Ter muitas tatuagens se tornou algo cada vez mais visível em diferentes faixas etárias e contextos sociais. A psicologia passou a observar esse comportamento com mais atenção, buscando entender o que está por trás da escolha de acumular diversos desenhos no corpo e de que forma isso se relaciona com identidade, emoções e história de vida.
O que significa ter muitas tatuagens na psicologia contemporânea
Na psicologia contemporânea, o interesse por muitas tatuagens costuma ser interpretado como parte de um processo de construção de identidade, de autoexpressão e de relação com o próprio corpo. A pele funciona como uma espécie de narrativa visual, em que cada traço pode estar ligado a lembranças, fases de vida ou significados afetivos importantes, como explica a pesquisa “Deviant Ink: A Meta-Analysis of Tattoos and Drug Use in General Populations“.
Pesquisas em psicologia social indicam que, para muitas pessoas, as tatuagens ajudam a criar maior coerência entre o que se sente internamente e o que se mostra externamente. Assim, marcar a pele pode ser visto como uma estratégia simbólica de alinhar corpo, história e personalidade, nem sempre associada à rebeldia, mas a maneiras subjetivas de se reconhecer e se apresentar ao mundo.
Para aprofundarmos no tema, trouxemos o vídeo da especialista @doutora.melancolica:
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Como a identidade e a autoimagem se relacionam com muitos tatuagens
Estudos sobre imagem corporal apontam que algumas pessoas relatam sentir-se mais “inteiras” ou mais confortáveis com a própria aparência após se tatuarem. Em diversos relatos clínicos e acadêmicos, surgem elementos como sensação de fortalecimento pessoal, recuperação da autoestima ou construção de um novo capítulo de vida marcado na pele.
Não se trata apenas de gostar de desenhos, mas de atribuir às tatuagens um valor emocional, ligado a perdas, recomeços ou conquistas importantes. Em alguns contextos terapêuticos, profissionais também observam que a tatuagem pode funcionar como um recurso de autoaceitação e de reconciliação com o próprio corpo.
Por que algumas pessoas escolhem fazer tantos tatuagens
As razões para acumular vários tatuagens costumam ser múltiplas e se combinam ao longo do tempo. Em vez de um único motivo, a psicologia observa um conjunto de fatores emocionais, simbólicos, relacionais e estéticos, em que o primeiro desenho muitas vezes abre espaço para que outros surjam como continuação de uma mesma narrativa pessoal.
Entre os motivos relatados por pessoas tatuadas e analisados em pesquisas, destacam-se diferentes funções que as tatuagens podem assumir na vida psíquica e nos vínculos sociais.
- Expressão de identidade: tatuagens podem funcionar como um “cartão de visita” visual, exibindo crenças, valores, pertencimentos culturais ou referências que ajudam a comunicar quem a pessoa sente que é.
- Reconstrução emocional: após momentos de sofrimento, mudanças bruscas ou traumas, marcar o corpo pode representar a decisão de registrar a superação ou a resistência diante das dificuldades.
- Processamento de experiências: muitos desenhos estão ligados a datas, nomes, símbolos ou frases que lembram lutos, separações, nascimentos ou transições significativas.
- Conexão com vínculos afetivos: é comum encontrar tatuagens associadas a familiares, amizades, animais de estimação ou relações importantes ao longo da vida.
- Preferência estética e estilo pessoal: para algumas pessoas, o principal fator é o apreço pela arte corporal e pela forma como o corpo se transforma em um painel artístico contínuo.

Como muitos tatuagens impactam emoções e sensação de controle
Ao analisar o impacto emocional de vários tatuagens, a psicologia destaca a sensação de controle sobre o próprio corpo como ponto central. Relatos clínicos e estudos de comportamento sugerem que, em alguns casos, tatuar-se funciona como um recurso para retomar a autonomia depois de experiências que abalaram a autoestima ou a percepção corporal.
A decisão de escolher o desenho, o local e o momento atua como um exercício de autogestão da imagem, fortalecendo a ideia de autoria sobre a própria história. Cada tatuagem pode funcionar como um “marcador” de eventos que a pessoa não deseja esquecer ou que busca ressignificar, transformando o corpo em uma espécie de linha do tempo subjetiva.
- Registro de etapas: os desenhos acompanham mudanças de ciclo, como adolescência, fase adulta, término de relacionamentos ou novos projetos.
- Reorganização da autoimagem: a pele tatuada pode contribuir para que a pessoa se reconheça de um modo diferente no espelho.
- Elaboração de emoções intensas: o processo de escolher, planejar e realizar uma tatuagem favorece a reflexão sobre o que aquela imagem representa.
Ter muitos tatuagens é sempre sinal de rebeldia ou busca de atenção
Nas últimas décadas, a psicologia tem questionado estereótipos tradicionais ligados à tatuagem, como a ideia de que quem tem muitos tatuagens busca apenas chamar atenção ou se opor a normas sociais. Pesquisas recentes sugerem que não há um único perfil de personalidade associado a essa prática, mas sim histórias de vida diversas e motivações variadas.
O que se observa com frequência é que a tatuagem funciona mais como forma de cuidado subjetivo e construção de sentido do que como gesto automático de oposição. Em muitos casos, a marca na pele ajuda a organizar a própria narrativa de vida, sendo entendida como um modo legítimo de expressão e estruturação da identidade, desde que a decisão seja informada, consciente e respeite limites de saúde física e emocional.









