O papel do Estado ante a crise

Os rumos econômicos do Brasil também foram assunto do 74º encontro da SBPC. Pesquisadores de diferentes universidades avaliaram quais são os maiores desafios contemporâneos e o que acreditam serem os caminhos possíveis rumo a um futuro econômico mais promissor.

O economista Eduardo Moreira acredita que o ultraliberalismo na economia defendido pelo atual governo pode causar uma profunda distorção, resultando em uma "disputa desigual e covarde". Ele se disse contrário, por exemplo, às privatizações. "Estamos acabando com os instrumentos do Estado até para poder mudar alguma coisa", afirmou.

Além disso, Moreira avaliou que a dependência do Brasil em adquirir tecnologias, cotadas em dólar, coloca o país em desvantagem para o fomento à ciência — o que estaria diretamente ligado ao crescimento econômico. "A gente não consegue competir, estamos ficando para trás tecnologicamente. Como se corrige isso sem investimento nas universidades?", questionou.

Os pesquisadores apontaram, ainda, que, diante da crise, os cortes feitos no orçamento prejudicam, principalmente, as áreas sociais. A professora do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Esther Dweck explicou que a grande perversidade do orçamento, este ano, foi a limitação impostas pelo teto de gastos.

"No ano passado, se houve cortes por perda de arrecadação, este ano está havendo cortes por conta do teto de gastos, porque a arrecadação bombou. Haveria recursos para gastar, mas não se pode por conta do teto de gastos", descreveu. A pesquisadora lembrou, a tentativa de redução das verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), barrada pelo Congresso. Por conta disso, o corte de despesas nos demais ministérios e órgãos do governo será mais rigoroso e vai atingir mais as áreas de Saúde e Educação.

O professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (Face) da UnB Nelson Barbosa Filho questionou o papel do Estado diante da crise. "Há uma instabilidade institucional: temos feito recorrentemente mudanças não recorrentes", apontou, citando como exemplo a PEC dos Benefícios aprovada recentemente.

Para o pesquisador, o grande erro cometido foi a realização de ajustes fiscais durante a recessão. "Qualquer reequilíbrio fiscal vem junto ou depois com o crescimento econômico. Ajuste fiscal que dá certo é o que é feito na expansão, e não na recessão", avaliou. (TM)