amazônia

Perguntas sem respostas

Assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Philips completa um mês sem que o crime tenha sido totalmente esclarecido

Luana Patriolino
postado em 04/07/2022 00:01
 (crédito: Reprodução/Twitter)
(crédito: Reprodução/Twitter)

Prestes a completar um mês, os assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips seguem com muitas perguntas e poucas repostas. Os ativistas desapareceram em 5 de junho, no Vale do Javari, área de terras indígenas no Amazonas. Apesar de prisões terem sido feitas, ainda não se sabe ao certo por que eles foram mortos e se há mandantes do crime.

Um dos principais suspeitos, Amarildo Oliveira da Costa, conhecido como Pelado, confessou ter participado do assassinato da dupla pouco mais de uma semana depois do início das buscas. O irmão dele, Oseney da Costa de Oliveira, o "Dos Santos", também foi preso por envolvimento no caso.

Outro suspeito, Jeferson da Silva Lima, chamado de "Pelado da Dinha", também foi detido por indícios de ter participado da ocultação dos cadáveres. Outras cinco pessoas foram identificadas como tendo ajudado a esconder os corpos de Bruno e Dom.

Até o momento, a investigação ouviu 17 pessoas, sendo três principais suspeitos e 17 testemunhas. Mesmo assim, a Polícia Federal diz que os "os executores agiram sozinhos, não havendo mandante nem organização criminosa por trás do delito".

Segundo a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), os suspeitos integram grupos de caçadores e pescadores profissionais que fazem invasões constantes à terra indígena Vale do Javari e ameaçam de morte quem atua contra eles, como o próprio Bruno Pereira — um dos maiores especialistas sobre a região e um dos principais indigenistas do país.

O delegado da Polícia Civil Alex Perez, de Atalaia do Norte (AM), divulgou que os trabalhos de reconstituição do duplo assassinato já começaram. Na última semana, a PF fez uma simulação com a lancha usada por Bruno e Dom e a com a embarcação dos suspeitos no dia do crime. Eles foram levados para a região para refazer todos os passos da perseguição e morte dos ativistas.

O Exército também participa da reconstituição do dia do crime. O objetivo é percorrer todos os pontos-chave do caso: as comunidades São Rafael, São Gabriel e Cachoeira, além das áreas onde os homens foram assassinados e o local onde os corpos foram escondidos.

Bruno e Dom desapareceram em uma região conhecida por intensos conflitos entre grupos criminosos (como quadrilhas de madeireiros e pescadores ilegais). O jornalista e o indigenista viajavam de barco pelos mais de 70 km que ligam o lago do Jaburu ao município de Atalaia do Norte.

Na última vez em que foram vistos, eles pararam na comunidade de São Rafael, onde tinham uma reunião marcada com o líder pescador Manoel Vitor Sabino da Costa, conhecido como Churrasco. A partir dali, eles seguiram pelo rio, mas não foram mais vistos.

O desaparecimento chamou a atenção do mundo inteiro. Figuras públicas, ambientalistas, ativistas, artistas, políticos e autoridades foram a público cobrar punições aos criminosos.

As famílias das vítimas clamaram por justiça. "Espero que as investigações esgotem todas as possibilidades e tragam respostas definitivas o mais rapidamente possível", disse a esposa de Dom Phillips, quando soube da morte do jornalista.

Comissão

No Congresso Nacional, foi criada uma Comissão Externa Temporária para investigar as mortes. Os membros do colegiado viajaram para o interior do Amazonas para apurar o contexto de criminalidade na região. Também integra o grupo um representante da Fundação Nacional do Índio (Funai).

Além de acompanhar de perto as investigações sobre o crime, o grupo diz que o trabalho também tem como objetivo apurar omissões governamentais na proteção de ativistas ambientais e ataques àqueles que atuam em prol da preservação da floresta.

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