DOENÇA CONTAGIOSA

Varíola dos macacos: Fiocruz e laboratórios correm para produzir testes

Pelo menos 29 nações já reportaram mais de mil infectados pelo vírus, conforme a OMS. O primeiro caso no Brasil foi confirmado na quinta-feira (9/6)

Com o avanço da varíola dos macacos pelo mundo e a chegada da doença ao Brasil, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), por meio do Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP), produziu, em uma semana, reagentes para auxiliar no diagnóstico do vírus. As primeiras remessas foram encaminhadas na quarta-feira, 8, para distribuição entre os laboratórios de referência no Brasil, a pedido do Ministério da Saúde. Outra parte desse produto, conforme a Fiocruz, foi enviada para a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), braço da Organização Mundial da Saúde (OMS), para distribuição em 20 países. O laboratório Roche também desenvolveu três kits diagnóstico para detectar a doença.

Pelo menos 29 nações já reportaram mais de mil infectados pelo vírus, conforme a OMS. O primeiro caso no Brasil foi confirmado na quinta-feira, 9. O paciente é um homem de 41 anos, que mora na capital paulista e tem histórico de viagem para Portugal e Espanha. Ele está internado no Instituto de Infectologia Emílio Ribas e, segundo a secretaria estadual de Saúde, "em bom estado clínico". Não houve registro de morte em nenhum país neste surto. A varíola dos macacos é uma doença viral geralmente leve, caracterizada por sintomas de febre e lesões na pele.

Elaborado em curto prazo pela Fiocruz e pelo IBMP para ajudar no diagnóstico da varíola dos macacos, as remessas entregues refletem a capacidade nacional de produção de insumos críticos para o diagnóstico.

"Essa ação estratégica, iniciada após o aprendizado na cadeia de suprimentos vivenciado na emergência da covid-19, hoje se materializa no fortalecimento do arranjo produtivo local e amplia a capacidade de resposta nacional frente a emergências de saúde pública", afirma a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima.

Para ajudar a detectar o vírus da varíola dos macacos, a Roche Diagnóstica desenvolveu três kits diagnósticos para a detecção da doença. Os testes utilizam ensaios PCR - amplamente utilizados para identificação do vírus da covid-19 - para detecção dos ortopoxvírus, incluindo o vírus da varíola dos macacos, a partir da coleta de amostras de lesões de pele humana.

O primeiro kit a ser disponibilizado será o LightMix® Modular Orthopox, que detecta o ortopoxvírus, incluindo todos os tipos de vírus da varíola dos macacos, vindos da África Ocidental e da África Central.

Inicialmente, o teste estará disponível para uso em pesquisa na maioria dos países do mundo. Será disponibilizado para qualquer instituição, pública ou privada. "O kit estará disponível inicialmente como de uso exclusivo para pesquisa e, pela regulamentação brasileira, os laboratórios públicos e privados podem usar os testes de uso exclusivo para pesquisa para uso como diagnóstico, desde que esses laboratórios façam a validação do ensaio", disse, em nota.

A equipe da Roche Diagnóstica afirma que está acelerando o processo de importação dos testes para que sejam disponibilizados no mercado brasileiro nas próximas semanas. No entanto, a empresa, no momento, não tem mais detalhes sobre negociações ou preços a serem comercializados. Já o segundo teste é específico para detectar o vírus da varíola dos macacos (linhagem da África Ocidental e da África Central).

Para pesquisadores interessados em obter ambos os resultados, a Roche afirma que estará disponível um terceiro kit que detecta simultaneamente os diferentes ortopoxvírus e fornece informações sobre a presença ou não de um vírus da varíola dos macacos (linhagem da África Ocidental e da África Central). Esses dois últimos testes serão lançados posteriormente.

Saiba Mais

SindHosp alerta serviços de saúde sobre protocolos a serem adotados

Assim como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que sugeriu uso de máscara e distanciamento para retardar a chegada da doença, o Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (SindHosp) também alerta sobre os cuidados que devem ser tomados pelos serviços de saúde privados, em especial locais onde há pacientes com a suspeita do vírus. Recomenda-se ainda a suspensão de visitas para casos suspeitos ou confirmados.

Segundo o médico Francisco Balestrin, presidente do SindHosp, as doenças respiratórias comuns no inverno, a covid-19 e agora a varíola dos macacos podem confundir os profissionais de saúde no diagnóstico e tratamento. Por isso, a entidade mantém contato permanente com as unidades para oferecer informações sobre a melhor forma de prevenção no atual momento.

"Precisamos disseminar rapidamente a nota técnica da Anvisa a fim de preparar todo o sistema de saúde para mais essa nova doença. Além disso, torna-se imprescindível a notificação às autoridades sanitárias para o controle epidemiológico do vírus", alerta ele.

Para Balestrin, é importante que os gestores mantenham a equipe informada sobre a doença, seus sintomas e adotem medidas protetivas, bem como um plano de contingência contendo ações estratégicas para o enfrentamento de possíveis casos.

A atenção deve ser redobrada "com relação aos pacientes que apresentam erupção cutânea aguda que progride em estágios sequenciais de máculas, pápulas, vesículas, pústulas e crostas que são frequentemente associadas a febre, adenopatia e mialgia (dor muscular)", destaca o comunicado.

Segundo a entidade, deve-se ainda ser estabelecido o manejo dos casos para evitar a transmissão nosocomial (dentro do hospital), com fluxo adequado da triagem para as salas de isolamento (em qualquer nível de atenção), evitando contato com outros pacientes em salas de espera ou quartos e com pacientes internados por outros motivos.

"Durante a assistência aos pacientes com suspeita ou confirmação da doença, deve-se implementar as precauções padrão, com as precauções para contato, gotículas e aerossóis. A acomodação dos casos suspeitos ou confirmados deve ser realizada, preferencialmente, em quarto privativo com porta fechada e bem ventilado (ar-condicionado que garanta a exaustão adequada ou janelas abertas)", disse. Deve-se reduzir a circulação de pacientes e profissionais ao mínimo possível.

Os casos suspeitos, incluindo trabalhadores da saúde, devem ser imediatamente notificados ao Ministério da Saúde. Devendo ser iniciado imediatamente o rastreamento e a identificação de contatos, a fim de estabelecer medidas necessárias para prevenção da disseminação do vírus, segundo o SindHosp.

Surgimento dos casos

O primeiro caso europeu foi confirmado em 7 de maio em um indivíduo que retornou à Inglaterra da Nigéria, onde a varíola dos macacos é endêmica. Desde então, países da Europa, assim como Estados Unidos, Canadá e Austrália, confirmaram casos. Atualmente, já são mais de mil casos registrados em ao menos 29 países, segundo a OMS. Os casos se concentram na Europa onde a doença não é endêmica. No continente africano, a doença já é endêmica e atinge 1,4 mil casos.

Transmissão

Identificada pela primeira vez em macacos, a doença viral geralmente se espalha por contato próximo e ocorre principalmente na África Ocidental e Central. Raramente se espalhou para outros lugares, então essa nova onda de casos fora do continente causa preocupação. Existem duas cepas principais: a cepa do Congo, que é mais grave, com até 10% de mortalidade, e a cepa da África Ocidental, que tem uma taxa de mortalidade de cerca de 1%.

O vírus pode ser transmitido por meio do contato com lesões na pele e gotículas de uma pessoa contaminada, bem como através de objetos compartilhados, como roupas de cama e toalhas. O período de incubação da varíola dos macacos é geralmente de seis a 13 dias, mas pode variar de cinco a 21 dias.

Sintomas

Os sintomas se assemelham, em menor grau, aos observados no passado em indivíduos com varíola: febre, dor de cabeça, dores musculares e nas costas durante os primeiros cinco dias. Erupções cutâneas (na face, palmas das mãos, solas dos pés), lesões, pústulas e, ao final, crostas. Segundo a OMS, os sintomas da doença duram de 14 a 21 dias.

Prevenção

Segundo o Instituto Butantan, entre as medidas de proteção, autoridades orientam que viajantes e residentes de países endêmicos evitem o contato com animais doentes (vivos ou mortos) que possam abrigar o vírus da varíola dos macacos (roedores, marsupiais e primatas) e devem se abster de comer ou manusear caça selvagem.

Higienizar as mãos com água e sabão ou álcool gel são importantes ferramentas para evitar a exposição ao vírus, além do contato com pessoas infectadas.

A OMS afirma trabalhar em estreita colaboração com países onde foram relatados casos da doença viral. A entidade também recomenda os países a aumentar suas medidas de vigilância sanitária para identificar todos os casos e os casos de contato para controlar esse surto e prevenir o contágio.

Saiba Mais