O cirurgião plástico Bolívar Guerrero Silva, 63, teve a prisão temporária mantida pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) durante a audiência de custódia realizada ontem. Ele é suspeito de manter uma paciente em cárcere privado com a intenção de ocultar os erros médicos cometidos. Preso na segunda-feira, o médico foi levado até o presídio de Benfica, localizado na capital carioca, para cumprir a determinação da Justiça.
Segundo o site G1, oito pacientes foram até a Delegacia de Atendimento à Mulher de Duque de Caxias (RJ), cidade onde fica o hospital em que o cirurgião atendia, para relatar erros nos procedimentos feitos por Silva. Uma das mulheres ainda denunciou que foi operada por Kellen Cristina Queiroz Santos, técnica de enfermagem e auxiliar do médico equatoriano. Ontem, a profissional esteve na delegacia na condição de testemunha.
A dona de casa Ana Cláudia Gonçalves, 49 anos, contou sua experiência após operar com Bolívar Silva no Hospital Santa Branca, em 2019: "Eu tive duas paradas cardíacas, fui parar na UPA. Necrosou, entendeu? E cheguei quase morta ao hospital. Estou com defeito, a minha barriga está toda torta, o meu umbigo está todo torto, e eu estou com sequela. Ele não me operou. Quem me operou foram as enfermeiras, ele estava lá só para me auxiliar", relatou.
O cirurgião equatoriano já havia sido impedido de exercer a medicina no último ano. Entre as violações, Silva teria infringido o artigo do Código de Ética médico que proíbe "obter vantagem pelo encaminhamento de procedimentos, pela comercialização de medicamentos, órteses, próteses ou implantes de qualquer natureza" ou "exercer simultaneamente a Medicina e a Farmácia". Ele também foi punido por deixar de "denunciar atos que contrariem os postulados éticos à comissão", de "cumprir as normas emanadas dos Conselhos Federal e Regionais de Medicina" e de "atender às suas requisições administrativas, intimações ou notificações no prazo determinado".
A punição foi aplicada pelo Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj) em dezembro de 2021 e teve prazo até o dia 19 de janeiro deste ano, durando menos de um mês. Segundo o Cremerj, Bolívar Silva violou cinco artigos do Código de Ética que rege o Conselho Federal de Medicina (CFM).
Apesar das suspeitas, o registro do médico no site do Conselho Federal de Medicina ainda consta como regular. O Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj) abriu sindicância para apurar o caso.
Em nota, a diretoria geral do Hospital Santa Branca alegou que as acusações de cárcere privado são "infundadas". Em janeiro de 2017, a unidade de saúde foi parcialmente interditada pela Secretaria Estadual de Saúde do Rio. A vigilância local alegou, na época, que a Central de Material Esterilizado (CME) não tinha "estrutura física" e apresentava "processos de trabalho inadequados" para o funcionamento.
Além das acusações que enfrenta atualmente, Bolívar Guerrero Silva soma pelo menos 19 processos judiciais. Em 2010, chegou a ser preso pela Polícia Civil do Rio de Janeiro. Na época, o cirurgião plástico foi um dos nove médicos detidos na operação Beleza Pura. As acusações eram de "falsificar, corromper, adulterar ou alterar produto destinado a fins medicinais". Silva ainda foi acusado de associação criminosa e de "crimes contra as relações de consumo". Os acusados responderam pela comercialização de medicamentos piratas e sem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Apesar dos crimes atribuídos a ele, Bolívar Guerrero Silva tinha uma grande quantidade de fãs em suas redes sociais, acumulando mais de 40 mil seguidores. Em um vídeo, uma funcionária, que se declarou como a responsável por administrar os canais on-line do médico, implorou para que todas as "bolivetes" publicassem relatos positivos sobre o médico.
"É muita maldade, ruindade. Estas mulheres já acostumaram a ganhar dinheiro nas costas dele (sic)", diz em um trecho. (Com informações da Agência Estado)
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