O chamado ghosting ganhou espaço no vocabulário afetivo nos últimos anos e descreve uma situação bem específica: quando alguém some de uma relação sem dar explicações, interrompendo o contato de forma brusca. Esse comportamento costuma surpreender quem é deixado para trás, mas especialistas em relações humanas apontam que, antes do sumiço completo, geralmente aparecem sinais discretos de afastamento.
O que é ghosting e por que essa palavra se popularizou
A palavra-chave ghosting vem do inglês “ghost”, que significa fantasma, e sugere alguém que desaparece de uma relação como se nunca tivesse existido. Na prática, ocorre quando uma pessoa interrompe totalmente o contato: deixa de responder mensagens, não atende ligações e, em alguns casos, bloqueia ou remove o outro de redes sociais, tudo isso sem conversa prévia ou explicação direta.
Especialistas relacionam esse comportamento à busca por evitar conflitos diretos, mesmo que isso gere dúvidas e incertezas em quem foi deixado de lado. Com o crescimento dos encontros online, o ghosting tornou-se mais visível e passou a ser discutido como um fenômeno típico da cultura dos relacionamentos rápidos, marcada por uma grande oferta de conexões, pela lógica de descarte e pela dificuldade em alinhar expectativas afetivas de forma aberta.
Para aprofundar o tema, trouxemos o vídeo da especialista Ana Beatriz Barbosa:
@draanabeatriz11 O que é GHOSTING? #mentesempauta #mentes #batepapo #anabeatrizbarbosa #anabeatriz #autodesenvolvimento #autoconhecimento #averdadeliberta #alexrochapsicologo11 ♬ som original – Ana Beatriz Barbosa
Quais são os impactos emocionais do ghosting nas relações atuais
Uma revisão sistemática recente sobre ghosting em relacionamentos de adultos emergentes indica que esse padrão de desaparecimento envolve não apenas a evitação de conflitos, mas também dinâmicas ligadas a estilos de apego inseguros e dificuldades de regulação emocional. Entre as consequências, destacam-se aumento de ansiedade, sentimentos de rejeição e questionamentos intensos sobre o próprio valor (MORALES; FUENTES; FERNÁNDEZ-MARTÍNEZ, 2025).
Achados de estudos empíricos reforçam o forte impacto emocional do ghosting. Pesquisas recentes sugerem que quem é “ghosted” tende a experimentar emoções mais intensas e dolorosas do que quem pratica o ghosting, relatando níveis elevados de tristeza, sensação de injustiça, confusão sobre o que “deu errado” e até retração social, enquanto quem “ghosteia” costuma vivenciar alívio imediato, acompanhado em alguns casos de culpa ou arrependimento posterior.
Como identificar sinais de ghosting ainda nas fases iniciais do contato
Embora o sumiço pareça súbito, a pessoa que pratica ghosting em relacionamentos muitas vezes demonstra indícios de afastamento antes de cortar totalmente o contato. Um dos primeiros pontos observados está ligado aos planos futuros: quando há interesse em manter o vínculo, costuma surgir algum tipo de proposta consistente para se rever ou para manter a conexão ativa.
Outro indicador está na qualidade da atenção durante os encontros presenciais e nas mensagens do dia a dia. Distração constante com o celular, respostas monossilábicas, cancelamentos frequentes ou um desejo evidente de encerrar a saída rapidamente podem apontar para um interesse reduzido; nenhum desses sinais isolados prova que haverá desaparecimento, mas, em conjunto, ajudam a perceber um possível distanciamento emocional.
O que geralmente ocorre depois de uma atitude de ghosting
Os sinais mais claros do ghosting amoroso aparecem logo após o último encontro ou depois de uma conversa por mensagem que parecia ir bem. A partir desse ponto, podem surgir alguns comportamentos típicos que revelam um corte seco de contato e dificultam qualquer tipo de esclarecimento, fechamento emocional ou diálogo sobre expectativas.
Ao reconhecer esses padrões, torna-se mais fácil nomear a situação e compreender que não se trata apenas de falta de tempo ou distração, mas de uma forma específica de rompimento silencioso. Entre os comportamentos observados com frequência por profissionais da área, destacam-se:
- Demora crescente para responder, seguida de silêncio total.
- Interrupção abrupta de mensagens, sem justificativa ou aviso prévio.
- Encerramento de chamadas ou recusa em atender, mesmo após tentativas respeitosas.
- Sumiço em redes sociais, com bloqueio, retirada de acesso ou exclusão de conversas.

Quais atitudes podem ajudar a lidar com o ghosting de forma mais saudável
Ao perceber o padrão típico de ghosting, algumas estratégias podem ajudar a administrar a situação de forma mais saudável e preservar a autoestima. Entender que o desaparecimento fala mais sobre as dificuldades emocionais de quem some do que sobre o próprio valor é um passo importante para reduzir a autocrítica excessiva e reorganizar expectativas em relações futuras, evitando cair em ciclos de idealização.
Estudos empíricos sobre as experiências emocionais envolvidas no ghosting apontam que quem é “ghosted” relata com frequência maior tristeza, sensação de ameaça ao senso de controle, ao sentimento de pertencimento e à própria autoestima, quando comparado a quem interrompe o contato. Esses achados reforçam a importância de validar o sofrimento, buscar estratégias de autocuidado e desenvolver recursos de enfrentamento que favoreçam a reconstrução da confiança em si e nos vínculos futuros.
Quais práticas podem fortalecer limites pessoais e responsabilidade afetiva
Entre as recomendações frequentemente citadas por psicólogos estão atitudes que fortalecem limites pessoais e promovem vínculos mais transparentes, inclusive ao encerrar relações de forma respeitosa. Essas práticas ajudam a substituir o desaparecimento silencioso por diálogos mais claros, favorecendo uma cultura de responsabilidade afetiva no cotidiano relacional.
- Observar o cenário geral: considerar todo o histórico da interação, e não apenas um episódio isolado.
- Evitar insistência excessiva: após algumas tentativas de contato sem retorno, a repetição constante tende a prolongar o desconforto.
- Valorizar sinais de reciprocidade: dar mais espaço a vínculos em que o interesse é demonstrado de forma clara.
- Buscar apoio emocional: conversar com pessoas de confiança ou com profissionais de saúde mental pode auxiliar na reorganização das expectativas.
Também é comum que muitos passem a refletir sobre o próprio comportamento em relações futuras, escolhendo formas mais diretas e respeitosas de encerrar contatos quando percebem incompatibilidades. Essa mudança de postura contribui para relações afetivas mais transparentes, em que o diálogo ocupa o lugar do desaparecimento silencioso e a palavra-chave deixa de ser ghosting para dar espaço a acordos, limites claros e maior maturidade emocional.
Referências bibliográficas
MORALES, A.; FUENTES, E.; FERNÁNDEZ-MARTÍNEZ, I. A systematic review of ghosting as a relationship dissolution method in emerging adults’ relationships. Revista Latinoamericana de Psicología, 2025.
FREEDMAN, G. et al. Emotional experiences of ghosting. PubMed, 2024.








