O costume de cheirar um livro novo antes de começar a lê-lo vai além de um simples hábito, revelando aspectos profundos da personalidade de quem cultiva essa prática, ligada à experiência sensorial e ao vínculo emocional com a leitura.
Por que algumas pessoas sentem prazer ao cheirar livros novos?
O prazer ao cheirar um livro novo está, em grande parte, no aroma característico do papel e dos produtos químicos usados na impressão. Esse gesto revela uma preferência por experiências táteis e sensoriais, algo que resiste mesmo diante da realidade digital atual. Um estudo publicado em Heritage Science identificou que compostos orgânicos voláteis liberados pelo papel, tintas e colas explicam o aroma característico de livros, um cheiro frequentemente associado a prazer sensorial. (Pearce et al., 2009).
Tal comportamento mostra apreço por detalhes e pela experiência analógica, promovendo momentos de pausa antes de mergulhar na narrativa. Muitas dessas pessoas, mesmo sendo adeptas da tecnologia, valorizam os encantos dos livros físicos.
Quais fatores explicam o apego emocional ao cheiro dos livros?
O apego emocional ao cheiro de livros é decorrente da capacidade dos aromas de despertar emoções. Quando sentem esse aroma, as pessoas revivem memórias de outras leituras prazerosas e períodos importantes de suas vidas. Pesquisas mostram que cheiros ativam áreas cerebrais ligadas à emoção e à memória autobiográfica com muito mais intensidade do que estímulos visuais ou auditivos (Herz, 2016).
Existe uma transição natural entre a percepção do cheiro e as lembranças que ele ativa. Essa conexão é explicada pela chamada memória proustiana, nomeada em homenagem ao escritor Marcel Proust, que descreveu como cheiros podem evocar memórias. Estudos sobre a chamada ‘memória proustiana’ mostram que odores evocam lembranças vívidas, emocionais e antigas com muito mais força que qualquer outro sentido. (Willander & Larsson, 2009).

Entenda os aspectos psicológicos por trás do hábito de cheirar livros
Do ponto de vista psicológico, quem ama cheirar livros frequentemente demonstra afinidade profunda com a leitura e os rituais literários. Esse gesto é considerado, inclusive, uma espécie de preparação emocional para a experiência da leitura.
Para deixar mais claro, veja alguns traços comuns aos amantes desse hábito:
- Valorização da experiência sensorial, além do conteúdo intelectual
- Apreço pela nostalgia e por lembranças felizes associadas a leituras passadas
- Paciência e atenção aos detalhes, demonstradas pelo tempo dedicado ao ritual
- Busca de conexão emocional com o objeto físico, além da história escrita
Por que o amor pelos livros físicos persiste mesmo com o avanço da tecnologia?
Apesar das facilidades oferecidas pelo mundo digital, o apreço pelos livros físicos permanece forte. O cheiro, o toque e a presença do livro compõem uma experiência sensorial ampla, que muitos leitores consideram insubstituível.
Esse vínculo demonstra que a relação com os livros vai além do conteúdo: envolve uma imersão afetiva e sensorial. Ao manter esse hábito, as pessoas não apenas leem histórias, mas também vivenciam sentimentos que transcendem as palavras impressas na página.
Referências bibliográficas
- Pearce, J. et al. (2009). The smell of old books: Characterization of volatile organic compounds and origin. Heritage Science.
- Herz, R. S. (2016). The emotional, cognitive, and biological basics of olfaction. Cortex.
- Willander, J., & Larsson, M. (2009). Smell your way back: Odor-evoked autobiographical memories. Neuropsychologia.








