O ex-presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Marcelo Xavier, e o ex-coordenador de Monitoramento Territorial do órgão, Alcir Amaral Teixeira, foram indiciados pela Polícia Federal (PF), ontem, por homicídio qualificado e ocultação de cadáver. Os dois responderão por homicídio com dolo eventual pelos assassinatos do indigenista Bruno Araújo Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips. Xavier e Alcir não teriam contido a violência na região, mesmo tendo a obrigação de fazê-lo.
A PF aponta que Xavier e Teixeira não reagiram como deveriam depois do assassinato do servidor Maxciel Pereira dos Santos, morto em 2019 com dois tiros na cabeça, em Tabatinga (AM), município pelo qual se chega ao Vale do Javari — onde Bruno e Dom foram mortos. Em uma reunião realizada em 9 de outubro daquele ano, com a equipe da Funai, o indigenista foi alertado sobre os riscos na região e teria ignorado pedidos de requerer medidas de proteção feito por servidores do órgão, que atuam na região. Maxciel era amigo de Bruno e ambos atuavam no combate ao garimpo ilegal na região onde aconteceram os crimes.
Xavier e Teixeira são delegados federais e foram colocados na Funai pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. De acordo com fontes ligadas às investigações, ficou constatado que os dirigentes da fundação tiveram acesso a informações suficientes para saber que novos assassinatos — como os de Bruno e Dom — poderiam ocorrer na localidade, e que ativistas e servidores poderiam ser alvos de criminosos. Mesmo assim, Xavier e Teixeira não teriam intercedido para prevenir a possibilidade de novos homicídios.
Uma das evidências de que novos assassinatos eram iminentes foram os ataques a tiros contra a sede da Funai na região do Vale do Javari. Os investigadores entenderam que Xavier e Teixeira não tinham intenção de que Dom e Bruno fossem mortos, mas assumiram o risco de que o crime poderia ocorrer.
Depois que Bruno e Dom desapareceram (veja quadro abaixo com a cronologia do episódio), Xavier afirmou que os dois deveriam ter solicitado autorização para entrar na região. As declarações geraram um episódio de hostilidade para o então presidente da fundação.
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Constrangimento
Em 21 de julho do ano passado, o ex-funcionário da Funai Ricardo Rao expulsou Xavier da assembleia geral do Fundo para o Desenvolvimento dos Povos Indígenas da América Latina e Caribe (Filac), que contava com a presença de indígenas e organizações que lutam em favor dos seus direitos. O evento se realizava em Madri e Rao, aos gritos, chamou o então presidente da Funai de "miliciano" e o culpou pelos assassinatos do indigenista e do jornalista.
"Ele é responsável pela morte de Bruno e Dom Phillips. Você é um miliciano, bandido", gritou Rao, apontando para Xavier, que se retirou da assembleia.
No período em que se faziam buscas para se descobrir o paradeiro dos dois, Bolsonaro também criticou o indigenista e o jornalista, chegando a dizer que "esse inglês era malvisto na região".
O Correio revelou que quase um ano depois das mortes, o Vale do Javari ainda vive uma situação de violência descontrolada. As defesas de Xavier e Teixeira não foram encontradas para comentar os indiciamentos.
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