Em 2025, uma notícia surpreendente ganhou destaque no cenário ambiental: a reaparição da lontra gigante na Argentina, após quase quarenta anos sem registros desse animal no país. Considerada extinta nacionalmente desde 1986, essa espécie emblemática foi novamente avistada no Gran Parque Iberá, situado na província de Corrientes. A longevidade deste mistério reforça o quanto a biodiversidade global ainda reserva surpresas ao campo da biologia e conservação.
O retorno da lontra gigante, também chamada de lobo do rio, não aconteceu por acaso. Graças a um projeto de reintrodução pioneiro, uma família composta por quatro indivíduos foi solta em seu habitat natural dentro do parque argentino. O evento marca um marco para a ciência e a preservação ambiental, já que restabelecer populações de animais ameaçados exige planejamento e cooperação entre diversas instituições.
Quais são as principais características da lontra gigante?
A lontra gigante (Pteronura brasiliensis) pertence à família dos mustelídeos e é reconhecida por ser o maior representante dessa linhagem na América do Sul. Atingindo até 1,8 metro de comprimento e pesando mais de 30 quilos, possui pelagem marrom escura e uma mancha clara e característica na garganta, além de bigodes sensíveis, essenciais para detectar movimentos de peixes em águas turvas.
Este mamífero possui hábitos sociais acentuados, formando grupos com cerca de cinco a dez indivíduos. A vida é majoritariamente aquática, com adaptações anatômicas – como patas palmadas e pelagem impermeável – que facilitam a natação e a caça. Sua dieta é composta principalmente por peixes, tornando a espécie um importante predador nos ecossistemas onde reside.
Entre as singularidades desse animal, destacam-se:
- Habitat preferencial: margens de rios, lagoas e áreas alagadas de florestas tropicais.
- Comportamento social: vivem em bandos estáveis, o que favorece a proteção de filhotes.
- Ninhos: tocas escavadas nas margens onde descansam e criam seus filhotes.
- Comunicação: uso de sons e sinais visuais sofisticados dentro do grupo.
Por que a lontra gigante ficou ameaçada e quais desafios enfrenta atualmente?
A extinção local da lontra gigante na Argentina foi resultado de múltiplos fatores. Décadas atrás, a caça desenfreada para obtenção de sua valiosa pele fez com que as populações fossem drasticamente reduzidas em toda a América do Sul. Além disso, a degradação de habitats devido ao desmatamento, poluição e expansão agrícola agravaram a vulnerabilidade da espécie.
Nas últimas décadas, mesmo com leis que proibem a caça, outros riscos surgiram, como o aumento do trânsito de doenças entre espécies silvestres e domésticas. Entre as ameaças modernas, destacam-se:
- Perda de habitat: desmatamento de áreas ribeirinhas e contaminação dos corpos d’água.
- Pesca excessiva: redução das presas naturais disponíveis devido à sobrepesca humana.
- Introdução de espécies invasoras: que podem competir por alimento ou expandir doenças.
- Distúrbios humanos: turismo descontrolado e urbanização nas margens de rios.

Como ocorreu a redescoberta da lontra gigante no Gran Parque Iberá?
No início de 2025, a iniciativa liderada por entidades de conservação e organizações internacionais resultou na reintrodução de uma família de lontras gigantes no Gran Parque Iberá. O grupo era composto por uma fêmea proveniente de um zoológico espanhol, um macho vindo da Dinamarca e dois filhotes nascidos já em solo argentino no final de 2024. A escolha do Parque Iberá não foi aleatória: seus mais de 750 mil hectares de áreas úmidas oferecem as condições ideais e seguras para a sobrevivência destes animais.
Com o retorno da espécie a um dos principais ecossistemas aquáticos do país, esperam-se benefícios notáveis, tanto para a biodiversidade quanto para o turismo ecológico. Segundo especialistas, a presença da lontra gigante significa o reequilíbrio do ambiente, com regulação natural das populações de peixes e outros componentes da cadeia alimentar. Além disso, o avistamento desses animais pode fomentar o desenvolvimento sustentável das comunidades locais, através do incentivo ao turismo de observação da vida selvagem.
Qual a previsão para o futuro da lontra gigante na Argentina?
O sucesso dessa reintrodução no Gran Parque Iberá representa o início de novas tentativas de resgate da espécie em outras regiões do país, como o Chaco. O objetivo não é apenas o aumento populacional, mas a reconexão entre grupos isolados, garantindo a diversidade genética e a resiliência da espécie. A agenda de conservação prevê a continuidade de monitoramento, proteção rigorosa das áreas naturais e educação ambiental voltada para a importância da lontra como parte essencial dos ecossistemas aquáticos sul-americanos.
O ressurgimento da lontra gigante nos ambientes naturais da Argentina demonstra, principalmente, a eficácia dos esforços de conservação e o potencial de recuperação da fauna quando há compromisso coletivo. A espécie volta a ocupar seu papel de predador topo da cadeia alimentar, favorecendo o equilíbrio ecológico e tornando-se símbolo da persistência e complexidade da natureza sul-americana.










