Violência na Amazônia

Em nova onda de violência, ianomâmis ficam no fogo cruzado contra garimpo

Governo aponta conluio entre crime organizado e garimpo ilegal na Amazônia. Comitiva vai a Roraima após um indígena morrer em confronto. Segundo a Polícia Rodoviária Federal, agentes e servidores do Ibama foram recebidos a bala

Renato Souza
postado em 02/05/2023 03:55
 (crédito: Reprodução)
(crédito: Reprodução)

Quatro garimpeiros ilegais foram mortos durante uma operação realizada pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) e pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama) na Terra Indígena Yanomami, em Roraima, no último domingo. Segundo a corporação, agentes e servidores do órgão fiscalizador foram atacados durante o desembarque de uma aeronave.

Segundo o governo federal, há indícios de que os garimpeiros podem estar envolvidos em organizações criminosas. As forças policiais foram até o local após a morte de um indígena. Outros dois ficaram feridos. Em nota, a PRF informou que os atiradores estavam "munidos de armamento de grosso calibre", e que atiraram contra a equipe assim que os agentes tentaram sair do avião que levou as equipes até o local. Os policiais responderam aos disparos e acertaram os homens.

A PRF disse, também, que foram identificados assentamentos de garimpeiros nas terras Maikohipi e Palimiú — criados para tentar impedir o trabalho das autoridades — e que nestas localidades, também ocorreram investidas criminosas contra equipes enviadas para combater a extração ilegal de minérios.

A força-tarefa, batizada de "Ouro Mil", ocorreu um dia após três indígenas terem sido baleados na região: um deles não resistiu aos ferimentos e morreu. No local onde os garimpeiros foram mortos, de acordo com a PRF, foi encontrado um arsenal de armas.

"Esta não é a primeira vez que agentes federais são recebidos a tiros por garimpeiros ilegais na terra indígena ianomâmi. Recente histórico aponta para ocorrências em outros acampamentos clandestinos, como nas comunidades Maikohipi e Palimiú, sempre na tentativa de inibir o trabalho de desintrusão das terras demarcadas", ressaltou o comunicado da corporação sobre o caso.

Em 21 de janeiro, o governo federal declarou emergência de saúde pública dos povos ianomâmis. Foi detectada a ausência de acesso a medicamentos, serviço médico e quadro grave de fome, além de casos de malária entre os integrantes das comunidades tradicionais. Uma comitiva enviada pelo Executivo identificou um cenário de extrema gravidade gerada pela fome, devastando os indígenas e elevando os índices de mortalidade infantil na região.

O Relatório da Missão Yanomami, divulgado pelo Ministério da Saúde no início ano, mostrou que as mortes de bebês recém-nascidos representaram quase 60% dos óbitos em menores de um ano de 2018 a 2022 na localidade. A principal causa identificada foi a desnutrição.

Pobreza

Outro levantamento, elaborado pela Organização das Nações Unidas (ONU), apontou que a fome na Terra Yanomami é dez vezes maior que no resto do país e supera taxas de países como Serra Leoa e República Centro Africana — onde estão as áreas com maiores índices de pobreza do planeta.

A invasão de garimpeiros é outro agravante, pois levou doenças e acabou com plantações e regiões usadas pelos indígenas para cultivar alimentos. A situação piorou nos últimos quatro anos em razão da ausência de políticas de proteção ao meio ambiente, chegada da pandemia de covid-19 no Brasil e o desmonte de órgãos ambientais, como o Ibama.

A situação de emergência sanitária permanece e permite que o Poder Executivo desloque médicos de outras regiões do país, assim como utilize a estrutura das Forças Armadas para o transporte de remédios e mantimentos. Não é possível acessar as aldeias por terra, por isso existe a necessidade de ações especiais de transporte para atender quem vive na região, sem prazo para terminar. O garimpo ilegal também afeta rios, fazendo com que a água se torne imprópria para o consumo.

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