Foi divulgado um relatório que mostra a violência nas terras ianomâmis. A publicação desse levantamento pode ajudar a proteger seu povo?
O relatório mostra a realidade e sofrimento do ianomâmi. Os garimpeiros aliciando jovens, forçando fazer casamento com adolescente de 13 a 17 anos. O governo federal tem conhecimento disso, mas está sendo omisso. As autoridades já pediram para o governo tirar os garimpeiros das nossas terras, mas, até agora, não mostrou tal preocupação. Ano passado, ele (o presidente Jair Bolsonaro) até disse que iria visitar os garimpeiros que estão lá.
O governo estadual faz algo para impedir essa invasão?
O governo de Roraima apoia o garimpo, políticos dão força também. Fizeram até uma lei que autoriza a exploração na terra ianomâmi porque seria "artesanal".
E os órgãos federais?
Os órgãos que protegem a floresta não estão conseguindo trabalhar, não têm mais autonomia. As autoridades de fiscalização — Ibama e Funai — não protegem o indígena. Nenhum atua mais para preservar a floresta.
Como age esse garimpeiro? Ele entra armado?
Eles não entram nas comunidades com pá e enxada, mas com armamento pesado e ameaçando os povos indígenas. Quem não apoiar, eles ameaçam as lideranças tradicionais, as mulheres. O indígena fica refém. Eles estão dando armas para o ianomâmi entrar em conflito com outras comunidades que não apoiam (os exploradores). A comunidade Tirei recebeu 80 armas dos garimpeiros, foram em outra comunidade, Pixanehabi, e atacaram. Mataram dois e cinco estão feridos.
Mas os indígenas aceitam
as armas?
São obrigados a aceitar. Eu recebo ameaças todos os dias, o tempo inteiro.
Os ianomâmis isolados são os que mais sofrem?
Os garimpeiros estão a aproximadamente 10km de onde estão os isolados, os moxihatëtë. A gente já recebeu relatos de que os garimpeiros mataram quatro pessoas recentemente. O governo está vendo e não faz nada.
Você é o único ianomâmi aqui. O que isso representa para seu povo?
Estou aqui clamando por eles. Quero mostrar o sofrimento do ianomâmi. Mas, como moramos dentro da floresta, ninguém está ouvindo o que tenho para mostrar.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.