Pandemia

Covid-19 acende novo alerta nas escolas

Instituições de ensino em ao menos três estados voltam a adotar modelo remoto e reforçam o uso de máscara após o aparecimento de casos. Maior procura por autotestes não se reflete nos dados oficiais

Depois de um respiro com o afrouxamento das restrições sanitárias, o Brasil tem apresentado nova alta de casos de covid-19. Os números subiram em janeiro, com a maior circulação de pessoas nas festas de fim de ano, caíram em março, e agora voltam a crescer.

O efeito desse recrudescimento da covid-19 começa a aparecer nas escolas. Algumas instituições de ensino no país decidiram restabelecer a adoção de medidas sanitárias contra o novo coronavírus. Foi o caso de três escolas públicas em São Paulo, que precisaram suspender as aulas presenciais para evitar que a doença se espalhasse, e voltaram ao sistema de ensino remoto. Os surtos aconteceram nos municípios de Santo André, São Caetano do Sul e na capital, São Paulo.

Em Belo Horizonte, duas escolas da rede privada também voltaram ao ensino a distância, por um período de pelo menos 10 dias, depois que 10% dos alunos contraíram o vírus. Além disso, as atividades no campus foram interrompidas para estudantes de Medicina e Pedagogia da universidade federal do estado.

Londrina (PR), Aguaí (SP), Diadema (SP) e Serra Negra (SP), determinaram o retorno do uso obrigatório de máscaras nas escolas, e em Cuiabá e Recife, a exigência do item de proteção está vigorando desde o retorno das atividades presenciais.

Nesse cenário, o epidemiologista Jonas Brant, da Universidade de Brasília (UnB), lembra que a população deve intensificar os cuidados. Ele recomenda, particularmente, o uso de máscaras adequadas. "É importante que as pessoas tenham a noção do momento de usar a máscara e de se proteger de acordo com o nível de transmissão e com o risco daquele ambiente em que ela está inserida", aconselha.

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Subnotificações

O retorno preocupante da covid-19 traz um agravante: a subnotificação de casos, em razão do amplo uso de autotestes adquiridos em farmácias. Uma pesquisa conduzida pela Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) revelou que positivos de testes rápidos feitos na primeira quinzena deste mês estão 54% acima do total registrado em abril. O Ministério da Saúde confirma a tendência. Na semana passada, a pasta anunciou um aumento de 28% na média móvel de registros de casos.

Esse movimento pode ser ainda mais significativo, mascarado pelos autotestes — são 31 kits aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Acontece que os resultados desse tipo de exame não precisam ser notificados às autoridades, de modo que não são incluídos nas estatísticas.

"O aumento de casos neste momento já era esperado, porque a gente suspendeu as medidas que atuavam para tentar diminuir a transmissão. Com isso, há uma redução dessa força de contenção, e o vírus ganha espaço", afirma Jonas Brant. Para ele, os testes realizados em casa "sem dúvida dificultam o entendimento da situação", porque perde-se a precisão do volume de casos leves, estágio em que muitos optam por não buscar atendimento.

A avaliação é confirmada por Marcelo Gomes, coordenador do Boletim InfoGripe da Fundação Oswaldo Cruz. "Existe a recomendação de que as pessoas que fizerem o autoteste e tenham resultado positivo busquem atendimento, até para ter as orientações adequadas e para a própria notificação de casos, que é feita pelo profissional de saúde. Mas a gente sabe que isso, infelizmente, não vai ser a rotina", lamenta.

"Certamente que a subnotificação pode ocorrer. Uma forma de contornar isso é de forma educativa: orientar as pessoas que estão fazendo o teste que notifiquem o resultado. Isso pode ser feito por campanhas dentro das farmácias, ou na própria embalagem do autoteste", completou o infectologista Hemerson Luz.