O debate sobre a idade ideal para dar o primeiro celular a uma criança ganhou novo fôlego com a divulgação de um estudo recente publicado em 2025 na revista científica Pediatrics. A pesquisa indica que crianças que já têm smartphone aos 12 anos apresentam maior risco de falta de sono, obesidade e sintomas depressivos, especialmente quando o uso não é supervisionado e se estende até a noite, afetando a rotina e o equilíbrio entre atividades on-line e off-line.
Qual é a relação entre smartphone e saúde de crianças
A palavra-chave central desse debate é crianças com smartphone. Segundo o estudo, participantes de 12 anos que já eram donos de um celular apresentaram maior probabilidade de relatar sintomas depressivos, excesso de peso e sono insuficiente em comparação com aqueles que ainda não tinham o aparelho, sobretudo quando passavam muitas horas em redes sociais e jogos.
Os números apontam para um aumento de risco relevante, ainda que o estudo trabalhe com associações e não com uma relação de causa e efeito direta. Pesquisadores destacam que fatores como contexto familiar, supervisão, regras de uso e presença de outras telas em casa também influenciam os resultados observados.
Como o estudo sobre crianças e smartphones foi conduzido
O trabalho foi conduzido por pesquisadores de instituições norte-americanas, entre elas a Universidade da Pensilvânia, a Universidade da Califórnia em Berkeley e a Universidade Columbia. O grupo analisou dados de milhares de crianças e adolescentes acompanhados por vários anos, usando questionários, entrevistas com famílias e avaliações de sono, peso e bem-estar emocional.
A partir dessas informações, os cientistas buscaram entender se a posse de um smartphone em idades precoces poderia estar relacionada a efeitos negativos na saúde física e mental. Embora não prove causa, o estudo reforça a necessidade de orientação profissional de pediatras e psicólogos sobre limites de uso digital.
Quais dados foram considerados na análise científica
Os dados analisados foram extraídos de um grande projeto conhecido internacionalmente por acompanhar o desenvolvimento cerebral e comportamental na transição da infância para a adolescência. Foram considerados registros coletados entre 2016 e 2022, envolvendo crianças de 9 a 16 anos, com diferentes níveis de exposição a telas.
Nesse intervalo, os pesquisadores compararam grupos que já possuíam celular próprio e grupos que ainda não tinham o dispositivo, avaliando fatores como sono, peso corporal e indicadores de saúde mental. Também foram observados aspectos sociais, como tempo ao ar livre, convivência com amigos e dinâmica familiar.

Quais são os riscos associados ao uso de smartphone aos 12 anos
De acordo com os resultados, a posse de smartphone aos 12 anos se associou a um risco aproximadamente 1,3 vez maior de depressão, 1,4 vez maior de obesidade e 1,6 vez maior de sono insuficiente em comparação com aqueles sem aparelho na mesma idade. Esses efeitos parecem mais intensos quando não há regras claras de horário e conteúdo.
Além disso, houve um padrão observado ao longo das idades: a cada ano em que o celular era adquirido mais cedo, desde a primeira infância, aumentava a probabilidade de surgirem esses problemas de saúde na adolescência. Esse padrão reforça a recomendação de adiar o primeiro smartphone e priorizar um uso gradual e acompanhado.
Buscando explorar ainda mais esse tema, trouxemos o vídeo publicado no canal Mayra Gaiato | Desenvolvimento infantil e autismo, que já conta com mais de 80 mil visualizações, onde a psicóloga Mayra Gaiato traz os grandes problemas desse uso:
Crianças com smartphone mais cedo correm mais riscos
O estudo destacou que crianças com smartphone antes dos 12 anos tendem a apresentar um acréscimo de risco em torno de 10% por cada ano em que o aparelho foi recebido mais precocemente. Quanto mais cedo se inicia o uso frequente, maior a chance de alterações no sono, no humor e nos hábitos alimentares.
Isso significa que, em média, uma criança que ganhou o primeiro celular aos 9 anos, por exemplo, teria mais chances de enfrentar dificuldades de sono, alterações de peso e sintomas de depressão em comparação com outra que recebeu o aparelho mais tarde. Por isso, especialistas defendem decisões baseadas em maturidade emocional e não apenas em pressão social.
O que muda quando o adolescente ganha celular por volta dos 13 anos
Os pesquisadores também observaram um ponto específico na faixa etária dos 13 anos. Adolescentes que não tinham celular aos 12, mas passaram a ter o próprio aparelho ao longo do ano seguinte, mostraram piora em indicadores de sono e saúde mental em relação ao período anterior, principalmente quando o uso passou a ser intenso e sem supervisão.
Mesmo quando os cientistas controlaram fatores como condições prévias de saúde, o padrão de associação se manteve. Essa análise reforça uma hipótese discutida há alguns anos em estudos internacionais: o uso intenso de telas pode estar ligado a mudanças na rotina de sono, redução da atividade física e maior exposição a conteúdos estressantes ou inadequados.
Qual é o impacto do tipo de uso e da qualidade do conteúdo digital
Revisões científicas já apontaram que não se trata apenas da quantidade de horas na frente da tela, mas também da qualidade do uso, do tipo de conteúdo acessado e da forma como as interações acontecem no ambiente digital. Crianças que usam o celular para aprender, criar e se comunicar com segurança tendem a ter menos risco que aquelas com uso passivo e desregulado.
Aspectos como exposição a cyberbullying, comparação social em redes, vídeos violentos ou inadequados e falta de pausas podem intensificar os impactos negativos. Por isso, orientar as crianças sobre segurança digital e senso crítico frente aos conteúdos se torna parte essencial do cuidado.

Como reduzir os impactos do uso de celular por crianças
Especialistas em saúde infantil e adolescência sugerem que a discussão não se resume a proibir ou permitir o celular, mas a estabelecer critérios claros para o momento em que a criança passa a ter um smartphone próprio. Diante das evidências de risco, muitas recomendações caminham no sentido de adiar ao máximo a entrega do primeiro aparelho e criar regras firmes de uso.
- Definir idade mínima aproximada para o primeiro celular, considerando maturidade emocional e necessidade real de comunicação.
- Controlar o uso noturno, evitando o aparelho dentro do quarto na hora de dormir, para preservar a qualidade do sono.
- Estabelecer horários e limites diários para o tempo de tela, incluindo redes sociais, jogos e vídeos.
- Acompanhar o conteúdo acessado, com diálogo frequente sobre o que a criança vê, com quem interage e como se sente.
- Incentivar atividades fora das telas, como esportes, leitura, hobbies e convivência presencial com amigos e familiares.
Quais alternativas existem ao primeiro smartphone completo
Na prática, famílias que optam por postergar o primeiro smartphone costumam recorrer a alternativas intermediárias. Entre elas estão celulares simples apenas para ligações e mensagens, relógios inteligentes com funções limitadas e o uso supervisionado de aparelhos dos responsáveis.
Em paralelo, cresce a orientação para que escolas, serviços de saúde e responsáveis conversem de forma conjunta sobre o tema, avaliando caso a caso se a criança está preparada para lidar com as demandas de um aparelho conectado à internet. Essa abordagem integrada ajuda a promover uso responsável e gradual da tecnologia.
Quais pontos os pais devem observar antes de dar um smartphone
Diante das evidências de que crianças com smartphone precoce podem enfrentar mais riscos, algumas perguntas costumam ajudar responsáveis a refletir sobre o momento certo de dar o primeiro aparelho. Esses critérios não substituem a avaliação individual, mas servem como guia inicial para decisões mais conscientes.
- Há uma necessidade real de contato? A criança precisa do celular para se deslocar sozinha, falar com responsáveis ou organizar atividades escolares?
- Como está o sono? Já existem dificuldades para dormir, acordar descansado ou manter uma rotina noturna regular?
- Como é a rotina de atividades físicas? A criança pratica esportes ou brincadeiras ativas com frequência adequada para a idade?
- Há histórico de sintomas emocionais? Tristeza persistente, irritabilidade intensa, isolamento ou mudanças bruscas de humor já estão presentes?
- Existe disponibilidade para supervisão? Os responsáveis têm condições de acompanhar o uso, conversar sobre conteúdos e estabelecer limites claros?
Ao mesmo tempo em que os celulares ampliam a comunicação e o acesso à informação, estudos recentes reforçam a importância de olhar com atenção para o impacto desses dispositivos na saúde de crianças e adolescentes. O equilíbrio entre conectividade e bem-estar tende a depender menos do aparelho em si e mais de quando ele é oferecido, de como é utilizado e de quais apoios estão disponíveis no ambiente familiar, escolar e de saúde.








