Amazônia sem lei

4º suspeito preso em SP

Gabriel Dantas fugiu depois do crime. Disse que só pilotou a lancha de Amarildo, a quem acusou de ter matado Bruno e Dom

Rafaela Gonçalves João Gabriel Freitas*
postado em 24/06/2022 00:01
 (crédito: PCSP/Divulgação)
(crédito: PCSP/Divulgação)

Um quarto suspeito de envolvimento nos assassinatos de Bruno Araújo Pereira e Dom Phillips se entregou, ontem, em São Paulo. É Gabriel Pereira Dantas, de 26 anos, que confessou em depoimento ào 77º Distrito Policial da capital paulista ter pilotado o barco utilizado por Amarildo da Costa Oliveira, o "Pelado", para supostamente cometer o duplo homicídio.

A Polícia Civil pediu a prisão temporária de Gabriel, que foi encaminhado à Justiça do Amazonas. Ele disse que se entregou por causa do "sentimento de culpa e o peso nas costas" por ter participado de um crime de repercussão internacional. Gabriel contou, ainda, que fugiu do Vale do Javari para Santarém (PA), de onde foi para Manaus, seguiu para Rondonópolis (MT) e só então chegou a São Paulo.

O relato dele ainda não foi confirmado pela Polícia Federal e pela força tarefa no Amazonas, responsáveis pela investigação do caso. Segundo Gabriel, ele entrou no crime depois de ser convidado por Amarildo para pilotar sua lancha assim que tinham terminado de beber.

Gabriel disse que os assassinatos foram cometidos no Rio Madeira, depois de uma perseguição à lancha na qual estavam Bruno e Dom. Conforme relatou aos policiais, Amarildo atirou com uma espingarda de calibre 16 primeiramente no jornalista e, depois, no indigenista.

Depois dos disparos, ele e "Pelado" teriam levado a lancha de Bruno e Dom para um lugar ermo, no qual enterraram os corpos com a ajuda de outras duas pessoas. Gabriel disse não conhecê-las, mas acrescentou que uma seria parente de Amarildo — a suspeita é de que seja o irmão, Oseney, que nega participação no crime.

Críticas

Apesar do andamento das investigações, os indígenas do Vale do Javari continuam indignados não apenas com o assassinato de Bruno e Dom, mas com a falta de propostas concretas do governo federal para coibir o crime e a violência na região. O procurador jurídico da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), Eliésio Marubo, reforçou, ontem, o alerta sobre a insegurança e pediu medidas efetivas de proteção às comunidades.

Segundo ele, o Exército foi um parceiro no passado, mas, hoje, tem uma atuação "anti-indígena", assim como outros órgãos do governo federal. Eliésio afirmou que, até o momento, não foi procurado por nenhum representante do Poder Executivo para tratarem da situação no local.

"Se eu fosse pastor ou algum indígena ligado ao agronegócio, já teria realizado essa conversa", provocou Eliésio.

A Univaja propõe que seja baixado um decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) na região do Alto Solimões. Segundo o representante dos indígenas, a falta de segurança, as ameaças e a existência de organizações criminosas na região vêm sendo denunciadas há muito tempo. Ele disse, ainda, que a Fundação Nacional do Índio (Funai), que deveria fortalecer e proteger os povos originários, tem trabalhado no sentido contrário.

"Tenho certeza de que a Funai é inimiga, na medida que restringe a utilização do território pelos povos indígenas. À medida que coloca pessoas que militam e advogam, dentro do serviço público, contra os interesses indígenas, ela é anti-indígena", criticou.

Entre os servidores da Funai, o duplo homicídio de Bruno e Dom foi o estopim para uma greve, que começou ontem. A mobilização aconteceu em 40 das 47 unidades da autarquia. A principal reivindicação é a exoneração do presidente da fundação, Marcelo Xavier, que consideram ser um agente do Palácio do Planalto para o desmonte da entidade.

*Estagiário sob a supervisão de Fabio Grecchi

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