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Refugiados afegãos são levados para o litoral de São Paulo

Grupo que está acampado no Aeroporto de Guarulhos começa a ser abrigado em imóvel de sindicato, no litoral paulista. Entre eles surgiu um surto de sarna devido às condições precárias em que têm vivido

Correio Braziliense
postado em 01/07/2023 03:55
 (crédito: Paulo Pinto/Agencia Brasil)
(crédito: Paulo Pinto/Agencia Brasil)

Os cerca de 150 refugiados afegãos que estão acampados no Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos (SP), começaram a ser levados, ontem, para um abrigo em Praia Grande, no litoral paulista. A transferência deve ser concluída hoje, segundo o governo federal.

Um surto de escabiose (conhecida como sarna humana) atinge o grupo há cerca de uma semana. Conforme a Prefeitura de Guarulhos, 21 ocorrências da doença foram confirmadas. Os casos atingem desde famílias inteiras a crianças.

Diante da situação, o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) informou que o grupo está sendo acolhido nas dependências do Sindicato dos Químicos de Praia Grande. "O trabalho está acontecendo em parceria com governo de São Paulo, Prefeitura de Praia Grande, Prefeitura de Guarulhos, com Acnur (agência da ONU para refugiados), Cáritas e outras entidades da sociedade civil envolvidas com a temática", informou a pasta, em nota.

Na quinta-feira, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, chegou a dizer que os afegãos seriam acolhidos em hotéis, de forma temporária. Porém, a decisão pela remoção para a sede do Sindicato dos Químicos se deu por causa da falta de vagas nos chamados "hotéis de passagem", que estão totalmente ocupadas em São Paulo.

Sem banho

Há duas semanas no Brasil, o analista de logística Mohsen Kabiry, de 38 anos, se preparava para dormir mais uma noite no chão do aeroporto. Sem saber falar inglês, ele pediu ajuda a outro afegão para dizer que metade dos nove parentes que vieram com ele estava com sarna.

Já o casal de artistas Nematollah Vali, 29, e Forouzan Sediqi, 28, também foi afetado pelo surto. "Quando cheguei, não tomei banho por uma semana. Então, comecei a enfrentar problemas com minha pele", disse Forouzan. Na maioria dos dias, os afegãos não têm acesso a banheiros com chuveiro no aeroporto. "Por sorte, conseguiram me levar para tomar banho e melhorou um pouco", relatou.

Para se higienizar, muitos têm a ajuda de voluntários e até de um hotel na região, que oferece cerca de 20 banhos diários aos refugiados. Mas há outros problemas. Os afegãos se queixam de mofo e infiltração nas paredes, cheiro ruim nas cobertas e dificuldade de se adaptar. "Por quatro dias, só comi biscoito e água", disse Forouzan.

A situação se estende há cerca de um ano, após o Brasil conceder visto humanitário por conta da tomada de poder no Afeganistão pelo grupo extremista Talibã. "O que está acontecendo é uma tragédia anunciada. A gente já sabia disso (condições precárias) desde agosto do ano passado, quando eles já passavam 15, 20 dias sem banho", lamentou Aline Sobral, atual presidente do Coletivo Frente Afegã.

Segundo o coletivo, são 175 refugiados acampados no aeroporto, todos muçulmanos — só nesta semana, mais 35 foram acolhidos. Em geral, eles ficam em torno de três semanas esperando acolhimento. Cerca de três a quatro voos chegam, por dia, do Oriente Médio, com a possibilidade de trazer novos afegãos precisando de ajuda.

 

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