Em uma série de postagens publicadas, ontem, no Twitter, o presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, criticou a repercussão da morte de Moïse Kabagambe, assassinado a pauladas no último dia 24 por ter ido cobrar duas diárias (R$ 200) ao dono do quiosque Tropicália, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, onde trabalhava. Sem provas das acusações que fez ao congolês, Camargo afirmou que o jovem "andava com pessoas que não prestam" e, pior, o chamou de "vagabundo".
"Moïse andava e negociava com pessoas que não prestam. Em tese, foi um vagabundo morto por vagabundos mais fortes. A cor da pele nada teve a ver com o brutal assassinato. Foram determinantes o modo de vida indigno e o contexto de selvageria no qual vivia e transitava", publicou na rede social.
Para Camargo, a repercussão do assassinato — para ele, uma "briga de quadrilhas" — é um episódio que a "esquerda" está transformando em "crime racial". Ainda pela rede social, o presidente da Fundação Palmares comparou a morte do jovem congolês com a da policial militar Tatiana Regina Reis, de São Paulo.
"Há algo muito errado quando o assassinato de uma mulher negra, que dedicou sua vida à defesa da sociedade, é ignorada. Mas a morte de um negro envolvido com selvagens, que nada fez pelo país, gera protestos, matérias e narrativa de racismo", continuou.
Camargo também afirmou que "a esquerda exige que negros defendam bandidos quando são pretos também, pois no fundo nos vê a todos como bandidos". De acordo com o presidente da Palmares, a pele não é o obstáculo à prosperidade de nenhum negro. "Os reais problemas são outros e a mentalidade de vitimização piora tudo", disse, ignorando a realidade de desigualdade racial e social brasileira.
Homicídio qualificado
Moïse Kabagambe foi assassinado a pauladas por Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca (o Dezenove), Brendon Alexander Luz da Silva (o Totta) e Fábio Pirineus da Silva (o Belo), que inicialmente eram os únicos que apareciam nas imagens agredindo o congolês. Mas, nesta semana, com a divulgação da íntegra do vídeo de segurança do quiosque, outras duas pessoas foram identificadas na cena do crime — embora não participem do espancamento.
A prisão dos três homens que atacaram Moïse, que responderão por homicídio duplamente qualificado, foi decretada pela juíza do Plantão Judiciário, Isabel Teresa Pinto Coelho Diniz. O jovem recebeu pauladas e golpes de tacos de beisebol, além de ter sido amarrado e sufocado até a morte.
Camargo preside a Fundação Palmares — órgão do governo que tem como missão a promoção e preservação da cultura negra e afro-brasileira — desde 2020. Ele já foi protagonista de polêmicas por se autodeclarar o "terror dos afromimizentos" e proferir ofensas contra artistas negros.
Em 2020, Camargo baixou uma portaria excluindo vários nomes da lista de personalidades negras reconhecidas pela Palmares. Entre elas estavam a cantora Elza Soares, os cantores e compositores Gilberto Gil, Milton Nascimento e Martinho da Vila, e a deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ).
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