Não gostar de tirar fotos é uma atitude mais comum do que costuma ser comentado no dia a dia. Em muitos contextos sociais, ser fotografado é visto quase como uma obrigação, o que pode fazer com que quem não se sente à vontade acabe se perguntando se há algo de errado com essa reação.
Como a emoção influencia o desconforto em tirar fotos
Do ponto de vista emocional, o ato de posar para uma câmera pode ser vivido como um momento de tensão, em vez de registro divertido. Para algumas pessoas, a ideia de ter a própria imagem congelada em uma foto aciona inseguranças antigas, comparações com outros e lembranças desagradáveis ligadas à autoimagem (Markus e Wurf, 1987).
Assim, recusar fotos não surge, necessariamente, de vaidade ou timidez, mas de um esforço de proteção interna diante de algo que é percebido como invasivo. Em certos casos, o simples som do clique ou a pose forçada já basta para ativar sensações de vulnerabilidade e medo de exposição.
O que a psicologia explica sobre não gostar de tirar fotos
A psicologia descreve que essa resistência a aparecer em imagens está frequentemente relacionada à forma como o cérebro constrói a imagem mental do próprio rosto e do próprio corpo. Ao longo da vida, cada pessoa cria uma representação interna de si, baseada em espelhos, comentários recebidos e experiências sociais.
Quando a foto mostra algo diferente dessa “versão idealizada”, surge um estranhamento. Esse desencontro entre a foto e a autoimagem ajuda a explicar por que muitas pessoas olham para suas próprias fotos com desconforto, sentindo que aquela imagem não traduz quem elas acreditam ser ou como gostariam de ser vistas pelos outros.
Esse tema pode variar de acordo com a idade, como mostra a Dr. Soraya, ao explicar o motivo de adolescentes se esconderem em fotos:
@doutorasoraya Por que os adolescentes se escondem das fotos? Mãe, você deseja aprender a demostrar amor ao seu adolescente da forma que ele entenda ser amado? Te ofereço uma aula gratuita em que te ensino esta ferramenta. Clique no link da bio ou em https://aadolescencia.com.br/metodopoc24v 👨👩👧👦💙 Quando o adolescente coloca a mão no rosto para não sair na foto, isso pode ser um reflexo de insegurança, desconforto ou até resistência à exposição. Durante a adolescência, muitos jovens enfrentam mudanças físicas e emocionais intensas que podem afetar sua autoestima e confiança. Eles podem estar mais críticos com a própria imagem, temendo o julgamento dos outros. Além disso, o desejo de privacidade e a necessidade de controle sobre como são vistos pelo mundo aumentam nessa fase, levando-os a evitar fotos ou situações em que sentem que podem ser expostos de uma maneira que não gostam. Em outros casos, pode ser apenas uma maneira de expressar rebeldia ou um sentimento de querer se diferenciar, especialmente se tirarem muitas fotos de forma involuntária, sem que eles se sintam confortáveis ou no controle da situação. #IncentiveSeusFilhos #FamíliaUnida #MãesInspiradoras #Adolescência #IdentidadeJovem #ConversaComOsFilhos #ComunicaçãoAberta #FamíliaUnida #AmorFamiliar #RespeitoSempre ♬ som original – Soraya Cristina Sant’Ana
Como o viés de autoaperfeiçoamento afeta a percepção nas fotos
Um dos conceitos citados por especialistas é o chamado viés de autoaperfeiçoamento, em que o indivíduo tende a se imaginar de forma um pouco mais favorecida do que aparece na realidade. Essa discrepância não é um defeito, mas um mecanismo comum da mente, que auxilia na manutenção da autoestima e da sensação de coerência interna.
Quando a fotografia apresenta detalhes que a pessoa não costuma notar no espelho, a reação pode ser de rejeição, como se a câmera estivesse “revelando” algo que ela preferiria não ver. Em situações de maior vulnerabilidade emocional, essa reação pode ser ainda mais intensa, reforçando a ideia de que se expor em fotos é algo arriscado, desconfortável e até ameaçador para a sua autoimagem.
Por que a própria foto pode causar tanta estranheza psicológica
Outro ponto estudado é o efeito de mera exposição. No cotidiano, a maioria das pessoas se vê principalmente no espelho, o que significa que está acostumada a uma versão invertida do próprio rosto, enquanto a fotografia mostra a face como os outros veem, ou seja, “desvirada”.
Essa pequena diferença pode parecer sutil, mas, para o cérebro, é suficiente para provocar a sensação de que aquela imagem é menos familiar e, por isso, menos agradável. Quanto menor a familiaridade com o próprio rosto em fotos, maior pode ser a chance de notar defeitos, assimetrias e marcas que não chamam atenção no dia a dia.
Quais são os fatores psicológicos que intensificam o incômodo com fotos
Além disso, a experiência de ser fotografado envolve sair da posição de observador e assumir a de objeto de observação, o que aumenta a autoconsciência. Em ambientes sociais, a câmera pode ser percebida como um foco de atenção concentrado, deixando o corpo mais rígido, o sorriso mais forçado e as expressões menos espontâneas.
Para quem já convive com preocupações relacionadas à aparência, peso, envelhecimento ou marcas no rosto, o clique do obturador pode representar um momento de exposição excessiva. Nesses casos, a foto deixa de ser apenas registro de memória e passa a ser vista como uma prova visual a ser julgada, alimentando pensamentos críticos e comparações com padrões de beleza.
- Autoimagem idealizada: a mente cria uma versão mais “polida” de si do que aquela capturada pela foto.
- Familiaridade com o espelho: o reflexo invertido parece mais natural do que a imagem “real” da câmera.
- Foco excessivo em detalhes: a foto congela traços que, em movimento, passam despercebidos.
- Comparação social: a imagem própria costuma ser analisada em contraste com figuras de referência, amigos ou celebridades.
Por que algumas pessoas evitam fotos em situações sociais
Em muitos casos, não gostar de tirar fotos está associado também à ansiedade social. Em festas, reuniões de família ou eventos profissionais, a câmera simboliza a possibilidade de ser avaliado por outros, seja imediatamente, seja mais tarde, nas redes sociais, o que aumenta o medo de críticas e comentários negativos.
Para quem tem receio de brincadeiras sobre a aparência, essa expectativa de julgamento pode tornar o momento da foto especialmente desconfortável. Isso pode levar a estratégias de esquiva, como sair de perto na hora da foto ou se colocar sempre em segundo plano nos registros de grupo, evitando se ver e ser visto.

Como a sensação de controle influencia a recusa em ser fotografado
Há ainda a sensação de perda de controle sobre a própria imagem. Ao ser fotografada, a pessoa depende do olhar de quem está com a câmera, do ângulo escolhido, da iluminação e até do momento exato em que o registro é feito, o que pode gerar insegurança e sensação de vulnerabilidade.
Isso pode gerar a impressão de que a imagem final não representa fielmente quem ela acredita ser. Assim, negar fotos pode funcionar como um modo de preservar a própria identidade visual, escolhendo com muito cuidado quando e como aparecer e reduzindo a exposição involuntária em contextos públicos e digitais.
- Evitar câmeras em situações em que há muitas pessoas observando.
- Pedir para não ser marcado em fotos publicadas em redes sociais.
- Posar apenas quando pode revisar e aprovar a imagem antes de ser compartilhada.
- Preferir ficar atrás da câmera, tirando fotos em vez de ser fotografada.
Não gostar de tirar fotos sempre indica um problema psicológico
Pesquisas na área indicam que essa atitude não significa, por si só, baixa autoestima, fobia social ou um transtorno psicológico. Em muitos casos, trata-se apenas de uma preferência pessoal, de um modo particular de lidar com a própria intimidade e com a exposição pública da imagem, especialmente em uma cultura hiperconectada.
Quando a recusa em tirar fotos provoca conflitos constantes, impede a participação em eventos importantes ou está ligada a um nível elevado de autocrítica, pode ser útil buscar apoio especializado. A psicoterapia pode ajudar a trabalhar a relação com o corpo, a autoimagem e os medos associados ao julgamento alheio, favorecendo escolhas mais livres e conscientes.
Como respeitar limites pessoais e conviver bem com a própria imagem
Em outros cenários, simplesmente respeitar o próprio limite e combinar com o círculo social como se prefere aparecer — ou não aparecer — em registros visuais já é suficiente para que todos convivam com mais tranquilidade. O hábito de evitar fotos pode ser entendido como parte da diversidade de maneiras de se relacionar com a própria imagem, e não como um defeito.
Em um contexto em que a fotografia digital está presente em praticamente todos os momentos da vida cotidiana, reconhecer que nem todas as pessoas se sentem confortáveis em frente à câmera ajuda a reduzir cobranças desnecessárias. Ao mesmo tempo, abre espaço para posturas mais respeitosas em relação à intimidade, aos limites pessoais e à autoestima de cada um.
Referências bibliográficas
- MARKUS, H.; WURF, E. The Dynamic Self-Concept: A Social Psychological Perspective. Annual Review of Psychology, v.38, 1997.










