A superstição de que passar o sal de mão em mão traz má sorte ainda aparece em muitos lares, restaurantes e reuniões familiares em 2025. Em diversas mesas, o gesto automático é colocar o saleiro sobre a superfície mais próxima para que a outra pessoa pegue, sem contato direto. Essa prática, que pode parecer apenas um costume curioso, está ligada a antigas crenças sobre o valor do sal, seu simbolismo religioso, sua importância social em diferentes culturas e à forma como tradições orais perpetuam hábitos cotidianos.
Por que a superstição de não passar o sal de mão em mão surgiu
A expressão “não passe o sal de mão em mão” se conecta diretamente à antiga importância econômica e social desse ingrediente. Em períodos em que o sal era raro, derramá-lo significava prejuízo real e concreto, reforçando a ideia de escassez e de cuidado extremo com o tempero.
Por isso, muitos grupos consideravam um mau sinal ver o sal caindo no chão, associando o desperdício à perda de bens, à quebra de acordos ou à chegada de tempos desfavoráveis. A palavra-chave “superstição do sal” resume esse conjunto de crenças que une medo da escassez, explicações simbólicas sobre o azar e práticas de respeito ao alimento.
Essa mesma superstição já foi levada para outros temas envolvendo sal, como mostra o vídeo do perfil @kelly_vih1:
@kelly_vih1 derrubar sal da azar
♬ som original – Kelly👨👩👧👧
Qual é a origem histórica e econômica da superstição do sal
Pesquisas em história e antropologia indicam que, em impérios antigos, o sal chegou a funcionar como moeda de troca, elemento de tributos e forma de remuneração. A própria origem do termo “salário” costuma ser relacionada a esse passado, em que o sal podia representar parte do pagamento de soldados e trabalhadores.
Se antes um punhado de sal podia equivaler ao pagamento de um serviço, qualquer gesto descuidado com ele ganhava uma carga simbólica e prática muito forte, o que favoreceu o surgimento de rituais de cuidado e respeito em torno do saleiro. Em várias regiões, normas de etiqueta à mesa também reforçaram esse comportamento como sinal de boa educação.
Qual é o simbolismo da superstição do sal nas religiões e culturas
Em tradições judaicas, cristãs, árabes e em práticas de matriz africana, o sal assumiu significados que vão além do aspecto culinário. Ele foi associado a aliança, pureza, proteção espiritual e, em alguns rituais, à ideia de limpeza energética dos ambientes.
Em cerimônias religiosas, o ingrediente podia ser usado em bênçãos, celebrações de hospitalidade e pactos, funcionando como um lembrete material de promessas e compromissos. Nessas situações, derramar o sal ou tratá-lo de forma descuidada podia ser lido como um rompimento simbólico do vínculo estabelecido entre as pessoas envolvidas.

Como o sal se tornou símbolo de confiança e neutralidade à mesa
Em muitas sociedades, colocar o sal sobre a mesa tinha o sentido de ato de confiança: todos os participantes compartilhavam do mesmo recurso, sob o mesmo espaço. Passar o sal diretamente de mão em mão, ao contrário, passou a ser visto em alguns contextos como gesto arriscado, aberto a interpretações negativas e a possíveis conflitos.
Para evitar qualquer insinuação de desentendimento, instalou-se o hábito de apoiar o saleiro na mesa e permitir que a outra pessoa pegasse o objeto por conta própria. Em manuais de etiqueta moderna, esse gesto aparece como uma forma discreta de demonstrar respeito, neutralidade e boa convivência.
- O sal representava compromisso entre anfitrião e convidado.
- Derramar o sal podia ser interpretado como rompimento de acordo.
- Colocar o saleiro na mesa reforçava a ideia de neutralidade e respeito.
A superstição do sal tem relação com a Última Ceia e com a ideia de má sorte
Ao longo da Idade Média, a superstição do sal ganhou novas camadas de interpretação dentro do cristianismo. Em leituras e tradições populares, surgiu a associação entre a figura de Judas e um saleiro derramado durante a Última Ceia, reforçando a ligação entre sal e traição.
Em certas representações artísticas, o sal aparece espalhado próximo ao personagem ligado à traição, criando uma ligação visual entre o gesto e a quebra de lealdade. Essa imagem ajudou a consolidar a leitura de que um “mau uso” do sal poderia anunciar conflitos, desentendimentos ou má sorte, especialmente em refeições de celebração.
Como o sal é visto como barreira de proteção em rituais populares
Paralelamente, práticas ligadas ao chamado “folclore mágico” em várias regiões europeias, africanas e latino-americanas reforçaram a ideia de que o sal servia como barreira contra forças negativas. Em rituais de proteção, o ingrediente podia ser espalhado em portas, janelas, plantações ou cantos da casa.
Com a intenção de afastar energias consideradas prejudiciais, o sal passou a ser usado também em banhos de descarrego, em pequenos recipientes perto da porta de entrada e em rituais domésticos de limpeza simbólica. Nesse contexto, o ato de trocar sal diretamente entre duas pessoas poderia ser enxergado como um possível desequilíbrio dessa proteção, algo que justificaria a preferência por apoiar o recipiente sobre uma superfície neutra.
- O sal foi associado à traição em certas leituras da Última Ceia.
- Imagens artísticas reforçaram a ligação entre sal derramado e ruptura de laços.
- Em rituais populares, o sal era visto como barreira de proteção contra influências negativas.
Como esse costume aparece no cotidiano atual
Mesmo com o sal transformado em um produto barato e acessível, a superstição de não passar o saleiro de mão em mão segue presente em diversos países, sobretudo em contextos ocidentais e latino-americanos. Em encontros familiares, almoços de trabalho ou bares, muitas pessoas repetem o gesto de colocar o sal sobre a mesa quase sem perceber, como uma regra tácita herdada de gerações anteriores.
Além desse hábito, outras pequenas ações ligadas ao sal permanecem difundidas, como jogar um pouco sobre o ombro após derramar o tempero acidentalmente, ou deixar um punhado em determinados pontos da casa com a intenção de proteção. Essas práticas mostram como um antigo produto estratégico para a economia e para a preservação de alimentos continua inserido no imaginário coletivo, agora mais relacionado ao campo simbólico do que à necessidade material.
O que a superstição do sal revela sobre a permanência das tradições
Dessa forma, a superstição do sal ilustra como costumes cotidianos podem carregar séculos de história, religião e antropologia. Um simples gesto à mesa, como apoiar o saleiro em vez de entregá-lo diretamente, traduz a permanência de narrativas sobre confiança, proteção e medo do azar.
Mesmo em uma época em que o sal é apenas mais um item comum na prateleira do supermercado, ele continua sendo um símbolo de memória cultural. A repetição desses rituais mostra como crenças antigas se adaptam ao mundo contemporâneo, mantendo vivo o elo entre práticas do passado e hábitos do presente.










