Como se a pandemia de covid-19 não fosse suficiente, outra ameaça ronda o Brasil: a volta da poliomielite. A doença foi oficialmente eliminada do país em 1989. Porém, a cobertura vacinal contra a virose vem caindo expressivamente desde 2015. Em 2021, apenas 67,8% das crianças foram imunizadas, segundo o Ministério da Saúde. A porcentagem ideal é de 95%.
Entre 1968 e 1989, foram 26 mil casos na população infantil. A vacina contra a pólio começou a ser aplicada no Brasil em 1961, mas teve pouca adesão. A partir de 1980, o governo federal iniciou as campanhas do Dia Nacional da Vacinação, com a premissa de imunizar todas as crianças de até 5 anos de idade do país em um único dia. Em três anos, a incidência do vírus se aproximou de zero.
"Sem dúvida, um dos riscos que a gente corre, baixando as coberturas vacinais, é a reintrodução de doenças já controladas. A polio, que no passado vitimava muitas crianças, matava, deixava com sequelas, corre o risco de voltar. Israel já está com oito casos. Malawi registrou um caso, na África, que não tinha nenhum desde 1992. Moçambique também teve mais um caso", aponta o presidente do Departamento Científico de Imunizações da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), Renato Kfouri.
A diretora da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), Mônica Levi, avalia que a queda na cobertura vem principalmente pela perda de percepção por parte dos pais da importância da imunização. "Os pais perderam o medo das doenças. As vacinas eliminaram tão bem doenças que antes eram comuns, que eles não estão vendo as consequências delas."
"Também a hesitação. A gente está vivendo um momento de fake news, desinformação disseminada, que é pulverizada muito mais rápido do que as informações verdadeiras sobre as vacinas. Os pais estão mais preocupados com os efeitos colaterais da imunização do que com a proteção contra as doenças. Os efeitos nem se comparam com os riscos da doença e das complicações dela", alerta Levi.
As campanhas educativas, então, são a melhor alternativa. Segundo a diretora, o Brasil era líder em vacinação porque tinha uma comunicação clara e frequente a respeito do assunto. "É inadmissível que você tenha mortes por doenças que são imunopreveníveis em termos de saúde pública e individual", completa. (*Estagiária sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza)
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