Procurador preso por espancamento

Isabel Dourado*
postado em 24/06/2022 00:01
 (crédito:  Willian Moreira/Futura Press)
(crédito: Willian Moreira/Futura Press)

A Polícia Civil prendeu, ontem, o procurador Demétrius Oliveira de Macedo, que agrediu a procuradora-geral da Prefeitura de Registro, Gabriela Samadello Monteiro de Barros, na última segunda-feira. Ele estava internado em uma clínica, em Itapecerica da Serra, também no interior de São Paulo.

Na conta que mantém no Twitter, o governador do estado, Rodrigo Garcia (PSDB), comentou a prisão. "Que a Justiça faça a sua parte agora e use contra ele todo o peso da lei. Agressor de mulher vai para cadeia aqui em São Paulo. Denuncie sempre", exortou.

O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) denunciou Demétrius por tentativa de feminicídio. "O ataque contra a incolumidade física da vítima e a gravidade dos ferimentos, estampada nas fotos da ofendida, atingida primordialmente no rosto e cabeça, região vital, não deixa dúvidas de que ele buscava a morte da vítima, que apenas não ocorreu por circunstâncias alheias à sua vontade, qual seja, a interferência de terceiros presentes na repartição pública, ambiente de trabalho de ambos", registra a denúncia.

A promotoria cita, ainda, a qualificadora de recurso que dificultou a defesa da vítima, em razão de Demétrius ter jogado a Gabriela no chão e continuar a golpeá-la "feroz e continuamente, aproveitando possuir porte físico muito superior".

O MP-SP imputa ao procurador suposta coação no curso do processo e injúria. A primeira está ligada ao fato de ter usado de violência contra a ex-superior hierárquica, "pessoa que funcionava ou era chamada a intervir em processo administrativo, com o fim de favorecer interesse próprio". Já a acusação de injúria tem relação com as ofensas de Demétrius à dignidade e ao decoro de Gabriela em razão das suas funções, "ao chamá-la com nomes de baixo calão".

Gabriela, de 39 anos, foi espancada por Demétrius, de 34, em pleno expediente na prefeitura. Com a prisão, ela assegurou que se sente mais segura, pois temia ser perseguida por ele e que algo ainda mais grave pudesse acontecer.

Segundo a procuradora, ela tem recebido muitas mensagens de apoio de outras mulheres. "Tem me dado forças para expor essa situação, para poder encorajar cada vez mais pessoas a fazerem o mesmo, e, assim, a gente mudar esse pensamento machista e patriarcal na sociedade", disse.

A agressão de Demétrius contra Gabriela teria sido motivada pela abertura de um processo administrativo contra ele devido à postura no ambiente de trabalho. Segundo o delegado Daniel Vaz Rocha, que pediu a prisão preventiva, o procurador "vem tendo vários problemas de relacionamento com mulheres no ambiente de trabalho, sendo que, em liberdade, expõe o perigo a vida delas."

Dados das agressões

Segundo o dossiê Cultura e Raízes da Violência Contra as Mulheres, da Agência Patrícia Galvão, 503 mulheres são vítimas de agressão a cada hora e acontecem cinco espancamentos contra mulheres a cada dois minutos. Além disso, a maioria das brasileiras (86%) percebe um aumento na violência cometida contra pessoas do sexo feminino durante o último ano, de acordo com a pesquisa Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher — 2021, realizada pelo Instituto DataSenado, em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência. O levantamento foi divulgado ontem, na audiência pública na Comissão de Direitos Humanos do Senado.

A sondagem é realizada a cada dois anos, desde 2005. A edição de 2021 aponta um crescimento de 4% na percepção feminina sobre a violência em relação à edição anterior. O estudo ouviu 3 mil mulheres entre 14 de outubro e 5 de novembro.

Para 71% das entrevistadas, o Brasil é um país muito machista. Para elas, 68% das brasileiras conhecem uma ou mais vítimas de violência doméstica ou familiar, enquanto 27% declaram já ter sofrido algum tipo de agressão de um homem. (Com Agência Estado)

*Estagiária sob a supervisão
de Fabio Grecchi

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