Caso Dom e Bruno

Uma semana antes de desaparecer, Bruno Pereira disse que 'corria risco de vida'

Correio teve acesso ao relatório encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF) sobre desaparecimento de indigenista e jornalista no Amazonas. Confira trechos

No relatório enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), a Polícia Federal diz que o indigenista Bruno Pereira, desaparecido desde o último dia 5, junto ao jornalista britânico Dom Phillips, no Amazonas, temia pela própria vida. No documento, ao qual o Correio teve acesso, uma testemunha que prestou depoimento à corporação disse que o ativista teria uma reunião com o líder da Comunidade São Rafael, conhecido como "Churrasco", na manhã do sumiço, mas que o encontro não ocorreu.

Bruno Pereira teria, então, enviado uma mensagem de texto, no dia 31 de maio, alertando que corria riscos e que a reunião poderia “dar algum problema”.

“Ele disse que BRUNO é colaborador da Univaja e estava na região acompanhado de DOM PHILLIPS para auxiliá-lo em um documentário jornalístico sobre a EVU, Equipe de Vigilância do UNIVAJA. BRUNO e DOM estavam utilizando uma embarcação emprestada pela UNIVAJA, carregavam uma arma de fogo e não possuíam aparelho SPOT de geolocalização, mas apenas aparelhos celulares utilizados para registros e função GPS”.

“Ademais, declarou que BRUNO teria uma reunião com o líder da Comunidade São Rafael, conhecido pela alcunha “CHURRASCO”, na manhã do dia do desaparecimento, reunião que não ocorreu devido à ausência de “CHURRASCO” no local. O declarante salientou que BRUNO lhe enviou uma mensagem de texto no dia 31/05/2022 alertando que corria risco de vida, pois a reunião marcada para 05/06/2022 poderia “dar algum problema””, diz trecho do relatório.

A PF também destacou que colheu o depoimento de Amarildo da Costa Pereira, conhecido como Pelado. Até o momento, é considerado o principal suspeito no sumiço dos ativistas.

“A fim de aprofundar as investigações, a Polícia Federal colheu as declarações de AMARILDO DA COSTA OLIVEIRA, vulgo “PELADO”, que declarou ser pescador há mais de 30 anos na área do rio Itaquaí, do ponto da base da FUNAI até o trecho do rio da comunidade São Gabriel, onde mora há 10 anos. Disse que não possui arma de fogo, pois há muita fiscalização da polícia peruana na região de Islândia/PE, e que conhece o BRUNO, servidor licenciado da FUNAI, apenas de vista”, diz o relatório.

No documento, a corporação diz que Pelado afirmou nunca ter conversado com Bruno. “Ainda, reconheceu ter visto Bruno no último domingo, 05/06/2022, enquanto ele passava de barco em frente à Comunidade São Gabriel, onde mora, porém, negou ter saído de casa durante todo o dia, permanecendo o barco parado até segunda-feira, quando saiu para caçar porcos”.

Perseguidos

Em outro trecho, testemunhas narram que o brasileiro já relatou ter sofrido ameaças na região e que a embarcação dos desaparecidos foi perseguida pelo principal suspeito.

“Em 11/06/2022, uma testemunha com identificação protegida prestou depoimento à Polícia Federal no interesse do inquérito policial instaurado no âmbito da Delegacia de Polícia Federal em Tabatinga. A testemunha relatou que ouviu BRUNO dizer que estava sendo ameaçado por pessoas que não aceitavam as atividades de combate às ilegalidades recorrentes contra indígenas da região”, diz o documento.

“Entre as ameaças recebidas por BRUNO, algumas delas foram proferidas por “PELADO”, indivíduo tempos atrás teria efetuado disparos de arma de fogo contra a base local da FUNAI e, recentemente, ameaçado os “vigilantes” da região ostentando uma arma de fogo do tipo espingarda”, descreve a PF em outro trecho.

No documento, a PF ainda afirmou que estão sendo empregados aproximadamente 250 servidores públicos, dentre os policiais e militares, com a utilização de 02 aeronaves, 03 drones, 16 embarcações e 20 Viaturas. Além do trabalho ostensivo, há um forte levantamento de informações de inteligência sendo realizado com vistas ao cabal esclarecimento do caso.

Dom e Bruno foram vistos pela última vez em 5 de junho, ao passar pela comunidade do Amazonas de São Rafael. De lá, partiram numa embarcação para uma viagem de cerca de duas horas, mas não foram mais vistos.

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