Funcionalismo público

Forças de segurança dão ultimato a Zema e querem 'solução' até sexta (25)

Após paralisação ser deflagrada, trabalhadores do setor prometem não arredar pé até salários serem recompostos com as perdas da inflação

Representantes das forças de segurança de Minas Gerais, que deflagraram paralisação no início desta semana, querem respostas do governo de Romeu Zema (Novo) a respeito do pleito por recomposição, aos salários mensais, das perdas causadas pela inflação. As lideranças planejam esperar eventual sinalização do Palácio Tiradentes até sexta-feira (25/2). Se isso não ocorrer, há quem fale em endurecer o movimento.

Segundo apurou a reportagem, sindicatos ainda não foram formalmente chamados para se reunir com representantes do Poder Executivo a fim de tentar uma solução. No governo, a ideia é fazer uma série de debates internos para encontrar saídas à crise.

"Se até o dia 25, o governo não trouxer uma solução concreta e apresentar à segurança pública, estamos traçando estratégias que serão mais incisivas e eficazes", disse, ao Estado de Minas, a escrivã da Polícia Civil Aline Risi. Ela é presidente da Associação dos Escrivães da Polícia Civil do Estado de Minas Gerais (Aespol-MG) e diretora da Confederação Brasileira de Trabalhadores Policiais Civis (Cobrapol).

Nas redes sociais, o discurso de Aline foi encampado pelo deputado estadual Sargento Rodrigues (PTB), outra voz dos manifestantes. O parlamentar afirmou que as eventuais novas estratégias não serão adiantadas em público.

Nesta terça-feira (23), entidades classistas e deputados ligados à causa da segurança fizeram uma conferência para conversar sobre a paralisação. Zema, por sua vez, foi ao Twitter garantir que estuda formas de recompor o valor do ordenado pago às tropas.

"Mesmo diante das dificuldades nas contas do Governo do Estado, estamos avaliando condições para efetuar a recomposição salarial dos servidores públicos de Minas. Tenho o compromisso de encontrar soluções, que em breve serão anunciadas", escreveu.

Ontem, o secretário de Estado de Justiça e Segurança Pública, Rogério Greco, se reuniu com Zema e outros integrantes do governo para debater o impasse. As chefias da Polícia Civil, do Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar também marcaram presença.

Ao fim do encontro, Greco garantiu, em vídeo, a elaboração do que chamou de "agendas prioritárias", para a resolução do embate, mas assim, como Zema, não detalhou o planejamento. O EM chegou a questioná-lo sobre os termos da dita agenda, mas o secretário disse não poder adiantá-los. Ele negou que a gravação tenha sido feita para tentar cessar o movimento.

"O estado está prestes a entrar em um colapso da segurança pública. Por isso, eles estão preocupados em ter que dar uma solução para a gente", afirmou Aline Risi.

No fim da tarde desta terça, entidades ligadas aos oficiais do Corpo de Bombeiros e da PM divulgaram cartilha de estrita legalidade, com orientações aos oficiais sobre a postura ante o movimento. Oficialmente, por causa de amarras impostas pela Constituição Federal e pelo Supremo Tribunal Federal (STF), os militares não tratam o movimento como greve.

"Isso não é greve. Não é incitação à indisciplina. É um grito de socorro, um grito para estabelecimento de diálogo com o Governo", lê-se em trecho do documento, confeccionado por entidades como a Associação dos Praças Policiais e Bombeiros Militares de Minas Gerais (Aspra-MG).

Projeto para resgatar acordo de 2019 é a meta

As lideranças do motim querem o envio, à Assembleia Legislativa, de um Projeto de Lei (PL) que garanta a recomposição salarial. Em 2019, Zema assinou acordo que dividia o pagamento das perdas inflacionárias em três parcelas: a ideia era repor 13% em julho de 2020; em setembro de 2021, seriam acrescidos mais 12%; em setembro deste ano, viria a etapa final, com outros 12%.

Em que pese o trato, alegando inconstitucionalidade, Zema vetou o segundo e o terceiro reajustes. Apenas a primeira fatia, de 13%, entrou na conta dos agentes. O projeto que tratava do tema foi o mesmo a receber emenda estendendo a reposição salarial a todos os servidores. Quando barrou o aumento geral, o governador também retirou do texto as parcelas prometidas às polícias para 2021 e 2022.

Aline Risi ressaltou que não se trata de um aumento real dos vencimentos dos agentes. "[A recomposição salarial] é um dever do estado, uma vez que, como servidor público, não temos nenhum outro tipo de direito como os trabalhadores da iniciativa privada".

Antes de o governador usar as redes para falar que tenta encontrar soluções, a equipe de Zema se amparou publicamente na adesão de Minas Gerais ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF) para reposicionar os salários.

O plano, proposto pela União aos estados com problemas no fluxo de caixa, tem contrapartidas que receiam servidores. Há temor por congelamento de salários e desinvestimentos em políticas públicas - por isso, o RRF é repudiado, inclusive, pelos trabalhadores em greve.

Sargento Rodrigues afirmou que conversa constantemente com o colega Agostinho Patrus (PV), presidente da Assembleia, para tentar acelerar a tramitação da recomposição caso texto sobre o assunto chegue, mesmo, ao Parlamento. "O projeto de lei vai passar por aqui. Recusar o regime, também", projetou.

A meta é utilizar a Recuperação Fiscal para renegociar a dívida do estado junto à União, que beira os R$ 140 bilhões. Até o momento, no entanto, há resistência de deputados estaduais ao tema. Por isso, o governo não conseguiu encaixar o ingresso no programa de ajuste financeiro na pauta de votações da Assembleia.

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