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Aglomerações no carnaval deixar o terreno fértil para espalhar a covid-19

Folias reuniram milhares de pessoas no último final de semana e podem levar ao aumento dos casos de coronavírus no país

Gabriela Bernardes*
postado em 01/03/2022 06:00
 (crédito: Jorge Hely/Estadão Conteúdo)
(crédito: Jorge Hely/Estadão Conteúdo)

Há apenas três semanas, o Brasil registrava um recorde assombroso: 1.041 mortes por covid-19 e 298.408 novos casos diagnosticados em apenas 24 horas. Diversos estados passaram a retomar ou adotar novas medidas de restrição para aglomerações diante do aumento dos casos. No último final de semana, porém, o que se viu pelas ruas não condizia com a situação da pandemia: em todo o país, os badalados desfiles das escolas de samba e até mesmo os bloquinhos de rua reuniram milhares de pessoas.

No Rio de Janeiro, mesmo proibidos pela prefeitura, vários blocos tomaram as ruas da capital fluminense. Milhares de pessoas se reuniram para desfilar na Região Central e na Zona Portuária da cidade. Em nota, a fiscalização municipal afirmou que ao menos oito blocos foram interrompidos no final de semana.

Em Salvador — outra cidade reconhecida por suas comemorações nesta data —, a suspensão do carnaval de rua não foi suficiente para deixar parte dos foliões em casa. Já na capital de São Paulo, as escolas de samba paulistanas fecharam ruas para ensaiarem e desfilarem mesmo sem autorização. Os desfiles foram adiados pela prefeitura do município, por causa do avanço da variante ômicron.

Para o médico Renato Kalil, professor titular da Universidade de São Paulo (USP) e diretor do InCor e do Hospital Sírio Libanês, o cenário epidemiológico mostrava que não era o momento para esse tipo de comemoração. "É uma temeridade imaginar que pudéssemos ter festas e aglomerações diante de um quadro que ainda exige a observância ao distanciamento e o uso de máscara, inclusive para evitar a disseminação da variante ômicron", disse.

"Mesmo com o avanço da vacinação entre nós, é preciso lembrar que a pandemia é mundial e atravessa fronteiras. Temos hoje a variante ômicron, que chama atenção por sua alta capacidade de mutação. Os vírus são agentes que podem ser altamente mutagênicos, ou seja, têm a capacidade de sofrer modificações em sua estrutura para enganar o sistema de defesa da pessoa infectada", explicou. "O Brasil não tem condições de passar por mais uma onda de mortes, internações e miséria", completou o médico.

Fiscalização

Visando inibir as aglomerações diante do avanço da ômicron, muitos governos e autoridades municipais decidiram adotar uma série de medidas e calendários diferenciados no período festivo. Atravessando a região Nordeste, Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará, Paraíba, Sergipe e Piauí suspenderam o ponto facultativo e recomendaram jornadas de trabalho normais a fim de evitar badalações e exposições aos riscos das aglomerações.

As restrições, no entanto, não impediram os foliões de se reunirem, e as autoridades reforçaram a fiscalização. No Distrito Federal, a preocupação fez com que o governo anunciasse uma força-tarefa para impedir as festas. Na última sexta-feira, primeiro dia de ação, a equipe fiscalizou 148 estabelecimentos, interditou nove e multou 11 por desrespeito aos protocolos. No sábado, foram 25 interdições e 63 multas. "Medidas como estas contribuem significativamente para que não se repita o que aconteceu nas festas de final de ano, quando o país enfrentou um novo surto de covid juntamente com uma explosão de casos de gripe, pressionando consideravelmente as redes pública e privada de saúde", destacou a médica infectologista do Grupo Sabin Luciana Campos.

Em Salvador, onde acontece um dos maiores carnavais do país, a fiscalização começou na quarta-feira passada. De acordo com dados da prefeitura, entre 23 e 27 de fevereiro, foram feitas quase 2.500 vistorias. A prefeitura da capital baiana colocou equipes nas ruas da cidade para evitar aglomerações durante o carnaval.

Com mais de 72% da população completamente vacinada, segundo o Ministério da Saúde, o Brasil atingiu a marca de 380 milhões de vacinas aplicadas. Além disso, até agora, mais de 50 milhões de pessoas tomaram a dose de reforço. "A boa cobertura vacinal se refletiu em um reduzido número de internações, em meio a uma explosão de casos. Hoje, sabemos que a vacina é a melhor escolha para nos protegermos e proteger também as pessoas que amamos", afirma a médica.

A especialista também observa a importância da testagem da população para controle epidemiológico e manejo de pacientes. "A partir da testagem, obtemos um panorama melhor do comportamento da pandemia, possibilitando intervenções mais assertivas. Se há uma incidência elevada da doença, há a alta demanda de exames laboratoriais para o diagnóstico da covid-19 e, consequentemente, uma preocupação com a quantidade de insumos para a realização desses exames. Fatores como estes nos mostram que é fundamental que todos se vacinem e, se possível, evitem aglomerações até mesmo nas celebrações como o carnaval", concluiu.

 

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