Minas Gerais

Mãe de jovem que morreu após cirurgia plástica desabafa: 'Não aceitamos'

Patrícia Moraes deu a versão da família sobre as intervenções cirúrgicas em sua filha, Júlia, que acabou falecendo após complicações em uma clínica de BH

No dia 23 de abril, a família de Júlia Moraes Ferro, de 29 anos, anunciou seu falecimento após complicações durante uma cirurgia plástica. Natural de João Monlevade, a jovem havia se submetido a intervenções estéticas de lipoaspiração e implantação de próteses de silicone em uma clínica particular de Belo Horizonte.

Agora, após um tempo de reclusão e silêncio, Patrícia Carneiro de Moraes, mãe de Júlia, decidiu contar o que aconteceu. Ela recebeu o portal DeFato e revelou novas informações sobre o caso. Na entrevista exclusiva, realizada na última quinta-feira (5), ela falou sobre a perda da filha e busca por justiça. “Eu quero esclarecer esse caso! Eu não vou me calar!”.

Patrícia também lembrou a convivência com a filha e a amizade entre elas, narrou o que aconteceu no dia da cirurgia e depois, e desmentiu as declarações feitas pelo médico e pela clínica. Confira alguns destaques do depoimento:

Sonho de adolescente

Demonstrando-se forte depois da perda da filha, Patrícia contou que o sonho de Júlia, desde jovem, era colocar próteses de silicone nos seios. Segundo a mãe, ela estava muito animada com essa oportunidade.

“Uma das realizações pessoais da minha filha era fazer essa cirurgia estética. Júlia sempre foi muito vaidosa, gostava de cuidar de si e da beleza dela. Desde adolescente já falava comigo que queria colocar silicone. Agora, com independência financeira, era o momento oportuno para ela”, ressalta.

Júlia programou as férias dela para fazer o procedimento. Ela era saudável e passou, com êxito, por todos os exames pré-operatórios necessários. O valor cobrado pela clínica de cirurgia plástica foi de R$ 22 mil. Patrícia também disse que uma lipoaspiração foi incluída no procedimento.

“Se eu soubesse da lipo eu não tinha aprovado, acho muito perigoso. Ela não tinha gordura quase nenhuma, era esbelta, não precisava daquilo. Eu não sabia disso, em nenhum momento me contou. Acredito inclusive que pode ter sido uma proposta de última hora feita pela clínica para que ela fizesse a lipo. Júlia sempre me conta tudo, não havia porque esconder a lipo”.

Dia do procedimento

A mãe relatou que foram cerca de 6 horas de cirurgia na clínica de estética. E que, logo após, Júlia precisou ser conduzida com urgência para o Centro de Terapia Intensiva (CTI) do hospital Mater Dei. No local, a paciente ficou internada até o dia 13 de abril, quando foi transferida para o hospital da Unimed, por decisão da família, onde tinha plano de saúde.

“Os médicos me falaram que o quadro dela era irreversível. Me falaram que, se ela sobrevivesse, iria vegetar. (...) No dia 23 de abril, Júlia teve morte encefálica após uma parada cardiorrespiratória. Eu acredito que ela possa ter morrido na mesa de cirurgia da clínica de estética. É isso que tira a nossa paz, eu quero e vou esclarecer tudo. Uma jovem que entra saudável e sai morta? Não aceitamos”, desabafa a mãe.

Controvérsias

Segundo Patrícia, Júlia deu entrada na clínica acompanhada de uma tia que foi impedida de ficar no local. De acordo com ela, a equipe médica disse que Júlia não queria que a acompanhante entrasse no quarto para não vê-la com os machucados da cirurgia. A mãe contestou. "É mentira! Eu conheço a minha filha e ela jamais ia impedir que a tia entrasse", ressalta.

Em nota oficial, a advogada da clínica disse que "(...) como já é da nossa rotina de cuidados, esclarecemos que toda assistência à Julia foi prestada, tanto nos momentos pré e pós-operatórios, quanto no decorrer do procedimento".

Patrícia rebateu a informação e garantiu que nenhuma assistência foi prestada à família em momento algum.

“Eu desminto ele [o médico] na mídia. Ele não me procurou, não procurou o pai da Júlia. Ele ia lá no hospital para falar que estava fazendo o papel dele, mas não arcou com nada. A despesa de R$ 100 mil está lá para pagar. A gente conseguiu pagar uma parte, de R$ 56 mil. Ele nem sequer perguntou se precisava de ajuda, nem ofereceu para pagar. E falou que deu assistência para a família. Isso é mentira! (...) Eu nunca encontrei com ele no hospital. Eu conheci ele por foto que me mandaram. Ele tinha a obrigação de me dar uma satisfação. Ele pegou minha filha saudável e me entregou do jeito que foi...”.

Doação de órgãos

A decisão da família foi doar os órgãos de Júlia. Como ela era muito saudável, foi possível doar todos os órgãos. Segundo a mãe, meses atrás elas tinham tido uma conversa relacionada ao assunto.

“Júlia, que nunca ficou doente, conversou comigo sobre o que ela gostaria que eu fizesse quando ela partisse. Ela disse que não queria velório, não queria ficar numa cama de hospital e gostaria que eu doasse todos os seus órgãos”.

Patrícia explicou que os seus órgãos doados salvaram muitas e muitas vidas. “O coração lindo dela já bate em outra pessoa. Eu tenho imensa vontade de conhecer as pessoas que receberam os órgãos dela. Inclusive, é uma iniciativa que merece ser divulgada para que mais pessoas possam ter também essa sensibilidade e salvar vidas”.

Notas oficiais

A equipe da DeFato entrou em contato com a Unimed para saber sobre os procedimentos realizados durante a internação de Júlia, e recebemos a seguinte nota:

“A Unimed-BH informa que a paciente veio transferida de outra Unidade Hospitalar, que não faz parte da rede Unimed. Desde a sua entrada no Hospital, recebeu todo o acompanhamento e estrutura necessários de acordo com o seu estado de saúde. A cooperativa esclarece ainda que, por questão de preservação e sigilo médico, não divulga informações sobre o quadro clínico nem a causa da morte dos seus pacientes”.

O hospital Mater Dei também foi procurado e questionado sobre os processos que a paciente foi submetida de forma urgente e respondeu à nossa equipe que “Infelizmente não falamos sobre os pacientes”.

Já a clínica responsável pela cirurgia plástica realizada em Júlia divulgou uma nota oficial no Instagram, por meio da advogada Bárbara Abreu.

"A Clínica se solidariza com os familiares de Júlia Moraes Ferro e somos a principal interessada no esclarecimento de todos os fatos. A vida e bem-estar das nossas pacientes é prioridade e jamais estivemos diante de tamanha fatalidade.

Em casos como este, a parte médica fica em posição de extrema vulnerabilidade para demonstrar publicamente a verdade, tendo em vista que para comprovar a correta conduta seria necessário publicar dados, fornecer prontuário e exames da paciente, o que somos vedados em razão do sigilo médico.

Como já é da nossa rotina de cuidados, esclarecemos que toda assistência à Julia foi prestada, tanto nos momentos pré e pós-operatórios, quanto no decorrer do procedimento. Júlia apresentou exames que comprovaram plenas condições para a realização da cirurgia e foi informada quanto aos riscos que todo procedimento médico invasivo apresenta.

Durante e após a cirurgia, a paciente foi o tempo todo assistida pela equipe médica composta, inclusive, por médica anestesista que esteve integralmente ao lado da paciente. O prontuário de Júlia foi entregue imediatamente no ato da solicitação feito pela família.

O cirurgião responsável pelo procedimento é habilitado, tendo cumprido todas as etapas de formação e possui Registro junto ao Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais (CRM MG) e título de especialista em Cirurgia Plástica.

Até o momento, não há nenhum indício de má conduta médica.

Aguardamos a conclusão do laudo necropicial do Instituto Médico Legal para novos posicionamentos. A Clínica e seus profissionais continuam à inteira disposição para maiores esclarecimentos.

Belo Horizonte, 28 de abril de 2022.

Bárbara Abreu

Advogada da clínica