A paixão costuma ser descrita como uma fase intensa, em que a atração e o interesse pela outra pessoa dominam os pensamentos. Com o passar do tempo, esse estado emocional tende a se transformar, o que leva muitas pessoas a se perguntarem se ainda existe amor ou se a relação virou apenas hábito, mas especialistas em psicologia apontam que se trata de uma transição comum e até necessária nos vínculos afetivos.
O que é, afinal, a paixão
A paixão é um período em que a pessoa sente forte atração emocional e física, pensa com frequência no parceiro e costuma idealizar suas características. Nessa etapa, há grande liberação de hormônios ligados ao prazer e à recompensa, o que favorece a sensação de entusiasmo constante e de foco quase exclusivo no outro (Fisher et al., 2002).
Essa intensidade, porém, não se mantém indefinidamente, pois o cérebro tende a buscar estabilidade emocional após algum tempo. Do ponto de vista psicológico, a paixão funciona como uma “porta de entrada” para vínculos mais duradouros, aproximando, criando laços iniciais e incentivando a descoberta mútua.
Como a paixão se transforma em amor real
Com o passar dos meses ou anos, o que passa a sustentar a relação não é mais apenas o impulso emocional, mas elementos como compatibilidade, respeito e projetos em comum. Nessa etapa, a idealização diminui e dá lugar a um contato mais realista com o outro, revelando qualidades, limites e defeitos de maneira mais nítida.
É nesse momento que a expressão amor real ganha espaço, associada a uma escolha mais consciente de permanecer. A relação passa a depender menos da euforia e mais da construção diária de parceria, confiança, comunicação e responsabilidade afetiva compartilhada por ambas as pessoas.
Para aprofundar o tema, trouxemos o vídeo do especialista Mário Sérgio Cortella, em que ele explica a diferença:
t@cortellaoficial A Diferença Entre Amor e Paixão #cortella #paixão #amor ♬ som original – cortellaoficial
Como saber se ainda existe amor real
A expressão amor real costuma ser usada para descrever um sentimento mais estável, menos impulsivo e ligado à decisão de estar com o outro. Diferentemente da paixão, que é imediata e intensa, o amor duradouro envolve compromisso, cuidado e responsabilidade afetiva, o que significa que a ausência de euforia não indica, por si só, o fim da relação.
Para avaliar se esse amor mais maduro ainda está presente, algumas perguntas podem ajudar a observar o vínculo com mais clareza e menos dramatização. Abaixo, estão exemplos que muitos especialistas utilizam para orientar essa autoavaliação consciente:
- Existe respeito nas discordâncias? Mesmo em conflitos, há limites claros e consideração mútua.
- Há cuidado com o bem-estar do outro? Pequenos gestos diários demonstram interesse genuíno pela vida do parceiro.
- Há vontade de permanecer e escolher essa pessoa? A permanência não se baseia apenas no medo da solidão ou no costume.
- Conversas profundas ainda acontecem? Falar sobre medos, planos e inseguranças indica vínculo emocional ativo.
- Existe projeto de futuro em comum? Planos divididos revelam intenção de continuidade.
Como diferenciar rotina saudável de relação estagnada
Um dos desafios mais frequentes está em distinguir uma rotina saudável de uma relação que se tornou apenas acomodação. A rotina pode ser positiva quando oferece previsibilidade, segurança e organização da vida em comum, enquanto um vínculo estagnado é marcado por distanciamento emocional, falta de diálogo e desinteresse em melhorar o que não vai bem.
Alguns indícios ajudam a identificar se a convivência se mantém viva ou se está perdendo qualidade. Observar esses pontos no dia a dia permite entender melhor se há parceria real ou apenas convivência automática sem afeto e engajamento mútuo.
- Comunicação: Em relações vivas, ainda existem conversas sinceras, inclusive sobre problemas. O silêncio constante ou o desinteresse por ouvir o outro pode indicar desgaste significativo.
- Afeto: Gestos de carinho, físicos ou verbais, mesmo discretos, demonstram proximidade. Quando o contato afetuoso desaparece totalmente, é sinal de alerta.
- Colaboração: Dividir tarefas, apoiar em momentos difíceis e mostrar disponibilidade sugere parceria real, não apenas convivência automática.
- Motivação para ajustar rumos: Relações com amor real geralmente contam com disposição para ajustes, terapia de casal ou mudanças na rotina quando algo não vai bem.

O amor pode mudar sem desaparecer
Profissionais da área de psicologia destacam que o amor tende a mudar de formato ao longo do tempo. A fase de encantamento intenso, típica da paixão, dá espaço para algo mais tranquilo, em que o foco está na parceria, no respeito e na construção de uma história em comum, com menos adrenalina e mais estabilidade emocional.
Nesse contexto, muitos casais descobrem um tipo de conexão mais serena, com confiança e conhecimento mútuo mais profundos. A permanência de elementos como escolha consciente, ternura, cuidado e respeito indica um amor real mais estável, e a pergunta central passa a ser se a relação, da forma como está hoje, é respeitosa, segura e realmente desejada pelas duas pessoas.
Referências bibliográficas
- FISHER, Helen E. et al. Defining the Brain Systems of Lust, Romantic Attraction, and Attachment. Archives of Sexual Behavior, v.31, 2002.










