Abastecimento

Quase 35 milhões não têm acesso a água

Mesmo tendo em seu território 12% da disponibilidade de água doce no mundo, o Brasil continua longe de poder comemorar o Dia Mundial da Água, celebrado ontem. É o que apontam dados da 14ª edição do Ranking do Saneamento, elaborado pelo Instituto Trata Brasil, em parceria com a GO Associados. Segundo o levantamento, realizado com os 100 municípios mais populosos, quase 35 milhões de pessoas não têm acesso à água tratada. Além disso, cerca de 100 milhões de cidadãos não têm acesso à coleta de esgoto.

Entre as 20 melhores cidades que garantem acesso à água e à coleta de esgoto, predominam cidades do Paraná, de São Paulo e de Minas Gerais. No pódio, estão Santos (SP), em 1º lugar; Uberlândia (MG), em 2º; e São José dos Pinhais (PR), em 3º. Brasília ficou em 15º lugar no ranking do instituto

No extremo oposto, quando se observa os 20 piores municípios, predominam cidades das regiões Norte e Nordeste e do estado do Rio de Janeiro. Os três piores municípios do ranking são Santarém (PA), Porto Velho (RO) e Macapá (AP). Os três são destaques negativos no acesso à água potável, sendo que Porto Velho é o que tem a menor porcentagem da população (32,87%) com acesso ao serviço.

Para a presidente-executiva do Instituto Trata Brasil, Luana Siewert Pretto, a edição de 2022 do Ranking do Saneamento alertou para a estagnação dos municípios que sempre estão nas piores posições. "O que assusta é que essas cidades, mais uma vez, são da Região Norte, onde o acesso ao saneamento ainda é mais deficitário do que em outras regiões. Há capitais que estão trabalhando nos últimos anos para saírem dessa posição, mas não é a regra, é a exceção", lamentou.

Luana também aponta a necessidade de se olhar com atenção para os indicadores de perda de água, que tiveram retrocesso de 2019 para 2020. "Em termos de perda, em 2019 eram 35,66% por ano e, em 2020, foi para 36,22%. Temos grandes desafios a serem superados, que vão desde desafios de perda de faturamento, como os "gatos", até a redução de perdas físicas, como vazamentos", observou.

Má distribuição

Marussia Whately, diretora do Instituto Água e Saneamento, explica que, apesar de ter grande parte da água doce do planeta, além de importantes reservas subterrâneas, o Brasil não distribui essa água de forma homogênea. "É sempre importante lembrar que é um país de proporções continentais e essa água não é distribuída de forma homogênea no território. Essa é uma das primeiras questões para entender a situação de estresse hídrico e de potencial falta em algumas localidades", explicou.

Ela lembra que a escassez nem sempre tem a ver só com quantidade, mas com qualidade. "É o caso da Região Metropolitana de São Paulo, que tem uma reserva de água que em grande parte não pode ser usada para o abastecimento porque não tem qualidade. Um dos grandes fatores que ameaçam a água no Brasil é a poluição", alertou. (MEC com Maria Eduarda Angeli, estagiária sob a supervisão de Fabio Grecchi)