Um cemitério tóxico

Levantamento exclusivo feito pelo Correio mostra que o Brasil produz cerca de 5,6 milhões de toneladas de sucata automotiva por ano. Sem reciclagem, esses carros tornam-se resíduos com propriedades nocivas que serão jogadas no meio ambiente

Aline Brito Pedro Grigori
postado em 04/08/2022 00:01

Costuma-se medir o impacto que um automóvel causa no meio ambiente pelas emissões de gases de efeito estufa que ele produz. Um carro popular corretamente regulado, por exemplo, libera, em média, 12 toneladas de gás carbônico (CO2) na atmosfera a cada 100 mil quilômetros rodados. No entanto, este não é o único impacto que a indústria automobilística causa no planeta.

Há um outro valor que precisa ser adicionado a essa conta: 1.079kg. Esse é o peso médio dos automóveis vendidos no Brasil em 2012. Há 10 anos nas estradas, esses carros já superam a idade média da frota brasileira — de acordo com a edição de 2021 do Relatório da Frota Circulante, do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças) — e agora começam a percorrer um caminho fúnebre em direção ao fim da vida.

Mesmo após a "morte", um carro não deixa de ser um problema para o planeta. De acordo com a Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran), 5.195.582 automóveis foram vendidos no Brasil apenas em 2012. Levantamento inédito feito pelo Correio mostra que, a partir deste ano, um cronômetro é acionado, e esses veículos passam a se transformar em cerca de 5,6 milhões de toneladas de sucata automotiva. Caso nada seja feito, essa montanha de entulho pode parar nos aterros brasileiros — o que significaria 7% de todos os resíduos sólidos produzidos anualmente no Brasil.

Como a venda de carros no país continuou em alta na última década, essa quantidade milionária de sucata seguirá crescendo a cada ano. O único modo de impedir que toda essa frota se torne lixo é reciclando os automóveis.

Hoje, é possível reciclar até 99% do peso de um carro. Mas o Brasil ainda está longe de atingir esse patamar e, em média, se recicla apenas 70% do peso total, o que ainda deixaria um entulho de cerca de 1,6 milhão de toneladas para serem descartadas no natureza a cada ano.

Para dimensionar o tamanho do problema que uma frota de carros inutilizados pode trazer para o meio ambiente, o Correio publica a série Autópsia da sucata: para onde vão os carros após a morte?

Em quatro reportagens, mostraremos o impacto que cada peça de um automóvel causa no planeta, o cenário da reciclagem de carros no Brasil e os desafios e soluções que o setor de transporte apresenta para resolver um problema escondido em depósitos, ferros-velhos e desmanches.

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