Amazônia sem lei

Mourão: Dom Phillips 'entrou de gaiato' e foi morto

Para vice, Bruno foi assassinado por algum comerciante local que se sentiu "prejudicado". Jornalista inglês foi "dano colateral"

O vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos) afirmou, ontem, que o mandante dos assassinatos de Bruno Araújo Pereira e Dom Phillips pode ser um comerciante local que "estava se sentindo prejudicado". Assim como disse a Polícia Federal em nota, na semana passada, para ele, o duplo homicídio não se deve às denúncias que o indigenista vinha fazendo sobre uma rede criminosa que age na reunião, que controlaria o tráfico de drogas e outras atividades, como a pesca ilegal.

"Vai aparecer se há um mandante. Mas se há um mandante, é um comerciante da área que estava se sentindo prejudicado pela ação, principalmente do Bruno e não do Dom", minimizou Mourão. "O Dom entrou de gaiato nessa história, foi dano colateral", acrescentou.

Mourão destacou que "ninguém fica feliz com a morte estúpida" do jornalista e do indigenista, mas a região de Atalaia do Norte, no Vale do Javari, é carente. O vice-presidente insistiu que provavelmente foram os ribeirinhos que assassinaram os dois.

"É uma região pobre. Atalaia do Norte é um município de 20 mil habitantes, com carências inúmeras. As pessoas vivem de um pequeno comércio, do Fundo de Participação do Município (FPM). Essas pessoas aí que assassinaram covardemente os dois são ribeirinhas, gente que vive no limite de ter acesso a melhores condições de vida, vive da pesca. Não tem luz elétrica 24 horas por dia. Só quando tem combustível o gerador funciona; quando não tem, não funciona. Então, é uma vida dura", explicou.

De acordo com Mourão, as mortes foram "quase que uma emboscada" e ocorreram num momento de embriaguez por parte dos assassinos. Ele disse que situações assim são comuns em periferias de grandes centros.

"Isso é um crime que aconteceu num momento quase que de uma emboscada, um assunto que vinha se arrastando — vamos dizer. Na minha avaliação, deve ter ocorrido no domingo. Domingo, sábado, essa turma bebe, se embriaga. Mesma coisa que acontece aqui na periferia das grandes cidades. Aqui em Brasília, a gente sabe, todo final de semana tem gente que é morta a facada, tiro, das maneiras mais covardes. Normalmente, é fruto de quê? Da bebida. Então, a mesma coisa deve ter acontecido lá", disse.

Mourão preside o Conselho da Amazônia, que realizou as operações Verde Brasil 1 e 2, Samaúma e Guardiões do Bioma, na tentativa de combater o avanço do garimpo ilegal nas terras indígenas, além da derrubada da floresta e o contrabando ilegal de madeira. Mas, apesar das ações do governo federal, o desmatamento não diminuiu, assim como o extrativismo predatório de pedras e metais preciosos.

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Acusações

No prosseguimento das investigações, Amarildo da Costa de Oliveira, o "Pelado", se contradisse sobre a participação nos assassinatos de Bruno e Dom. Num depoimento inicial, ele admitiu que atirou nos dois junto com Jefferson da Silva Lima, o "Pelado da Dinha", preso no último sábado. Eles teriam disparado, ao todo, seis tiros com espingardas de caça, sendo que dois pegaram no tronco do indigenista e um no rosto, enquanto o jornalista recebeu um no peito.

Mas durante as buscas ao barco de Dom e Bruno — trazido à tona na noite do último domingo —, Amarildo mudou a versão. Ele atribuiu a Jefferson os assassinatos de Dom e Bruno e que apenas participou do enterro dos corpos.

Disse, ainda, que ajudou a queimar os cadáveres. Porém, no dia seguinte, Amarildo voltou ao local onde estavam os despojos do jornalista e do indigenista para desmembrá-los com Jefferson. O irmão de "Pelado", Oseney da Costa de Oliveira, o "Dos Santos", não admitiu até agora a participação no duplo homicídio.

Outras cinco pessoas foram apontadas por Amarildo como participantes do crime, mas os nomes não foram divulgados. Estão sendo acusados de ocultação de cadáver e, pelo menos por enquanto, responderão ao inquérito em liberdade.