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Técnica indiana reconecta mães e filhos e evita evasão escolar

Massagem shantala se tornou disciplina fixa do projeto Bebê a Bordo em colégio de Sergipe e ajuda adolescentes a manter os estudos sem se afastar dos filhos

Ana Raquel Lelles - Estado de Minas
postado em 17/10/2022 12:32
 (crédito:  Ana Raquel Lelles/EM/D.A Press)
(crédito: Ana Raquel Lelles/EM/D.A Press)

Uma técnica indiana tem confortado bebês e ajudado mães adolescentes de um colégio do interior de Sergipe a aumentar a conexão com os filhos. Na terceira reportagem da série especial “Antes da Hora”, do Estado de Minas, acompanhamos a rotina de estudantes do Centro de Excelência Dr. Edélzio Vieira de Melo, lar do projeto Bebê a Bordo, e participamos da primeira sessão de massagem shantala entre uma aluna e seu filho.

A técnica ancestral deu origem, em 2019, à iniciativa de acolhimento de jovens mães em Santa Rosa de Lima (SE). Além dos benefícios para o bem-estar das crianças, a shantala tem contribuído para a redução da evasão escolar entre as estudantes grávidas ou que estão com recém-nascidos.

Joana Santos, de 19 anos, aprendeu a massagem shantala no Dr. Edelzio. No segundo ano do ensino médio, a estudante participou da sessão com o filho, Murilo, de 1 ano. Sem o apoio do pai da criança, a jovem conta com o projeto Bebê a Bordo, que permite a presença de recém-nascidos na escola e promove iniciativas para mãe e filho, para não abandonar os estudos e se formar.

“Saio da escola por volta de meio-dia, levo ele na creche e volto para estudar. Se tivesse um pai que ajudasse, ia ser muito bom, mas o pai dele, não ajuda em nada”, afirma Joana. Entre janeiro de 2020 e agosto de 2022, 7% dos bebês nascidos em estados da Região Nordeste não tiveram o nome paterno na certidão. Em Santa Rosa de Lima, a taxa foi de 10% dos recém-nascidos, segundo dados de registros civis do Portal da Transparência.

REGISTROS DE NASCIMENTOS NO BRASIL

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Não é uma creche

O trabalho do Bebê a Bordo é bem diferente do realizado por creches, que são disponibilizadas pelo governo federal, estadual ou municipal. No primeiro, as crianças participam das aulas com as mães e também têm seu próprio espaço e “disciplinas”, como a massagem shantala. Nas creches, os recém-nascidos ficam com professores e cuidadores no período em que a mãe precisa fazer outra atividade, como estudar ou trabalhar.

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O Estatuto da Criança e do Adolescênte (ECA) e o Estatuto da primeira infância garantem que as mães adolescentes possam levar os filhos para as escolas, faculdades e universidades. Mas isso não ocorre na prática por “falta de regulamentação e programas específicos”, segundo o advogado Ariel de Castro Alves, referência nacional quando o assunto são os direitos de crianças e adolescentes.

Pendências em relação ao ECA


“Temos alguns estados que têm programas específicos, outros não. É inaceitável que, após 32 anos no ECA e vários anos do Estatuto da Primeira Infância, isso não tenha sido colocado em prática em todo o Brasil. Acaba gerando uma grande evasão escolar das mães, meninas, tanto adolescentes, quanto das universitárias”, afirma.

Na América Latina, 36% dos casos de evasão escolar de garotas estão relacionados à maternidade ou a gravidez na adolescência, segundo estudo da Corporación Andina de Fomento (CAF), instituição que investe em pesquisas e projetos para desenvolver a região.

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Segundo Ariel, o local que vai receber as crianças precisam ter algumas características, como serem lúdicos e estimularem a recreação. Além disso, é essencial a presença de profissionais especializados.

Falta de espaços adequados


Para ele, as escolas deveriam se adaptar às necessidades das mães adolescentes, como é o caso do colégio de Santa Rosa de Lima. “Muitas vezes, as mães precisam faltar para levar a criança para vacinar ou ao médico. Elas podem acabar se atrasando e, muitas vezes, são impedidas de entrar ou são reprovadas, têm dificuldades em provas e trabalhos”, comenta o advogado.

No Centro de Excelência Dr. Edelzio, os professores ajudam as alunas que têm filhos com apoio para levar o bebê para o médico e, até mesmo, mudando o planejamento de algumas aulas para facilitar a inserção da mãe na disciplina.

Um momento para mãe e filho


Em Santa Rosa de Lima, nós acompanhamos um dia de aula com Joana Santos e o filho, Murilo, no Centro de Excelência Dr. Edélzio. Com o apoio dos professores e colegas de classe, que pegam o bebê no colo para que ela consiga concluir trabalhos e outras atividades normais da rotina escolar, Joana se esforça para não ficar para trás na turma.

A massagem shantala, que faz parte do Bebê a Bordo e se tornou uma disciplina fixa na escola, é oferecida às alunas que são mães no intervalo entre o turno da manhã e o da tarde. O Dr. Edélzio funciona com o sistema de Ensino Médio em tempo integral.

Segundo a professora Gleide Leandro, criadora do projeto, outras iniciativas, como aulas de primeiros-socorros e cuidados básicos com bebês foram incluídas desde o início dos trabalhos voltados para as mães.

A história da massagem shantala


A shantala foi descoberta na Índia, mas sua origem é incerta, segundo pesquisadores da terapia. A técnica é usada pelas mulheres em seus bebês há mais de mil anos, mas a prática ficou conhecida mundialmente só a partir de 1976, após o escritor e médico obstetra francês Frédérick Leboyer começar a divulgá-la na Europa.

  • O especial 'Antes da Hora' é publicado semanalmente nas versões impressa e digital Soraia Piva/EM/D.A Press
Ele lançou um livro, intitulado “Shantala”, no qual explicava todo o procedimento da massagem. O nome foi uma homenagem à mãe que o ensinou a técnica e que autorizou o uso de sua imagem para divulgar a publicação.

Entre os principais benefícios prometidos pela shantala estão o aumento da conexão entre mãe e filho, a estimulação da resistência imunológica, a melhoria da digestão e o relaxamento do bebê.

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