As barreiras da reciclagem

Correio Braziliense
postado em 04/08/2022 00:01

Não há legislação a nível federal que disponha especificamente sobre o processo de reciclagem de veículos, mas a categoria pode ser enquadrada na Política Nacional de Resíduos Sólidos, de 2010, que estabelece a logística reversa.

Quando se pensa no carro como um todo, no entanto, ainda não há uma cadeia de reciclagem preparada para dar destinação a uma das maiores frotas automotivas do planeta. "O principal gargalo está associado a unir uma série de atores que possam efetivar essa cadeia de reciclagem, que é um setor interessante, um setor que pode trazer um retorno econômico, social e ambiental", explica o doutor em química Harrison Lourenço Corrêa, professor de engenharia mecânica da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Como essa cadeia de reciclagem não existe, cerca de 98,5% da frota nacional termina em desmanches e depósitos, segundo estimativa do Sindicato do Comércio Atacadista de Sucata Ferrosa e Não Ferrosa (Sindifesa). A partir deste ponto, não é possível ter dados oficiais sobre o destino dos veículos em final de vida.

Doutor em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo (USP) e consultor da Invento Consultoria, Alexandre Aguiar produz artigos acadêmicos sobre reciclagem de veículos há mais de uma década. Em um dos trabalhos, ele pontua que o ciclo de vida dos automóveis está cada vez menor, o que aumenta ainda mais a quantidade de veículos a serem reciclados. "A demanda por produtos novos e mais modernos tem implicado em um grande custo para nossos recursos naturais, como excessiva utilização de matérias-primas, água e energia, durante a produção, uso e final de ciclo de vida destes bens", pontua.

"Isso significa que, num futuro próximo, teremos quantidades cada vez maiores de veículos em fim de vida útil para serem destinados. Separar os materiais, classificá-los e buscar diferentes soluções de destino final dessa sucata pode se tornar, portanto, um desafio considerável", explica.

Não existe um consenso sobre qual a vida útil de um automóvel. De acordo com pesquisadores e trabalhos acadêmicos analisados pela reportagem, a média fica entre 10 e 20 anos, a depender de fatores como o modelo do automóvel, as condições climáticas a que ele é exposto e a conservação dada pelo motorista.

Alexandre Aguiar diz que o tempo de uso de um veículo está ligado a diversos fatores, como as situações econômicas e culturais de um país. "Mesmo que se observe essa troca mais rápida de veículos, notamos também que o avanço da tecnologia fez com que partes de um carro durem mais tempo. Um motor, antigamente, rodava 100 mil km. Hoje, ele supera os 200 mil", diz.

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