Jornal Correio Braziliense

SAÚDE

52% das mulheres fazem primeiro aborto na adolescência, mostra pesquisa

Em um universo de duas mil mulheres ouvidas pela pesquisa, um quinto interrompeu a gravidez mais de uma vez durante a vida reprodutiva; 74% delas são negras

A Pesquisa Nacional de Aborto 2021 (PNA 2021), conduzida por pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) em colaboração com a Universidade Estadual do Piauí e a Columbia University, descobriu que, em 52% dos casos, o primeiro aborto ocorreu ainda na adolescência, com 19 anos ou menos. Mais de um quinto (21%) interrompeu a gravidez mais de uma vez na vida, sendo em 74% dos casos, mulheres negras.

Ao todo, 67% das entrevistadas teve o último aborto realizado no intervalo de idade entre os 20 aos 39 anos.

Essas são informações inéditas, já que nenhum outro levantamento buscou o recorte sobre o número total de abortos realizado durante a vida reprodutiva das mulheres. Foram ouvidas aproximadamente duas mil mulheres, de área urbana. 

“Esse dado revela um subgrupo de mulheres que se deparam com níveis mais altos de vulnerabilidade em suas vidas reprodutivas e que provavelmente estão expostas ao aumento de resultados negativos na saúde”, explica um trecho da pesquisa.

Apesar disso, a pesquisa também revelou que existe um declínio no número de mulheres que tomariam a decisão de realizar um aborto durante a vida — em 2010, 15% confirmaram; em 2018, esse número caiu para 13%; e em 2021, foram 10%. Da mesma forma, ocorreu um declínio global de gravidezes indesejadas, assim como a tendência de uso de contraceptivos reversíveis ou de longa duração.

No entanto, no Brasil, continuam altas as porcentagem de mulheres que não planejaram engravidar, são duas a cada três mulheres que estão nessa situação. Também há disparidade entre mulheres mais jovens, pobres, com níveis de escolaridade mais baixos, indígenas e residentes de áreas rurais no uso de contraceptivos.

O levantamento mostrou, ainda, que diminuiu o uso de medicamentos para estimular a expulsão do feto, de hospitalizações e internações em decorrência de alguma complicação do aborto.

Isso pode estar relacionado à escolha, sobretudo de mulheres de classes média e alta, de realizar o procedimento em consultórios. Outro fator pode ser a diminuição da capacidade dos hospitais em disponibilizar leitos por causa da pandemia do covid-19.

"Ao longo dos últimos 11 anos (2010-2021), evidências mostram que o aborto permanece um evento comum na vida de mulheres e um problema de larga escala na saúde pública do país", esclarece a pesquisa.