O hábito de compartilhar a rotina nas redes sociais se consolidou como um comportamento comum em diferentes faixas etárias e contextos sociais. Fotos de refeições, trechos do dia de trabalho, registros de treinos e momentos de lazer em família passam a fazer parte de um painel público permanente. Esses impactos são descritos em pesquisas como “Why People Use Social Media: A Uses and Gratifications Approach”.
Por que compartilhar a rotina nas redes sociais se tornou tão comum
A psicologia das redes sociais mostra que a publicação constante de fotos, vídeos e relatos do dia a dia oferece uma sensação imediata de pertencimento. Curtidas, comentários e compartilhamentos funcionam como sinais de aprovação social, reforçando a impressão de que aquela rotina é interessante ou relevante. Para muitas pessoas, compartilhar a rotina também é uma forma de enfrentar a solidão e o isolamento, buscando conexões, ainda que superficiais, com um público maior.
Outro ponto destacado por especialistas é a experiência de montar uma espécie de vitrine pessoal. A seleção cuidadosa de ângulos, filtros e legendas permite construir uma narrativa visual que nem sempre corresponde à vida cotidiana. Esse processo pode fortalecer um “eu idealizado”, mais organizado, feliz ou bem-sucedido do que a realidade fora das telas, aumentando tensões emocionais e uma sensação silenciosa de inadequação quando a comparação entre vida real e virtual se torna constante.

Quais são os impactos psicológicos de compartilhar a rotina nas redes sociais
Estudos em psicologia digital apontam que a repetição desse comportamento pode reforçar um ciclo de dependência da validação externa. A pessoa passa a publicar não apenas para registrar um momento, mas para obter reações rápidas que ofereçam alívio ou conforto emocional, o que pode estimular um uso mais compulsivo das plataformas. Em contextos de vulnerabilidade emocional, essa dinâmica tende a aprofundar inseguranças pré-existentes.
Quando a imagem passa a ter mais importância do que o momento vivido, surge a priorização da aparência das experiências em detrimento do que é sentido. Situações simples, como uma refeição em família ou um encontro entre amigos, podem ser transformadas em oportunidade de postagem, deixando conversas, afetos e sensações em segundo plano, enquanto a cena registrada ganha protagonismo na tela do celular e na construção da autoimagem.
- Oscilações de autoestima, ligadas ao número de curtidas e comentários.
- Dificuldade em lidar com o silêncio quando uma postagem tem pouca repercussão.
- Aumento da autocrítica, ao comparar o próprio perfil com o de outros usuários.
- Ansiedade antecipatória, ligada à expectativa de como o conteúdo será recebido.
Compartilhar a rotina nas redes sociais aproxima ou afasta as pessoas
A relação entre exposição digital e vínculos afetivos é complexa e ambígua. Por um lado, a rotina compartilhada possibilita que amigos e familiares acompanhem conquistas, mudanças de cidade, novos trabalhos e fases de vida, o que pode gerar sensação de proximidade. Por outro, a diferença entre o que é mostrado e o que é vivido pode intensificar sentimentos de distância emocional e incompreensão.
Especialistas em relacionamentos observam que o distanciamento entre amigos não depende apenas da internet, mas a presença constante das redes adiciona novos elementos. A comparação de estilos de vida, a percepção de desigualdades e a expectativa de apoio público podem gerar frustrações silenciosas. Em alguns casos, a ausência de interação on-line é interpretada como desinteresse, mesmo quando o vínculo presencial continua importante.
- Comparação de estilos de vida: carreiras, viagens e conquistas materiais expostas com frequência podem acentuar desigualdades percebidas.
- Falta de tempo para interações reais: a sensação de “já saber” da vida do outro pela tela reduz a iniciativa de conversar de forma profunda.
- Expectativas sobre apoio público: ausência de curtidas ou comentários de pessoas próximas pode ser interpretada como desinteresse.
Para aprofundarmos no tema, trouxemos o vídeo do Dr. Drauzio Varella:
@portaldrauziovarella As notificações não param de pipocar? Pode até parecer inofensivo, mas o excesso de informação pode afetar sua saúde mental. 📱🤯 Conteúdo produzido em parceria com a RD Saúde, Drogasil e Raia.
♬ som original – Portal Drauzio
Como tornar o uso das redes sociais mais equilibrado
Profissionais de saúde mental sugerem estratégias simples para tornar o hábito de compartilhar a rotina nas redes sociais mais saudável e consciente. A ideia é desenvolver um uso mais intencional, no qual a pessoa entende por que publica, o que espera receber em troca e quais limites deseja estabelecer entre o público e o privado. Pequenos ajustes diários já podem reduzir a sensação de dependência da imagem digital.
Para apoiar esse processo de uso equilibrado, é útil adotar práticas que favoreçam o autocuidado e a reflexão. Essas ações ajudam a diferenciar o que é necessidade legítima de conexão do que é busca excessiva por validação, fortalecendo a autonomia emocional diante das redes.
- Definir horários específicos para acessar e postar conteúdo, evitando o uso contínuo ao longo do dia.
- Observar quais emoções aparecem antes e depois das publicações, como ansiedade, alívio ou irritação.
- Priorizar momentos de convivência presencial sem registro, preservando espaços de intimidade.
- Refletir se a necessidade de exposição está ligada à solidão, inseguranças ou busca intensa por validação.
A discussão sobre compartilhar a rotina nas redes sociais segue em expansão em 2025, acompanhando o crescimento das plataformas digitais e das novas formas de interação. Analisar esse comportamento a partir da psicologia, da sociologia e da experiência cotidiana ajuda a compreender melhor o que está por trás de cada postagem e quais impactos esse hábito pode ter na identidade, nos relacionamentos e na forma como cada pessoa passa a enxergar a própria vida.










