Carnaval

E o 'normal' na Sapucaí: vários problemas e muitos gritos de 'é campeã'

A primeira escola a desfilar foi a Imperatriz, que homenageou Arlindo Rodrigues (1931-1987), cenógrafo, figurinista e carnavalesco responsável pelos dois primeiros títulos da Imperatriz, em 1980 e 1981

É abril, mas a Marquês de Sapucaí teve entre a noite de sexta-feira e a madrugada do sábado tudo que todo desfile em fevereiro ou março tem: escola de samba que deu show e está credenciada a disputar o título, como Imperatriz, Mangueira, Viradouro e Beija-Flor; escola que precisou correr para não estourar o tempo-limite de desfile (o que causa perda de pontos), como o Salgueiro; carro alegórico com dificuldade para entrar na avenida (São Clemente); festa permanente no setor 1, o mais popular e localizado em frente à concentração das escolas; gente que pagou quase R$ 2 mil por um ingresso de camarote e se julgou no direito de invadir a pista no meio dos desfiles. E teve ainda gente aparentemente embriagada brigando com segurança. O carnaval voltou.

A primeira escola a desfilar foi a Imperatriz, que homenageou Arlindo Rodrigues (1931-1987), cenógrafo, figurinista e carnavalesco responsável pelos dois primeiros títulos da Imperatriz, em 1980 e 1981.

O enredo coube à carnavalesca Rosa Magalhães, subordinada a Rodrigues quando começou a carreira no universo do samba, como figurinista do Salgueiro, em 1971.

Antes de chegar à Imperatriz, Rodrigues fez desfiles memoráveis pelo Salgueiro, onde foi cinco vezes campeão (1960, 1963, 1965, 1969 e 1971), e pela Mocidade Independente, onde ganhou a disputa em 1979. Por isso, o enredo da Imperatriz foi uma revisita aos cortejos históricos, retratados em muitas alas e mesmo em carros alegóricos, todos muito luxuosos.

Ao final, a escola exaltou os dois títulos conquistados pelo homenageado na própria Imperatriz. Rebaixada em 2019 e vencedora da segunda divisão em 2020, a Imperatriz terminou o desfile deste ano aos gritos de "é campeã!".

A segunda escola a desfilar foi a Mangueira, que homenageou três ícones "da casa": o compositor e fundador Cartola (1908-1980), o intérprete Jamelão (1913-2008) e o mestre-sala Delegado (1921-2012).

Reconhecido pelos enredos de cunho social, o carnavalesco Leandro Vieira desta vez caprichou nos tons verde e rosa, predominantes em praticamente todas as alas.

Como a Imperatriz, a Mangueira exibiu fantasias e carros alegóricos luxuosos e com acabamento refinado. Uma das alegorias de destaque retratava Delegado como um dançarino de caixinha de música, com um mecanismo de dar corda grudado às costas.

Mas a escola levou um susto quando Marquinho Art'Samba, o intérprete, passou mal e, aparentando estar sem ar, precisou se sentar e ser atendido pelos bombeiros.

O problema ocorreu ainda na primeira metade do desfile, mas Marquinho atravessou a avenida sentado numa cadeira, no carro de som que segue a bateria.

Dificuldades

O Salgueiro foi a terceira agremiação a desfilar, com enredo Resistência, que retratou locais do Rio que se tornaram símbolos do povo negro, como a Pequena África e a Praça XI, palco dos primeiros desfiles. A partir dessa ideia, a escola mostrou a importância histórica dos negros e do combate ao racismo.

A quarta a se exibir foi a São Clemente, que homenageou o ator, autor e humorista Paulo Gustavo, morto em 2021 por covid-19.

Embora tenha emocionado o público (a mãe dele estava na comissão de frente), a escola também teve problemas na evolução, por causa da quebra de um carro alegórico.

Na sequência, entrou a Unidos do Viradouro, de Niterói (grupo da região metropolitana do Rio), atual campeã carioca.

A escola reviveu o carnaval de 1919, o primeiro após a pandemia de gripe espanhola, e se credenciou a mais um título.

O samba tratava sobre uma fictícia carta de amor enviada por um pierrô a uma colombina, datada da Quarta-Feira de cinzas de 1919, e seu refrão empolgou o público.

Fim em alto nível

O mesmo pode ser dito pela Beija-Flor, que encerrou a primeira noite. Sempre vistosa e bem organizada, a agremiação exaltou os negros, que classificou como "escondidos pela história", por causa do preconceito de cor. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.