MEIO AMBIENTE

Incêndios consomem cerrado e Amazônia, mostra Inpe

Dados do Inpe mostram 1º semestre ruim para os dois biomas, com expressivo crescimento da devastação em relação a 2021

Correio Braziliense
postado em 02/07/2022 06:00
 (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)
(crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

A Amazônia e o cerrado registraram aumento no número de queimadas. De acordo com o levantamento do Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) — órgão que faz parte da estrutura do Ministério da Ciência e Tecnologia —, 7.533 focos de incêndio foram registrados na floresta no primeiro semestre deste ano, crescimento de 17% em comparação com o mesmo período de 2021. Em relação ao cerrado, foram 10.869 registros, 13% maior que o dos seis primeiros meses do ano passado.

Os últimos 30 dias foram particularmente ruins para a Amazônia, quando 2.562 focos fizeram do mês o pior junho desde 2007. No cerrado, houve 4.239 registros, aumento de 1,4% em relação ao ano passado.

No último dia 23, o presidente Jair Bolsonaro (PL) proibiu, por meio de decreto, o uso do fogo em todo o país pelos próximos 120 dias — as autorizações para a queimada voltada à prática agrícola estão suspensas. Mas, mesmo assim, isso não melhora a imagem do atual governo, pois desde o primeiro ano da gestão os números da devastação do meio ambiente só têm crescido. Historicamente, os anos eleitorais têm os maiores índices de desmatamento e queimadas.

Além disso, maio e junho marcam o início da temporada de queimadas e desmatamento na Amazônia por causa do período mais seco na floresta. Pesquisadores já trabalham com a tendência de que a quantidade de pontos de incêndios tenha um aumento ainda maior neste mês e no próximo.

Porém, dados do Programa Queimadas, do Inpe, trazem outros maus resultados. Há duas semanas, levantamento do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) apontou que, nos cinco primeiros meses de 2022, a Amazônia Legal registrou recorde de desmatamento e em 151 dias derrubou 3.360km² de floresta. A área desmatada é a maior em 15 anos e os municípios mais afetados são, respectivamente, Apuí (AM), Altamira (PA), Lábrea (AM), Novo Progresso (PA) e Novo Aripuanã (AM).

Já os números obtidos pelo Deter — o Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real, do Inpe — atualizados até o último dia 24, mostravam que mesmo faltando uma semana para fechar o mês, este já é o pior junho registrado desde o início do monitoramento do bioma. Foram 752km² desmatados.

A área sob alerta de desmatamento em junho de 2022 aumentou 55% em comparação ao mesmo mês de 2021. Segundo o Deter, quando analisados os alertas de desmatamento desde o início do ano, constata-se que este é o pior primeiro semestre (ainda incompleto) desde o lançamento do sistema de monitoramento. Foram 3.750km², crescimento de 4% em relação ao mesmo período de 2021.

Seca favorece

No caso do cerrado, a situação é pior do que na Amazônia, pois registrou mais pontos de queimadas em junho do que a floresta: 4.239 focos, o maior número para o mês desde 2016, quando foram detectados 6.443.

Para piorar o panorama do bioma, a temporada de seca já começou e dados históricos do Inpe apontam que deve haver ainda mais queimadas nos próximos três meses. O recorde para junho é de 7.079 focos de incêndio, verificado em 2003. A média histórica para junho é de 3.760.

"Há falta de apoio do governo para os órgão de preservação e proteção do meio ambiente, sobretudo em relação à falta de recursos. O Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais), por exemplo, está sem esse apoio. E, ao mesmo tempo, a gente vê um fomento da exploração. Pessoas do governo apoiam o garimpo e a substituição da floresta por áreas de pastagem. Isso aumenta a grilagem e, por consequência, o desmatamento", afirmou o ambientalista Alexandre Gontijo.

(Colaborou Isabel Dourado, estagiária sob a supervisão de Fabio Grecchi)

 


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