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Morte de trabalhador da Funai no Vale do Javari segue impune após 3 anos

Após a morte de Maxciel, com dois tiros na nuca, a PF do Amazonas abriu um inquérito para apurar o crime, mas até hoje — 3 anos depois — a investigação não foi concluída

BBC
Letícia Mori - Da BBC News Brasil em São Paulo
postado em 09/06/2022 15:15 / atualizado em 09/06/2022 15:16
Arquivo Pessoal/Reprodução - Maxciel fazia fiscalização e vigilância da terra indígena -
Arquivo Pessoal/Reprodução - Maxciel fazia fiscalização e vigilância da terra indígena -

O trabalhador da Funai (Fundação Nacional do Índio) Maxciel Pereira dos Santos, que atuava em defesa dos indígenas da Terra Indígena do Vale do Javari, na Amazônia, foi morto em 2019 na mesma região onde o jornalista britânico Dom Phillips e o servidor Bruno Araújo Pereira desapareceram no domingo (5/6).

Após a morte de Maxciel, com dois tiros na nuca, a Polícia Federal do Amazonas abriu um inquérito para apurar o crime, mas até hoje — 3 anos depois — a investigação não foi concluída e nenhum suspeito foi indiciado.

A Polícia Federal do Amazonas não respondeu os questionamentos da BBC News Brasil sobre o caso.

Maxciel em foto de arquivo pessoal
Arquivo Pessoal/Reprodução
Maxciel foi morto com dois tiros na nuca

Morto em frente à esposa

Maxciel Pereira dos Santos não era concursado, mas trabalhou na Funai por 12 anos no Amazonas como colaborador. Quando foi atacado, trabalhava na coordenação da Frente de Proteção Etnoambiental nas operações de combate ao garimpo, à exploração ilegal de madeira, à caça e à pesca ilegais.

Ele tinha 34 anos e morava no município de Atalaia do Norte (AM).

Segundo informações da Polícia Militar divulgadas na época, ele foi morto com dois tiros na nuca quando andava de moto com a esposa e a enteada na cidade de Tabatinga (AM). As duas sobreviveram à queda da moto, mas Maxciel, ferido à bala, morreu no local.

Mapa da região do Vale do Javari
Unijava
Mapa da região do Vale do Javari

Ele havia recebido diversas ameaças de morte nos dias que antecederam o crime. Segundo informações da Funai à época, a principal base da Funai onde ele trabalhava se chamava Ituí-Itacoaí e funcionava em uma balsa.

Quando o homicídio aconteceu, a base já havia sido atacada 4 vezes desde 2018. A 40 km de Atalaia do Norte, a base tem como principal objetivo impedir a entrada de invasores na Terra Indígena.

À epoca, indígenas da região relataram que invasores fizeram novas ameaças após o assassinato de Maxciel, dizendo que "mais mortes poderiam acontecer".

Base flutuante de fiscalização da Funai na confluência dos rios Ituí-Itaquaí, no Amazonas
Bruno Kelly/Amazonia Real
Maxciel trabalha principalmente na base flutuante de fiscalização da Funai no rio Ituí-Itaquaí, que já sofreu vários ataques a tiros

Vidas ameaçadas

Demarcada em 2001, a Terra Indígena Vale do Javari tem a presença dos povos Marubo, Kanamary, Kulina, Tsonhom Djapa, Matis e Mayoruna/Matsés, segundo o Cimi (Conselho Indigenista Missionário).

Além disso, o território tem a presença de outros 19 povos isolados — é considerada a área com maior presença de povos isolados do mundo — e cerca de 6,3 mil indígenas no total.

A terra indígena sofre fortes pressões de invasores, situação que vinha piorando nos últimos, segundo declaração de funcionários da Funai e indígenas.

O próprio Bruno Araújo Pereira — que desapareceu nesta semana — disse no ano passado que "antigamente não era assim".

"Os invasores tinham medo dos índios e, especialmente, da Funai. Agora eles parecem se sentir mais à vontade, por conta da postura permissiva do poder público", afirmou Pereira em 2021

Montagem mostra fotografia colorida com Bruno Araujo e Dom Phillips
BBC
Bruno Arújo (à esq.) e Dom Phillips estão desaparecidos desde o dia 05/06

À época da morte de Maxciel, o coordenador da Associação Kanamary do Vale do Javari, Adelson Korá Kanamary, disse que seu maior medo era que as "mortes se tornassem corriqueiras na região".


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