Em tempos de agendas cheias e pressão constante, o modo como cada pessoa escolhe passar as férias revela mais do que simples preferências de viagem. Para alguns, descansar significa voltar sempre ao mesmo destino, com rotinas conhecidas e poucos imprevistos; para outros, férias só fazem sentido se envolverem novidade, deslocamento para lugares desconhecidos e quebra total da rotina,.
Por que o destino de férias revela tanto sobre o comportamento
A escolha de um destino de férias costuma envolver fatores práticos, como orçamento, tempo disponível e companhia, mas também toca em camadas subjetivas. Estudos em psicologia indicam que necessidade de segurança, busca por estímulos, tolerância à frustração e preferência por rotina ou mudança influenciam intensamente o planejamento (Çelebi; Gungor e Kaya, 2025).
Ao planejar uma viagem, a pessoa ativa expectativas, memórias e projeções, transformando o período de descanso em um espelho do próprio modo de decidir. Assim, o comportamento nas férias pode indicar como alguém lida com decisões complexas, com excesso de opções e com a pressão de “aproveitar bem o tempo livre”.
Esse tipo de comportamento de repetir padrões já conhecidos acontece em outros setores da vida também, como por exemplo ao assistir sempre os mesmos filmes e séries. Essa explicação pode ser vista no vídeo abaixo da psicanalista Bella Riecken:
@bellariecken Também pode ser apenas uma memória afetiva! ✨ #Trauma #Psicanalise #SeriesNetflix ♬ Algo Novo – Ton Carfi
O que está por trás da preferência por um destino de férias repetido
Entre aqueles que retornam ao mesmo lugar ano após ano, a psicologia aponta elementos recorrentes, como a forte busca por previsibilidade. Saber onde fica cada serviço, quais restaurantes funcionam bem, como é o clima e que tipo de público circula reduz incertezas e facilita o relaxamento mental.
Também é comum a construção de um intenso vínculo afetivo com o destino, associado a lembranças de viagens em família, celebrações importantes ou períodos em que o descanso foi especialmente restaurador. Além disso, a chamada economia mental se destaca, pois muitos detalhes logísticos já estão resolvidos de antemão, diminuindo a carga cognitiva ao decidir.
- Menos tempo gasto pesquisando opções de hospedagem, passeios e transporte.
- Menos risco de frustração com surpresas negativas e expectativas não atendidas.
- Maior sensação de controle sobre o ambiente e sobre o próprio ritmo de descanso.
- Espaço favorável à introspecção e ao descanso silencioso, sem excesso de estímulos.
O que busca quem prefere novidade no destino de férias
No outro extremo, há quem associe descanso à novidade constante. Para esse grupo, o destino ideal é sempre um lugar ainda não explorado, em que o prazer está em descobrir novas paisagens, aromas, sons, hábitos e até desafios que se distanciam do cotidiano conhecido (Hohl e Dolcos, 2024).
Nessa perspectiva, o destino de férias funciona como um laboratório de experiências, ampliando repertórios pessoais e sociais por meio da interação com culturas, costumes e idiomas diferentes. Eventuais imprevistos são vistos como parte do processo, sinalizando alta abertura à experiência, curiosidade e boa tolerância à imprevisibilidade.
- Explorar lugares pouco conhecidos ou fora dos roteiros turísticos tradicionais.
- Experimentar gastronomia local e atividades típicas da região visitada.
- Registrar novas memórias em contextos sempre diferentes ao longo dos anos.
- Ampliar contatos sociais e redes de convivência com pessoas de perfis diversos.

Como o destino de férias se conecta ao perfil psicológico de cada pessoa
De forma geral, a escolha entre repetir ou variar o destino costuma se alinhar a traços de personalidade e ao modo como cada pessoa gerencia o próprio estresse. Quem valoriza rotina e estabilidade tende a priorizar ambientes familiares, enquanto quem se sente estimulado por mudanças enxerga nos lugares novos uma oportunidade de expansão pessoal.
Em ambos os casos, o destino de férias ajuda na recuperação física e emocional após períodos intensos de trabalho ou estudo, seja por meio de cenários conhecidos que transmitem segurança, seja pela exposição a novos contextos que renovam perspectivas. Observar esse padrão ao longo dos anos oferece pistas sobre o que cada indivíduo realmente precisa para se sentir descansado e equilibrado.
Referências bibliográficas
- Yazıcı Çelebi, G., Güngör, S. & Kaya, F. The role of cognitive flexibility and psychological well-being in the effect of mindfulness on problematic internet use. Sci Rep 15, 31373 (2025).
- Hohl, Kelly; DOLCOS, Sandra. Measuring cognitive flexibility: A brief review of neuropsychological, self-report, and neuroscientific approaches. Front. Hum. Neurosci., Sec. Cognitive Neuroscience, 2024.










