Em 2025, pesquisadores da Universidade do Colorado Boulder realizaram uma descoberta inédita ao detectar, pela primeira vez, a presença de parafinas cloradas de cadeia média (MCCPs) no ar da América do Norte. O achado ocorreu durante um estudo de campo em uma área rural de Oklahoma, onde o objetivo inicial era analisar a formação e o crescimento de partículas atmosféricas. No entanto, a equipe se deparou com a presença inesperada desse poluente orgânico tóxico, o que trouxe novas questões sobre a dispersão e os impactos dessas substâncias no meio ambiente.
As MCCPs são compostos químicos amplamente utilizados em processos industriais, como fluidos para usinagem de metais, produção de PVC e fabricação de têxteis. Apesar de já terem sido identificadas em regiões como a Antártida e a Ásia, até então não havia registros de sua presença atmosférica no Hemisfério Ocidental. O estudo, publicado na revista ACS Environmental Au, marca um avanço significativo na compreensão da distribuição global desses poluentes e reforça a necessidade de monitoramento contínuo.
O que são parafinas cloradas de cadeia média (MCCPs)?
As MCCPs pertencem a uma classe de compostos conhecidos como parafinas cloradas, caracterizadas por cadeias de carbono de tamanho intermediário e pela presença de átomos de cloro. Essas substâncias são valorizadas na indústria devido à sua estabilidade térmica e propriedades lubrificantes, mas apresentam riscos ambientais consideráveis. Estudos indicam que as MCCPs são persistentes, podem se acumular em organismos vivos e apresentam toxicidade para humanos e animais.
Além disso, as MCCPs estão sob avaliação da Convenção de Estocolmo, tratado internacional que visa restringir ou eliminar o uso de poluentes orgânicos persistentes. Enquanto suas “parentes” de cadeia curta (SCCPs) já são reguladas em diversos países, as MCCPs ainda não possuem restrições globais tão rigorosas, o que aumenta a preocupação sobre seu uso e descarte inadequados.
Como as MCCPs chegam ao ambiente atmosférico?
O caminho das MCCPs até a atmosfera envolve diferentes etapas. Uma das principais fontes identificadas pelos pesquisadores está relacionada ao uso de fertilizantes derivados de biossólidos, também conhecidos como lodo de esgoto. Esse material é obtido após o tratamento de águas residuais e, quando aplicado em campos agrícolas, pode liberar compostos químicos voláteis, incluindo MCCPs, para o ar.
- Uso industrial em fluidos e plásticos
- Descarga em águas residuais
- Transformação em biossólidos durante o tratamento
- Aplicação agrícola e liberação atmosférica
O estudo realizado em Oklahoma utilizou um espectrômetro de massa com ionização química por nitrato, equipamento capaz de identificar compostos presentes no ar em tempo real. A análise dos dados revelou padrões isotópicos distintos, que permitiram a identificação das MCCPs mesmo em concentrações muito baixas.

Quais são os riscos e desafios associados às MCCPs?
A presença de parafinas cloradas de cadeia média no ar levanta preocupações sobre possíveis efeitos à saúde e ao meio ambiente. Essas substâncias são conhecidas por sua persistência e capacidade de transporte a longas distâncias, o que pode resultar em contaminação de áreas distantes das fontes originais. Além disso, há indícios de que a regulação de compostos similares, como as SCCPs, tenha levado ao aumento do uso de MCCPs como substitutos, um fenômeno conhecido como substituição química.
- Persistência ambiental: MCCPs permanecem no ambiente por longos períodos.
- Bioacumulação: Podem se acumular em organismos vivos, entrando na cadeia alimentar.
- Toxicidade: Estudos apontam riscos para a saúde humana e animal.
- Dificuldade de regulação: Ainda não há consenso internacional sobre limites seguros.
Com a confirmação da presença atmosférica das MCCPs, novas pesquisas serão necessárias para entender como esses compostos se comportam no ar, como se dispersam e quais são seus efeitos a longo prazo. O monitoramento em diferentes estações do ano e em locais variados pode ajudar a traçar um panorama mais completo sobre a extensão do problema.
O que muda com a detecção das MCCPs no ar?
A identificação das MCCPs na atmosfera do Hemisfério Ocidental representa um avanço importante para a ciência ambiental. A partir desse marco, órgãos reguladores e pesquisadores poderão aprimorar métodos de monitoramento e buscar alternativas mais seguras para o uso industrial dessas substâncias. O estudo também destaca a importância de políticas públicas que acompanhem a evolução do conhecimento científico, garantindo a proteção da saúde pública e do meio ambiente.
À medida que mais informações são reunidas, espera-se que as discussões sobre a regulação das MCCPs avancem em fóruns internacionais. A experiência recente mostra que a substituição de compostos regulados por outros similares pode trazer desafios inesperados, reforçando a necessidade de avaliações contínuas e abrangentes sobre o impacto dos poluentes orgânicos persistentes.






