Em muitos lares, lidar com crises de raiva em crianças pequenas se tornou um tema recorrente entre famílias e profissionais. Birras em público, gritos em casa ou choros prolongados costumam gerar tensão, especialmente quando os responsáveis se sentem sem recursos para agir. A psicologia infantil aponta que a forma como o adulto responde à irritação da criança pode influenciar diretamente na intensidade e na duração do episódio, afetando o desenvolvimento da autorregulação emocional (SOLHEIM et al., 2013).
O que significa acolher a irritação infantil
O acolhimento da irritação da criança não significa permitir qualquer tipo de comportamento, mas reconhecer que, por trás do grito, do choro ou da birra, existe uma emoção legítima. Profissionais descrevem esse processo como validação emocional: o adulto mostra que percebe o que está acontecendo internamente com o menor e que essa emoção é compreensível, mesmo que alguns comportamentos precisem ser contidos.
Estudos recentes em psicologia do desenvolvimento indicam que crianças que têm suas emoções reconhecidas apresentam maior capacidade de autorregulação ao longo do tempo. Com apoio consistente, o pequeno aprende a identificar o que sente, a dar nome às sensações e a encontrar outras formas de expressar o descontentamento, a frustração e a própria irritação sem recorrer à agressividade ou à autoagressão (MORELEN; SIVIRINHA; SUVEG, 2016).
Para aprofundar no tema, trouxemos o vídeo da psicóloga infantil Janaína Lobo, onde ela explica uma forma de acalmar uma criança e seguir no dia a dia:
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Como uma frase simples pode ajudar na irritação da criança
Pesquisadores que atuam com famílias destacam o efeito de mensagens curtas, claras e tranquilizadoras durante uma crise. Uma frase que combina reconhecimento da emoção e disponibilidade para ajudar costuma funcionar como primeiro passo para reduzir o clima de conflito, ajudando o cérebro infantil a sair do modo de defesa e a se abrir para a cooperação.
Para que essa abordagem tenha efeito, o conteúdo verbal precisa estar alinhado com a linguagem corporal. Tom de voz baixo, postura relaxada, olhar atento e ausência de ironias reforçam a mensagem. O objetivo não é “calar” a criança, mas oferecer um ponto de apoio em meio ao turbilhão emocional, para que depois seja possível um diálogo mais racional e orientado a soluções.
Quais atitudes dos adultos pioram a irritação da criança
Especialistas apontam alguns comportamentos comuns que tendem a agravar a situação e aumentar a sensação de insegurança emocional. Quando o adulto responde à irritação infantil com atitudes semelhantes, a criança entende que o ambiente não é seguro para se acalmar e passa a defender-se ainda mais, seja chorando, atacando ou se isolando.
Essas reações, muitas vezes automáticas, podem ser substituídas por limites firmes e respeitosos. A lista abaixo reúne exemplos de atitudes que pioram a irritação e prejudicam o vínculo entre adulto e criança:
- Minimizar o sentimento: frases como “isso não é nada” ou “para de drama” levam o menor a sentir que sua dor não é levada a sério.
- Comparar com outras crianças: dizer que “os irmãos não fazem isso” costuma aumentar a vergonha e a sensação de inadequação.
- Ameaçar constantemente: castigos anunciados a todo momento podem gerar medo, sem ensinar alternativas saudáveis de expressão.
Em vez dessas reações, profissionais defendem limites claros, porém respeitosos, deixando explícito o que não é permitido, mas sem desqualificar o que a criança sente ou humilhá-la diante de outras pessoas.

Como transformar o momento de raiva em aprendizado emocional
Depois que a intensidade da birra diminui, abre-se um espaço importante para desenvolver habilidades emocionais. Nesse momento, o adulto pode conversar de maneira simples, ajudando o menor a organizar o que aconteceu, focando não só no comportamento (“por que gritou?”), mas também na emoção (“o que deixou tão zangado ou tão irritado?”).
Com o passar do tempo, esse tipo de abordagem tende a fortalecer o vínculo entre adultos e crianças, reduzir conflitos repetitivos e favorecer uma base emocional mais estável. A irritação da criança deixa de ser vista apenas como problema e passa a ser entendida como sinal de aprendizado interno, desde que encontre ao redor adultos dispostos a orientá-la com calma e constância.
Referências bibliográficas
- MORELEN, Diana; SIVIRINHA, Sarah; SUVEG, Cynthia. Maternal Emotion Validation and Child Emotion Regulation. Journal of Child and Family Studies, v. 25, p. 1785–1795, 2016.
- SOLHEIM, Elisabet; WICHSTROM, Lars; BELSKY, Jay; BERG-NIELSEN, Turid Suzanne. Do Time in Child Care and Peer Group Exposure Predict Poor Socioemotional Adjustment in Norway? Society for Research in Child Development, v.85, n.5, 2013.






