questão indígena

Parentes do governador de Roraima são alvo de operação da Polícia Federal

Irmã e sobrinho de Antonio Denarium são alvo da PF, que apura esquema relacionado à exploração de ouro na terra ianomâmi

Vinicius Doria
postado em 11/02/2023 03:55 / atualizado em 11/02/2023 06:50
 (crédito: Reproduções/Redes sociais)
(crédito: Reproduções/Redes sociais)

A Polícia Federal (PF) cumpriu, ontem, oito mandados de busca e apreensão, com bloqueio de bens, em Roraima e em Pernambuco. Entre os endereços que foram alvo dos agentes está o de Vanda Garcia de Almeida, irmã do governador de Roraima, Antônio Denarium (PP), e de um sobrinho dele, Fabrício de Souza Almeida. Os dois são suspeitos de participar de um esquema de lavagem de dinheiro envolvendo ouro ilegal retirado da Terra Indígena Yanomami. Os mandados foram expedidos pela 4ª Vara da Justiça Federal em Boa Vista.

Na casa de Fabrício, que foi preso em 2010 com diamantes sem documentação legal, os policiais encontraram nove armas. Em princípio, todas legais, já que o sobrinho do governador tem registro de CAC (colecionador, atirador ou caçador).

Em outro endereço, foram apreendidas cinco toneladas de cassiterita, mineral de onde é extraído o estanho, largamente usado pela indústria em ligas metálicas. A cassiterita é extraída nas mesmas lavras abertas ilegalmente nos rios amazônicos pelo garimpo de ouro. A apreensão fortalece a suspeita de envolvimento da quadrilha com a mineração nas terra ianomâmis.

De acordo com a PF, os suspeitos seriam integrantes de uma organização criminosa que pode ter movimentado R$ 64 milhões nos últimos dois anos apenas com a lavagem de dinheiro do garimpo ilegal. Empresas de fachada também estão sendo investigadas por acobertar a compra do ouro e dar "aspecto de legalidade às transações financeiras".

"Suspeitos receberiam valores de diversos financiadores pelo Brasil e sacariam ou transfeririam os valores para pessoas e empresas no estado de Roraima, as quais seriam responsáveis pela compra de ouro ilegal", informou a PF, na página da corporação na internet. A operação foi batizada de BAL, sigla em inglês de British anti-Lewisite, ou dimercaprol — substância usada como antídoto para envenenamento por metais pesados como o mercúrio, usado por garimpeiros para separar o ouro dragado dos rios amazônicos.

Abordagem

A investigação foi aberta depois que agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) abordaram um carro durante uma operação de rotina em uma rodovia do estado. Os ocupantes tentaram ocultar que haviam feito uma viagem a Rondônia, além de outras "inconsistências" nos depoimentos prestados. A PRF encaminhou os suspeitos para a PF, que assumiu as investigações.

Apesar de Roraima não ter, oficialmente, nenhuma área de mineração legal de ouro, o metal é quase moeda corrente em Boa Vista e nas cidades do interior. Extraído ilegalmente da reserva dos ianomâmis, o ouro é "esquentado" por uma rede de compradores ilegais (incluindo joalherias e oficinas de restauro de joias na capital do estado) e distribuidoras de títulos e valores mobiliários (DTVMs), que legalizam o produto por meio de declarações dos vendedores de que foi extraído de áreas autorizadas. Mas, a maior parte do metal é levada para fora de Roraima clandestinamente por aviões a serviço do garimpo e tornada legal em lavras autorizadas em outras unidades da Federação.

Em nota da assessoria, Antonio Denarium informou que "desconhece o teor da investigação contra sua irmã e espera que as eventuais responsabilidades sejam apuradas na forma da lei". Declarou ainda que está à disposição da PF para esclarecimentos e que "continuará colaborando com as ações em conjunto com o governo federal para a solução da crise" dos ianomâmis. O governador não é citado nas investigações da PF. A irmã e o sobrinho dele não responderam aos contatos feitos pela imprensa para explicar por quê estão sendo investigados.

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