Não ao racismo

Podcast do Correio: representante da ONU fala em valorização do "ser negro"

Ana Carolina Querino, integrante da ONU Mulheres Brasil, defende ações mais firmes para combater o preconceito de gênero e de raça. Ela lembrou que as mulheres pretas são as mais prejudicadas no mercado de trabalho

Henrique Fregonasse*
postado em 31/05/2023 23:05 / atualizado em 31/05/2023 23:11
 (crédito: Ana Dubeux)
(crédito: Ana Dubeux)

Convidada do Podcast do Correio desta quarta-feira (31/5), Ana Carolina Querino, representante adjunta da ONU Mulheres Brasil, comentou os desafios para o país combater a desigualdade de gênero e o preconceito racial contra as mulheres pretas.

Na conversa, Querino destacou o mito da democracia racial no Brasil. Para ela, apesar das iniciativas do Estado para combater a discriminação, esses esforços ainda são insuficientes para banir esse traço da sociedade brasileira. A especialista considera fundamental implementar políticas e ações focadas na resolução do problema.

Ana Carolina argumentou que a Década Internacional de Afrodescendentes, proclamada pela ONU como abrangendo o período entre 2015 e 2024, acabou não sendo implementada na sua potencialidade. Para a representante adjunta, ações de Estado "deixaram a desejar", principalmente por não virem acompanhadas de estímulos monetários que "garantissem o arranque das iniciativas".

Valorização do negro

A valorização do “ser negro” foi um ponto defendido pela representante adjunta. Ela alegou que existe uma cultura histórica de negação das contribuições tecnológicas e culturais trazidas pela presença negra no Brasil, e que o reconhecimento dessas contribuições facilitaria que as pessoas “passassem a se reconhecer e se aceitar como negros”.

“Hoje é mais fácil ver pessoas demonstrando o orgulho negro. O racismo cria valores negativos para o povo negro e nega a possibilidade de contribuição para a sociedade: causa a desumanização da pessoa negra”, afirmou Querino.

Segundo a representante da ONU Mulheres Brasil, a desigualdade é ainda maior quando se trata de mulheres negras. Ela lembrou que as mulheres ainda têm participação inferior aos homens no mercado de trabalho, e essa desigualdade é ainda maior em relação a mulheres negras, tanto em relação ao salário quanto ao acesso ao emprego. Para Ana Carolina, é importante criar possibilidades para que as mulheres aumentem sua participação no mercado, ao mesmo tempo que é necessário lutar contra a violência contra a mulher, a qual é ainda maior entre os negros.

Movimento feminista

Ana Carolina Querino mencionou o trabalho da ONU Mulheres, braço das Nações Unidas voltado para combater a desigualdade de gênero, entre outras frentes. A divisão foi criada em 2011, em meio a um contexto de reforma na ONU. Segundo ela, a ONU Mulheres “vem como uma demanda do movimento feminista por mais poder para as mulheres”.

Ana Carolina mencionou a Década das Mulheres, instituída na I Conferência Mundial da Mulher da ONU, de 1975 a 1985. Querino definiu esse período como um “momento para estabelecer a agenda feminista num contexto global”, com objetivo de dar visibilidade global ao tema.

Ana Carolina mencionou, também, a Declaração de Pequim, publicada pela ONU em 1995, que, segundo ela, atua como um documento norteador para a atuação da ONU Mulheres. O documento levanta 12 áreas críticas de atuação e, segundo ela, atua como um roteiro para o avanço dos direitos humanos das mulheres.

A secretária adjunta defende a luta pelos direitos das mulheres como uma preocupação de toda a sociedade. “Temos que tratar do tema a partir da perspectiva de que os direitos das mulheres são os direitos humanos”.

Para assistir a íntegra do Podcast do Correio:

*Estagiário sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza

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