Durante muito tempo, a palavra moça não significou apenas uma jovem do sexo feminino, como é comum em 2025. A forma feminina de moço passou por uma trajetória longa, envolvendo mudanças de uso, de contexto social e até de classe, revelando como a língua reflete hierarquias, gêneros e papéis sociais ao longo da história.
Como surgiu o feminino de moço na língua portuguesa
O vocábulo moço vem do latim moltu- ou mŭttiu-, por meio de formas medievais que indicavam um indivíduo em idade jovem. A partir dele, formou-se o feminino moça, seguindo um processo comum na língua: a troca de desinência para marcar o gênero gramatical.
Ao surgir, moça mantinha relação direta com a ideia de juventude, mas já aparecia em contextos específicos ligados ao espaço doméstico e às casas senhoriais. Em textos dos séculos XVI e XVII, a mesma palavra podia indicar tanto a faixa etária quanto uma posição de subordinação social, mostrando um vocábulo em trânsito entre idade e função.
Para aprofundar o tema, trouxemos o vídeo que trouxe uma grande polêmica sobre o sentido da palavra em outros países:
@mayumealbertini Moço (a) significa como alguém imprudente, inexperiente aqui em Portugal. Nós Brasileiros temos o hábito de usar a palavra para nos referirmos a alguém de forma natural. Embora o idioma é o mesmo, tem mudança nos significados de algumas palavras. Mas todos merecem respeito e ninguém é obrigado a saber o que se passa em um país que não é o seu. Turistas levam a imagem do país mundo a fora, devemos respeitar a forma de cada um. @danielaamorimprofessora é um amor, só quem acompanha a família sabe disso. 🤍 #portugal #brasileirospelomundo #brasileirosemportugal🇧🇷🇵🇹 #mcdaniel ♬ som original – mcdanielfaclubesp
Quais foram as principais mudanças de sentido de moça
A palavra-chave moça teve um percurso semântico mais complexo do que o uso atual sugere, aproximando-se de sentidos como criada, empregada ou serva. Em vários registros históricos, sobretudo em inventários e cartas, o termo revela a articulação entre juventude, trabalho doméstico e status.
Para entender essa variedade de usos, vale observar alguns sentidos recorrentes em documentos de diferentes épocas, que mostram como um mesmo vocábulo podia nomear tanto relações familiares quanto funções de serviço.
- Jovem empregada em casas de famílias abastadas;
- Serva doméstica, às vezes mencionada ao lado de “criada”;
- Filha jovem de um casal, em contraste com irmãs mais velhas ou casadas;
- Mulher em idade de casar, ligada a critérios morais e de status;
- Em certos contextos rurais, jovem que auxiliava em tarefas agrícolas e domésticas.
Como a sociedade moldou o significado de moça ao longo do tempo
O percurso de moça acompanha transformações na organização do trabalho doméstico, na estrutura familiar e na posição social da mulher. Em diferentes períodos, o termo esteve associado a hierarquias rígidas, ao modelo de “moça de família” e a expectativas de comportamento consideradas adequadas.
Em contextos como o período colonial, o Império e a urbanização dos séculos XIX e XX, “moço” e “moça” surgem em documentos para indicar auxiliares, servos ou trabalhadores jovens. Com a profissionalização do trabalho doméstico e novas categorias de emprego, “moça” foi se afastando do campo semântico de empregada e se fixando como referência à juventude feminina.

Quais sentidos de moça predominam no século XXI
Na língua portuguesa atual, o uso mais comum de moça é o de jovem mulher, geralmente adulta e muitas vezes solteira. O termo aparece em chamadas informais em comércios, na descrição de personagens e como alternativa a “garota”, “jovem” ou “menina”, com variações regionais quanto ao grau de formalidade.
Além do sentido mais neutro, “moça” ainda guarda marcas culturais como “moça de família” ou “boa moça”, ligadas a padrões morais de outras épocas. Em algumas regiões, “moço” e “moça” funcionam também como forma genérica de tratamento para clientes ou desconhecidos, sem destaque preciso para a idade, o que mostra a permanência de resquícios históricos na língua atual.








