JULGAMENTO

Flordelis declara que 'abusos' cometidos por Anderson motivaram assassinato

Embora negue participação no crime que tirou a vida de Anderson dos Santos, ex-deputada atrela homicídio a práticas abusivas do pastor. Segundo a acusada, tanto ela, quanto filhas e netas, foram vítimas do marido

Raphael Felice
postado em 13/11/2022 03:55
 (crédito:  Brunno Dantas/TJRJ)
(crédito: Brunno Dantas/TJRJ)

Ré no caso da morte do marido Anderson do Carmo, a ex-deputada federal Flordelis dos Santos de Souza declarou, em interrogatório realizado ontem no Tribunal do Júri de Niterói (RJ), que os "abusos" cometidos pelo pastor dentro de casa motivaram o assassinato. Foi a primeira vez que ela falou, desde o início do julgamento, na segunda-feira (7).

"Eu só queria dizer pros jurados que, em momento algum, eu mandei ou pensei em matar o meu marido. Eu estou na cadeia hoje pagando por algo que eu não fiz. Eu amava o meu marido. Está sendo muito difícil para mim", afirmou a ex-parlamentar.

Flordelis seguiu a estratégia montada pelos advogados de atribuir a Anderson do Carmo um comportamento abusivo, tanto com ela quanto com as filhas e as netas, e alegou não ter denunciado os supostos ocorridos por vergonha. Ao longo do interrogatório, a ex-parlamentar chorou por diversas vezes e chegou a ser questionada por um dos jurados se o choro "era real". A ré confirmou que sim.

Flordelis também contou que foi agredida por Anderson do Carmo em um período do relacionamento. Segundo a política, o pastor parou com as agressões com o passar do tempo, mas manteve o comportamento abusivo durante relações sexuais com ela.

"Ele (Anderson) me batia. Depois, ele parou com essa prática de me bater e se tornou uma coisa, assim, muito doída, sofrida. Ele voltou a ficar agressivo na área sexual. Meu marido só sentia prazer se me machucasse. Ele só chegava às vias de fato (orgasmo) se me machucasse", disse.

Ela também recordou das condenações de dois filhos no caso. Flávio dos Santos Rodrigues e Lucas Cézar dos Santos de Souza foram julgados culpados pelo assassinato. No entanto, Flordelis também negou ter conhecimento da participação da dupla, pois não estava presente na cena do crime.

"Eu não posso acusar ninguém, eu não estava presente no local, eu não vi. Eu não posso afirmar. Meu filho Flávio foi sentenciado e meu filho Lucas foi sentenciado."

Além de Flordelis, foram ouvidas sete testemunhas de defesa. Todas confirmaram que o pastor praticou assédio e abuso sexual contra filhas e netas do casal. Entre os depoimentos, duas netas de Flordelis — Rafaela dos Santos Oliveira e Lorrayne dos Santos Oliveira — relataram abusos que teriam sido cometidos por Anderson.

Segundo Rafaela, durante um período de férias em "2018 ou 2019", ela e outros familiares dividiram o quarto, quando o pastor teria passado as mãos pelo seu corpo. Como estava de noite, ela relatou que as outras pessoas deviam estar dormindo.

"Senti uma mão subindo pela coxa e não conseguia reagir. Quando abri o olho vi o Niel (apelido do pastor Anderson) de blusa regata branca, sentado. Ele subiu a mão pelas minhas coxas e introduziu o dedo, eu fechei a perna e virei para a parede", relatou a vítima.

Processo

Além de Lucas e Flávio, condenados pelo assassinato, também foram responsabilizados pela justiça: Carlos Ubiraci Francisco da Silva, Marcos Siqueira Costa (ex-policial militar), Andrea Santos Maia (mulher de Marcos Siqueira) e Adriano dos Santos Rodrigues (filho biológico de Flordelis). Todos foram sentenciados por uso de documento falso e por associação criminosa armada.

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