Uma pesquisa inédita que avalia os impactos negativos da pandemia da covid-19 na saúde da população brasileira revelou que, entre o período anterior à crise sanitária e o primeiro trimestre de 2022, houve elevação de 91,8% na percepção negativa dos cidadãos sobre a própria saúde. O resultado está ligado a outros pontos expostos pelo estudo, como a queda do consumo de legumes e verduras e da prática de atividade física e o aumento do diagnóstico de depressão.
Os dados são do Covitel — Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas Não Transmissíveis em Tempos de Pandemia —, que entrevistou por telefone nove mil brasileiros, de capitais e cidades do interior das cinco regiões do Brasil.
A assessora técnica de saúde pública e epidemiologia da Vital Strategies e uma das coordenadoras do estudo, Luciana Vasconcelos, comentou o resultado do levantamento. "Essa agenda de doenças crônicas não transmissíveis foi parada. Ela já não vinha tendo muita atenção das políticas públicas, e alguns fatores de risco, como atividade física e a questão da alimentação, já não estavam tão bons antes. Agora, deu uma parada. Há mais pessoas sedentárias e menos pessoas tendo uma alimentação saudável", frisou.
Enquanto o consumo de legumes e verduras caiu 12,5% no período avaliado, a proporção de pessoas que praticam atividade física conforme recomenda a Organização Mundial da Saúde (OMS) baixou 21,4%. A parcela de pessoas que se consideram fisicamente ativas passou de 38,6% para 30,3%.
Os que mais reduziram a prática de atividades físicas nesse período foram os brasileiros que perderam o emprego (39%), os que têm mais de 65 anos (32,7%), aqueles de menor escolaridade (30%) e mulheres (27%).
Quem mais sofreu com as mudanças dos hábitos alimentares, no entanto, foram os menos escolarizados, pretos e pardos e os que perderam o emprego. "O resumo de tudo que a gente observou é que a pandemia acirrou ainda mais as desigualdades. Sempre Norte e Nordeste estão em piores situações do que Sul e Sudeste", avaliou Luciana Vasconcelos.
Por isso, na avaliação dela, a solução é adotar políticas públicas diferentes para os diversos grupos. "Não é com a mesma política pública que você consegue alcançar todo mundo", ponderou. Os dados da pesquisa devem ajudar na tomada de decisões e na proposta de ações.
Outro ponto de alerta da pesquisa foi em relação à saúde mental. Entre o primeiro trimestre de 2020 e o mesmo período de 2022 foi registrado um aumento de 41% de casos de depressão. Antes da pandemia, 9,6% dos brasileiros entrevistados haviam sido diagnosticados com a doença. No primeiro trimestre deste ano atingiu 13,5%.
Na opinião de Luciana Vasconcelos, o aumento pode ter sido ainda maior, já que existe uma parcela da sociedade que não tem acesso aos serviços de saúde mental. "A saúde mental tem de ser considerada como um fator de risco para as doenças crônicas não transmissíveis", destacou.
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