particular para a minha irmã. Consegui 75% de financiamento e o restante meus pais arcavam", explicou.

Desde 1999, o Fies possibilita que estudantes cursem o ensino superior com parte do valor das mensalidades financiado, até o limite de 92%. O restante é pago após a conclusão do curso escolhido. Cerca de 85% das vagas no ensino superior são oferecidas por instituições privadas, segundo o Fundo Nacional de Desenvolvimento Educacional (FNDE).

*Estagiária sob a supervisão de Fabio Grecchi

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