Ao longo da história do Sistema Solar, eventos cósmicos de grande escala moldaram não apenas a trajetória dos planetas, mas também o ambiente da Terra. Um dos fenômenos que desperta interesse entre astrônomos e geólogos é a passagem de estrelas próximas, conhecidas como stellar flybys. A questão central é se essas aproximações estelares teriam sido capazes de alterar a órbita da Terra e, consequentemente, provocar mudanças climáticas significativas em nosso planeta.
Embora o Sistema Solar pareça estável à primeira vista, ele está em constante movimento, sujeito a influências gravitacionais de objetos vizinhos na galáxia. A ideia de que estrelas que passam próximas poderiam afetar a dinâmica planetária e até mesmo desencadear eventos climáticos extremos, como o Máximo Térmico do Paleoceno-Eoceno (PETM), tem sido objeto de debate científico nas últimas décadas.
O que são stellar flybys e como ocorrem?
Stellar flybys são eventos em que uma estrela passa suficientemente perto do Sistema Solar para exercer influência gravitacional sobre seus componentes. Essas passagens podem ocorrer a cada milhões de anos, dependendo da densidade estelar da região da Via Láctea em que o Sol se encontra. Em áreas mais povoadas da galáxia, esses encontros são mais frequentes, mas mesmo em nossa vizinhança relativamente tranquila, já foram registrados episódios notáveis, como a passagem da estrela de Scholz há cerca de 70 mil anos.
Durante um stellar flyby, a gravidade da estrela visitante pode afetar corpos distantes, como os cometas da Nuvem de Oort, potencialmente lançando alguns em direção ao interior do Sistema Solar. No entanto, o impacto sobre os planetas, especialmente a Terra, depende de uma série de fatores, incluindo a massa da estrela, sua velocidade e a distância mínima da aproximação.
Stellar flybys podem alterar o clima da Terra?
A hipótese de que estrelas próximas poderiam ter desencadeado mudanças climáticas profundas, como o PETM, ganhou força após estudos sugerirem que perturbações orbitais causadas por esses eventos poderiam modificar a quantidade de energia solar recebida pela Terra. O PETM, ocorrido há cerca de 56 milhões de anos, foi marcado por um aumento global de temperatura entre 5 e 8°C e alterações drásticas na fauna e flora.
Pesquisas recentes, porém, têm questionado essa relação direta. Modelos computacionais avançados, que simulam o comportamento do Sistema Solar com todos os seus componentes — incluindo a influência estabilizadora da Lua —, indicam que as passagens estelares não tiveram efeito significativo sobre a órbita terrestre ou sobre as reconstruções paleoclimáticas dos últimos 56 milhões de anos. Esses resultados sugerem que outros fatores, como atividade vulcânica ou liberação de gases estufa, podem ter sido mais determinantes para eventos como o PETM.

Quais as evidências científicas sobre o impacto das estrelas próximas?
Para investigar o papel dos stellar flybys, cientistas utilizam simulações de alta precisão que consideram diferentes cenários de aproximação estelar. Um estudo recente realizou centenas de simulações, totalizando cerca de 1.800 passagens de estrelas, com parâmetros variados de massa, velocidade e distância. Os resultados apontaram que, mesmo em casos de aproximações extremas, não houve alterações relevantes na órbita da Terra capazes de explicar mudanças climáticas históricas.
- Modelos completos: A inclusão de todos os corpos celestes relevantes, como a Lua e os planetas gigantes, é fundamental para obter resultados confiáveis.
- Comparação com estudos anteriores: Pesquisas que utilizaram modelos simplificados, sem considerar todos os fatores, chegaram a conclusões diferentes, reforçando a importância de abordagens mais abrangentes.
- Futuras aproximações: Estima-se que a estrela Gliese 710 passará relativamente perto do Sistema Solar em cerca de 1,29 milhão de anos, podendo afetar a Nuvem de Oort, mas sem previsão de impacto direto sobre o clima terrestre.
O que esperar dos próximos encontros estelares?
Embora o risco de uma estrela próxima alterar drasticamente o clima da Terra seja considerado baixo com base nas evidências atuais, o estudo desses eventos permanece relevante. O avanço das simulações e a compreensão mais detalhada da dinâmica do Sistema Solar permitem prever com maior precisão os efeitos de futuras aproximações, como a de Gliese 710. A expectativa é que, mesmo nesses casos, o impacto se limite ao envio de cometas para as regiões internas do Sistema Solar, sem consequências diretas para a órbita ou o clima do nosso planeta.
O entendimento sobre stellar flybys e seu papel na história da Terra continua evoluindo, impulsionado por novas tecnologias e modelos científicos cada vez mais sofisticados. A pesquisa nessa área contribui para ampliar o conhecimento sobre a interação entre o Sistema Solar e o ambiente galáctico, além de ajudar a desvendar os fatores que moldaram o clima e a vida em nosso planeta ao longo de milhões de anos.









