Uma operação conjunta que reuniu cerca de 400 agentes das polícias Civil e Militar, ontem, provocou intenso tiroteio no Complexo do Alemão, na zona norte do Rio, e em bairros próximos. O saldo foi de 18 mortos, sendo um deles o cabo da PM Bruno de Paula Costa, de 38 anos, e Letícia Marinho de Sales, 50, atingida quando passava de carro com o namorado.
A nova chacina no Rio de Janeiro é a quarta operação policial mais letal da história da cidade, sendo que três ocorreram durante o governo de Cláudio Castro (PL): as ações no Jacarezinho (28 mortos), na Vila Cruzeiro (25 óbitos) e a de ontem. A terceira mais letal foi em 2007, quando morreram 19 pessoas em uma ação na Baixada Fluminense.
De acordo com a PM, a incursão foi desfechada contra um grupo criminoso que comanda o tráfico de drogas e pratica roubos de veículos e cargas nos bairros do Méier, Irajá e Pavuna — todos próximos ao Alemão. Ainda conforme a corporação, na favela da Fazendinha a base da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) foi atacada por criminosos — quando foi assassinado o cabo Bruno Costa —, que também colocaram barricadas e óleo na pista para dificultar o acessos das equipes. Os policiais afirmam que, dos 18 mortos, 16 eram ligados aos criminosos.
A troca de tiros começou antes do amanhecer. Imagens divulgadas nas redes sociais mostraram tiros de balas traçantes, tendo os helicópteros como alvo. Os criminosos também ergueram barricadas, inclusive com fogo, para tentar impedir ou dificultar o acesso dos policiais.
Na ação — que contou com equipes do Batalhão de Operações Especiais (Bope), da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) e teve reforço de 10 veículos blindados e quatro aeronaves — foram apreendidos dois fuzis e uma metralhadora. No meio da manhã, houve um protesto de moradores que, segundo a polícia, tratou-se de uma manobra para impedir o avanço das forças do estado e permitir que os últimos bandidos que opunham resistência fugissem.
Em coletiva, os subsecretários das polícias Civil e Militar, delegado Ronaldo Oliveira e Fabrício Oliveira, afirmaram que os policiais agiram para evitar que mais de 100 criminosos com réplicas de fardas deixassem o complexo do Alemão, invadissem outras comunidades e cometessem crimes em outras áreas da cidade. Mas não deram detalhes sobre o uso dessas fardas falsas nem sobre os crimes que o grupo pretenderia praticar.
"Nessa ação não pode haver comemoração. Tivemos a morte de dois inocentes, da senhora Letícia e de um policial militar", afirmou Uirá Nascimento, comandante do Batalhão de Operações Policiais (Bope). Parentes da mulher acusam a polícia de disparar o tiro que a matou. "O fato está sendo apurado pela Delegacia de Homicídios. A dinâmica será esclarecida com a investigação. Lamentamos profundamente a morte dela. O fato está em apuração", completou.
Violações
A Defensoria Pública afirma ter recebido de moradores denúncias de invasão de casas e agressões supostamente cometidas por policiais. Imagens de televisão mostraram policiais entrando em residências de moradores.
Em áudio gravado na entrada da favela da Grota, uma das comunidades do Alemão, o ouvidor-geral do órgão, Guilherme Pimentel, afirmou ter recebido várias denúncias contra a polícia.
"A gente recebeu a demanda de entrar nos locais onde há denúncias de graves violações de direitos humanos, como pessoas mortas, cenas (de crime) sendo desfeitas, feridos sem prestação de socorro, pessoas ameaçadas de execução sumária, encurraladas dentro de casa, pessoas sendo agredidas, muitas invasões de domicílio, depredação. Enfim, todo tipo de violação de direitos humanos", afirmou.
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