Sociedade

IBGE desbrava orientação sexual

No primeiro estudo realizado pelo instituto sobre o tema, 2,9 milhões de brasileiros se declararam homossexuais ou bissexuais. Em termos proporcionais, o DF registrou a maior população gay do país

MARIA EDUARDA ANGELI* Helena Dornelas*
postado em 26/05/2022 00:01
 (crédito:  Carlos Vieira/CB)
(crédito: Carlos Vieira/CB)

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, ontem, levantamento inédito sobre orientação sexual no Brasil. Em 2019, os brasileiros que se autodeclararam homossexuais ou bissexuais totalizam cerca de 2,9 milhões, o que representa 1,8% da população do país. A maioria dos declarantes dessa orientação sexual é formada por jovens de 18 a 29 anos (4,8%) e concentrada entre os que têm maior renda e ensino superior (3,2% e 3,5%).

Segundo o estudo do IBGE, o Distrito Federal tem a maior proporção de pessoas maiores de 18 anos que se declaram homossexuais ou bissexuais no Brasil. Na capital federal, o IBGE identificou 66 mil pessoas, o que representa 2,9% da população adulta no DF. 

Esse percentual pode ser ainda maior. Em 2021, a Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) ouviu moradores de 33 Regiões Administrativas (RAs) do DF. Os dados mostraram que cerca de 3,8% da população de mais de 3 milhões de habitantes do Distrito Federal se identifica como parte da comunidade LGBTQIA , o equivalente a 114,4 mil pessoas. Esse número é expressivamente maior do que o identificado pela pesquisa do IBGE.

A pesquisa da Codeplan mostrou, ainda, que a maioria das pessoas do grupo citado mora em regiões consideradas de alta renda, enquanto que cerca de 3,3% moram em locais de baixa renda.

No levantamento do IBGE, 94,8% da população do país acima dos 18 anos se autodeclarou heterossexual, 0,7% bissexual, 1,2% homossexual e 3,4% não sabiam ou não quiseram informar. O estudo revelou, ainda, que 1,7 milhão de pessoas (2,1%) não sabiam definir a orientação sexual e 3,6 milhões (3,4%) preferiram não responder sua orientação. Vale mencionar que o respondente era selecionado aleatoriamente, entre os moradores do domicílio.

A parcela de brasileiros homossexuais ou bissexuais é significativamente mais expressiva na área urbana (2%) do que na área rural (0,8%). Entre os homossexuais, homens ficam na liderança, representando 56,9% do total de 1,8 milhão de indivíduos com essa orientação. As mulheres foram maioria entre os bissexuais, sendo 65,6% do total de 1,1 milhão.

Subnotificação

De acordo com o IBGE, o índice de lésbicas, gays e bissexuais registrado na pesquisa pode ser maior. O instituto aponta que um importante fator para a subnotificação é o medo dos entrevistados de sofrer preconceito. Mesmo assim, há um consenso de que o estudo constitui um avanço social. "Esses resultados representam um importante primeiro passo para dar visibilidade estatística para essa população em âmbito nacional no Brasil", comentou Maria Lúcia Vieira, coordenadora da pesquisa.

Elvis Justino Souza, representante político da Rede Família Stronger, também avalia que os dados são subnotificados. "Porém, pela primeira vez o Estado brasileiro divulgou números oficiais sobre a comunidade LGBT. Mesmo subnotificados, podemos ter políticas mais assertivas para essa parte da população. Esses dados mostram algo que esta sendo bem perceptível: o quanto a juventude está saindo da caixinha heteronormativa", afirma.

Para a mestre em Direitos Fundamentais e Democracia Diana Geara, a pesquisa deveria ser feita em sigilo, garantindo segurança aos entrevistados. "Somente com a compreensão destes números poderemos pensar de forma mais adequada em políticas públicas de inclusão e combate à LGBTfobia", argumenta.

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