crime organizado

Coronel informante de garimpeiros é alvo da PF

Escutas descobrem que oficial do Exército alertava exploradores ilegais para operações contra retirada de ouro de reserva indígena. Ele responde a IPM dentro da Força e foi removido para o Paraná, mas continuou passando dados irregularmente

Vinicius Doria
postado em 28/06/2023 03:55
 (crédito: twitter/policiafederal)
(crédito: twitter/policiafederal)

Suspeito de ser informante de garimpeiros que atuam ilegalmente na fronteira do Brasil com a Colômbia, o tenente-coronel do Exército Abimael Alves Pinto foi alvo, nesta terça-feira, de uma operação de busca e apreensão da Polícia Federal (PF), em Ponta Grossa (PR). Áudios gravados com autorização judicial flagraram o militar alertando chefes dos garimpeiros sobre operações de fiscalização na região da Reserva Juami-Japurá (AM).

De acordo com as investigações, Abimael havia prestado serviço no interior do Amazonas, mas, com as suspeitas que recaíam sobre ele — e para estancar os vazamentos ilegais —, o Exército abriu um Inquérito Policial Militar (IPM) contra o tenente-coronel e o transferiu para Ponta Grossa. A PF apurou que, mesmo no Paraná, o militar continuou repassando informações aos garimpeiros.

O Comando Militar do Sul (CMS) confirmou, em nota, que participou da ação policial para cumprimento de mandados de busca e apreensão da Operação Jurupari. "O Comando da 5ª Brigada de Cavalaria Blindada, conforme determinação da Justiça Militar da União e em conformidade com o IPM instaurado, executou mandados de busca e apreensão na residência de militar envolvido em investigação. A operação se revestiu dos princípios legais e foi executada pelo Exército brasileiro com o apoio da Polícia Federal (PF). O inquérito corre sob segredo de justiça, a fim de não prejudicar as investigações", salienta o CMS.

Abimael e outros investigados são suspeitos de receber mesada dos garimpeiros em troca de informações sobre operações policiais na região explorada pela atividade ilegal. O dinheiro era depositado em contas bancárias da mulher do militar. Em uma das gravações feitas pela PF, ele é explícito ao vazar para um comparsa dados sobre uma operação que estava sendo deflagrada contra a extração ilegal — citou, inclusive, um "camarada" que o ajuda.

"Acabei de falar, aqui, com o meu camarada, e a missão da 2ª Brigada, que é do pessoal de São Gabriel da Cachoeira (AM), realmente está subindo o rio naquela direção. Seria bom ele sair de lá por enquanto", recomendou Abimael, em um dos telefonemas grampeados.

Em outra gravação — ambas divulgada pela TV Globo —, o tenente-coronel diz que um dos alvos da PF "tem dois dias e meio para sair de lá. De noite a gente não opera. Então, fala para ele que ele tem até quarta-feira para sair. E, aí, quando ele puder voltar, eu aviso".

Para os investigadores, o desbaratamento da rede de informações é fundamental para garantir o sucesso das operações nas áreas mais remotas da Floresta Amazônica, nas quais os agentes precisam enfrentar longas distâncias por rios e igarapés para chegar aos acampamentos e às dragas da extração ilegal de ouro.

"Japurá é de difícil acesso. Para chegar, é necessário um forte empenho, tanto de pessoal como de valores financeiros. Já existe esta dificuldade e, quando a gente consegue, ainda há pessoas colocando em risco tanto a segurança dos integrantes da equipe como da operação", disse o chefe da Força Tarefa de Segurança Pública Ambiental da PF, delegado Adriano Sombra.

Segundo ele, Abimael repassava informações não só do Comando do Exército, mas de operações conjuntas na Região Amazônica articuladas por órgãos como Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e PF. Por isso, os investigadores creem que haja mais servidores públicos envolvidos no vazamento dos dados.

Joias e relógios

Também foram cumpridos mais sete mandados de busca e apreensão, e três de prisão — dois em Manaus e um em Porto Velho — pela Jurupari. A operação de ontem é desdobramento de investigações que começaram em 2020, com a prisão, em Ji-Paraná (RO), de duas pessoas que transportavam um lingote de ouro sem documentação. A partir da apreensão dos telefones celulares da dupla, a PF descobriu uma grande rede de proteção e de lavagem de dinheiro da atividade garimpeira ilegal em áreas remotas da Amazônia.

A Jurupari mobilizou 20 agentes e 10 militares do Exército. Em Manaus, foram apreendidos documentos, relógios e joias em um endereço ligado aos investigados. Os mandados de prisão preventiva e de busca e apreensão foram expedidos pela 7ª Vara Federal Ambiental e Agrária no Amazonas, que também determinou o bloqueio de dinheiro dos envolvidos, incluindo empresas ligadas ao esquema de lavagem de dinheiro proveniente da extração de ouro, e o sequestro de bens.

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