obituário

Dom Cláudio Hummes dedicou a vida à defesa dos mais pobres e dos indígenas

Franciscano, Hummes dedicou grande parte da vida à defesa dos direitos dos povos indígenas. Também era amigo do papa Francisco

Isadora Albernaz*
postado em 05/07/2022 06:00
 (crédito: Yasuyoshi Chiba)
(crédito: Yasuyoshi Chiba)

O arcebispo emérito de São Paulo, dom Cláudio Hummes, morreu, ontem, aos 87 anos, vítima de câncer no pulmão. O cardeal gaúcho era conhecido pela sua atuação em defesa das minorias e dos mais vulneráveis. A arquidiocese paulistana informou que os ritos fúnebres se estenderão até amanhã, quando o religioso será sepultado na Cripta da Catedral da Sé, em São Paulo.

Franciscano, Hummes dedicou grande parte da vida à defesa dos direitos dos povos indígenas. Também era amigo do papa Francisco. O Vatican News, portal de notícias oficial do Vaticano, publicou que Hummes "tinha um grande coração que pulsava — e não há retórica em dizer isso — pelos pobres, os povos indígenas da Amazônia, como os missionários consagrados e leigos, os sedentos e famintos do Sul do mundo, como os operários mal pagos ou as vítimas das mudanças climáticas".

Em 2013, o recém-eleito papa Francisco se referiu ao cardeal brasileiro como "um grande amigo". No primeiro encontro com a imprensa internacional, Francisco revelou que dom Cláudio foi responsável pela frase que o inspirou. "Ele me abraçou, me beijou e disse: 'não se esqueça dos pobres'. E aquela palavra entrou na minha cabeça: 'os pobres'. Pensei em Francisco de Assis. E assim, o nome saiu do meu coração: Francisco de Assis, como eu queria, uma Igreja pobre, para os pobres."

Em 2015, Dom Cláudio discursou em defesa dos povos amazônicos na Conferência do Clima de Paris (COP21). "É preciso defendê-los, defender seus direitos, dar-lhes de novo a possibilidade de serem os protagonistas de sua história, os sujeitos de sua história. Deles foi tirado tudo: a identidade, a terra, as línguas, sua cultura, sua história, tudo", denunciou, em seu discurso. Em 2019, o cardeal foi relator-geral do Sínodo para a Amazônia, no Vaticano.

O arcebispo de Brasília, dom Paulo Cezar, declarou em carta ao arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, que recebeu "com pesar" a notícia, destacando que ele "dedicou-se, com profundo zelo, ao povo Deus na Sé Episcopal de São Paulo, como também, zelando pelos presbíteros na Congregação para o Clero e, nos últimos anos, com especial atenção à Amazônia".

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi), em nota, declarou que, "dom Cláudio Hummes foi um ser humano engajado na defesa das causas sociais, dos mais pobres, dos missionários e missionárias, dos nossos irmãos indígenas e da Amazônia", e que lamenta "a partida de um irmão tão querido e tão necessário, pelos seus exemplos e luta, ao nosso país e ao nosso planeta".

Trajetória

Nascido em 1934, em Salvador do Sul (RS), Aury Afonso Hummes decidiu entrar para a vida religiosa aos 17 anos. Filho de imigrantes alemães, em 1952, juntou-se aos franciscanos e, seis anos depois, foi ordenado padre na cidade mineira de Divinópolis. Foi nomeado bispo em 1975 pelo papa Paulo VI. No mesmo ano, assumiu a diocese de Santo André (SP), onde permaneceu por mais de 20 anos. Nesse período, acompanhou de perto o movimento operário do ABC Paulista e, em plena ditadura militar, abriu as portas da catedral da cidade para assembleias de operários.

Em 1996, foi nomeado para a arquidiocese de Fortaleza. Em 1998, retornou a São Paulo, nomeado arcebispo pelo papa João Paulo II. Virou cardeal em 2006, quando deixou a arquidiocese paulista para assumir o cargo de prefeito da Congregação para o Clero, no Vaticano, por decisão do papa Bento XVI.

Ao voltar para o Brasil, em 2010, dom Cláudio passou a se dedicar à defesa da Amazônia e dos povos indígenas. Foi presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia, da CNBB, e da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam). Em 2021, assumiu a presidência da Conferência Eclesial da Amazônia (Ceama).

*Estagiária sob a supervisão de Vinicius Doria

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