O governo americano cobrou, ontem, prestação de contas pelos assassinatos do jornalista inglês Dom Phillips e do indigenista Bruno Araújo Pereira, mortos na região do Vale do Javari (AM). Senadores, deputados e representantes do governo do presidente Joe Biden vieram a público para pedir a resolução do crime e respostas sobre os casos de violência na floresta amazônica.
"Nossos pêsames para as famílias de Dom Phillips e Bruno Pereira, assassinados por apoiar a preservação da floresta e dos povos nativos da região. Nós pedimos prestação de contas e justiça. Precisamos fortalecer coletivamente os esforços para proteger os defensores do meio ambiente e jornalistas", disse o porta-voz do Departamento de Estado Americano, Ned Price.
A embaixadora dos Estados Unidos na Organização das Nações Unidas (ONU), Linda Thomas-Greenfield, também se pronunciou sobre o caso, e pediu uma investigação transparente. "Essa é uma questão que nós priorizamos no nosso governo: a proteção do direito dos jornalistas para que informem ao mundo, por exemplo, o que está acontecendo com os povos indígenas no Brasil", disse.
Thomas-Greenfield defende que os conflitos na região amazônica devem ser do interesse de todo o mundo. "A nossa responsabilidade é lidar com a questão de paz e segurança. Não são apenas problemas relacionados com os governos, mas também às pessoas", completou.
Na quinta-feira, um dia depois do anúncio pela Polícia Federal que Bruno e Dom haviam sido assassinados, parlamentares americanos reforçaram a pressão sobre o governo brasileiro para a elucidação do caso. O senador democrata Ed Markey, do estado de Massachussets, pontuou que "prender os suspeitos é só o começo". "As autoridades brasileiras devem realizar uma investigação completa e transparente sobre as circunstâncias das mortes", cobrou.
Ele foi um dos primeiros no Capitólio a pressionar, uma semana atrás, pelas investigações sobre o desaparecimento do jornalista e do indigenista. Já o deputado democrata e também da base de apoio ao governo Biden, Raúl Grijalva, fez um apelo para que as mortes de Bruno e Dom sejam investigadas por uma instituição independente, o que incluiria as ações do governo de Jair Bolsonaro (PL) sobre o caso.
"Existem ainda inúmeras questões em aberto, não apenas sobre o desaparecimento em si, mas sobre as ações subsequentes tomadas pelo governo Bolsonaro", afirmou Grijalva.
Outro deputado democrata, Mark Pocan, que também acompanha as investigações, salientou que "jornalistas deveriam estar seguros para fazer seu trabalho, não importa se estejam investigando pesca ilegal, desmatamento ilegal ou governos corruptos".
Pressão internacional
O governo dos EUA não foi o único a pressionar as autoridades brasileiras pela resolução do duplo assassinato. Na última quarta-feira, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, afirmou que o Reino Unido "está pronto para oferecer toda a ajuda que o Brasil precisar" para solucionar o crime. A declaração, porém, ocorreu somente depois da pressão feita pela ex-premier Theresa May, durante uma sessão do parlamento.
Ele exigiu que o governo britânico "torne esse caso uma prioridade diplomática e que trabalhe para fazer tudo em seu poder no sentido de garantir que as autoridades brasileiras destinem todos os recursos necessários para desvendar a verdade".
Também a ONU exigiu do Brasil, na última quinta-feira, por meio da porta-voz de direitos humanos, Ravina Shamdasani, uma solução do crime para além de apenas encontrar e identificar os corpos de Dom e Bruno. Em nota enviada à imprensa depois da confirmação dos assassinatos, ela solicitou às autoridades brasileiras a ampliação dos "esforços para proteger os defensores dos direitos humanos e os povos indígenas de todas as formas de violência e discriminação, tanto por parte de atores estatais quanto não estatais".
Ontem, a Polícia Federal informou, por meio de nota, que os assassinos de Bruno e Dom agiram sozinhos e que o crime não teve um mandante — a corporação também afastou a possibilidade de haver envolvimento de facções criminosas com o duplo homicídio. Os integrantes da União dos Povos do Vale do Javari (Univaja) rebateram a PF, também por meio de nota.
"Com esse posicionamento, a PF desconsidera as informações qualificadas, oferecidas pela Univaja em inúmeros ofícios, desde o segundo semestre de 2021", dizem os indígenas.
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